Este vídeo slam faz parte da série antirracista do RioOnWatch. Especialmente neste mês, que celebramos a Consciência Negra, convidamos você a conhecer o nosso projeto que traz conteúdos midiáticos semanais ao longo de 2021—Enraizando o Antirracismo nas Favelas: Desconstruindo Narrativas Sociais sobre Racismo no Rio de Janeiro.
Pútria é um vídeo slam, um vídeo-arte monólogo com proclamação do poema de mesmo nome, recitado pelo próprio autor, Marcos Vinicios. O poema Pútria aborda de forma crítica reflexos e consequências do racismo estrutural e de políticas públicas higienistas voltadas para a população preta e favelada. É baseado na jornada e na vivência do autor—homem, jovem, negro e morador de favela—que o poema traz questões sociais crônicas vividas por moradores de favela, como o abandono paterno e a violência policial. O vídeo expõe de forma significativa temáticas contemporâneas vivenciadas por jovens negros moradores de periferia, assumindo a forma de relato poético, na estrutura popularizada pelos slams, que nas últimas décadas tomaram as periferias e favelas do mundo.
Marcos Vinicios, o autor e intérprete do poema, e Saulo Nicolai, idealizador e diretor do vídeo slam, cresceram juntos no Morro do Fogueteiro, na Zona Central do Rio, que, como lembram, era uma favela considerada perigosa durante os anos de infância de ambos, nas décadas de 1990 e 2000. Marcos e Saulo foram crianças que sobreviveram desde abusos por parte do poder público à coação por parte dos poderes locais. Foram constantemente colocados em uma posição de fazer escolhas difíceis de vida. Através da arte, anos depois, os dois jovens adultos se reencontraram e iniciaram parcerias voltadas para a expressão artística independente, através dos recursos disponíveis.
Vídeo Slam: Pútria é um trabalho que utiliza a linguagem e estética do movimento dos slams das favelas ao redor do país, utilizando os meios disponíveis para transmitir a realidade habitual e cultural de seus territórios.
Transcrição da Poesia ‘Pútria’:
Pútria, por Marcos Vinicios
Basta de abastados pois não consigo mais olhar para esse quadros
Que são pintados com sangue vermelho de peles negras
E faz com que eu esqueça a bondade no coração
O que toma conta é o ódio
Me sinto sempre o último do pódio
E me faz crer que todo corre foi em vão
Toda luta
Muito luto
Toda vez que acordei cedo pra labuta
Filhos de Ustra, querem me ver na ostra e na bolha
Consulta lá no Datafolha, fica mais fácil de matar
Mas com eles tá “tranquilão”
Não vai sair no Extra nem na Folha
É só uma estatística a somar
E você, cadê? Sumiu!
Pátria que pariu
Filho do Brasil
Puta que ficou e o puto que partiu
E um “menó” deixou
“Back to back” “ô” black
Mas pra eles tanto faz tipo Tim Maia foi e não voltou nunca mais
E anulou seu futuro
Suturo a ferida quando cada um de nós parte
Eu quero que a paz se torne nossa realidade.
Assista o Videoslam Aqui.
Sobre o diretor: Saulo Nicolai é cria do Morro do Fogueteiro, artista visual e ativista social, formado em direção cinematográfica pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Como fotógrafo já teve trabalhos exibidos em galerias de Nova Iorque, no Museu Lasar Segall, em São Paulo, e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 2016 e 2019. Como cineasta recebeu o primeiro prêmio aos 12 anos, roteirizando o curta-metragem Qual É?: Uma Aventura no Morro dos Prazeres. É integrante do coletivo Favelagrafia, e vencedor de dois Leões de Bronze, em 2017, no International Festival of Creativity do Festival Cannes Lion, nas categorias entretenimento e design.
Sobre o slamer: Marcos Vinicios de Souza é cria do Morro do Fogueteiro, dançarino, fotógrafo, filmmaker, produtor e ator. Iniciou sua trajetória artística aos 15 anos com a dança. No audiovisual participou da CriaAtivo Film School, permeando diversas formas de expressar e tem buscado registrar e contar a sua história e a dos que o cercam.
Esta matéria faz parte da série antirracista do RioOnWatch. Conheça o nosso projeto que traz conteúdos midiáticos semanais ao longo de 2021—Enraizando o Antirracismo nas Favelas: Desconstruindo Narrativas Sociais sobre Racismo no Rio de Janeiro.