Brasileiros Estão Mais Preocupados com as Mudanças Climáticas do que EUA ou Irlanda, em Todos os Estratos Políticos e Socioeconômicos, Segundo Relatório

COMEMORANDO A SEMANA DO MEIO AMBIENTE NO RIOONWATCH

Floresta Amazônica em chamas perto do Rio Branco, em Porto Velho, Rondônia. Foto: Christian Braga/Greenpeace
Floresta Amazônica em chamas perto do Rio Branco, em Porto Velho, Rondônia. Foto: Christian Braga/Greenpeace

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Em 9 de março de 2022, o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), em parceria com o Programa de Comunicação sobre Mudanças Climáticas de Yale e o Ipec Inteligência, organizou um evento online para divulgar os resultados da segunda edição do relatório Mudanças Climáticas na Percepção dos Brasileiros. O evento é o segundo de uma série que começou no ano passado. É resultado de uma análise quantitativa conjunta realizada pelos três institutos, envolvendo 2.600 entrevistas.

Relatório de pesquisa “Mudanças Climáticas na Percepção dos Brasileiros”

O relatório mostra que 90% dos brasileiros estão tão preocupados com as mudanças climáticas que começaram a tomar atitudes favoráveis ​​ao clima e querem que o governo implemente políticas mais verdes: o público espera que as autoridades incluam considerações ambientais em suas agendas políticas. A expectativa é que as considerações sobre mudanças climáticas tenham um impacto maior nas eleições este ano do que no passado.

A discussão foi moderada por Fabro Steibel, diretor executivo do ITS. Os painelistas foram Rosi Rosendo, diretora de inteligência e insights do IPEC; Sérgio Abranches, sociólogo, escritor e comentarista político da rede nacional da Rádio CBN; e Anthony Leiserowitz, diretor do Programa de Comunicação sobre Mudanças Climáticas de Yale. Eles foram convidados a apresentar os resultados, contextualiza-los e compará-los com as percepções das mudanças climáticas dos cidadãos da Irlanda e dos Estados Unidos.

Fabro Steibel, do ITS; Rosi Rosendo, do IPEC; Sérgio Abranches, da CBN; e Anthony Leiserowitz, diretor do Programa de Comunicação sobre Mudanças Climáticas de Yale.

Rosi aprofundou-se nos dados, mostrando que o aquecimento global é uma preocupação de todas as classes sociais, níveis educacionais e opiniões políticas em todo o Brasil. Ela explicou como o crescente acesso à mídia digital tem sido importante para aumentar a conscientização sobre as mudanças climáticas entre os brasileiros. 66% obtêm informações por meio de grupos de mídia e WhatsApp. No entanto, apesar de 81% considerarem as mudanças climáticas importantes, apenas 21% dos entrevistados declararam ter conhecimento suficiente sobre o tema. Sobre este assunto, Rosi apresentou dados sobre como a educação, a idade e a ideologia política influenciam os níveis de consciência dos cidadãos. Em geral, indivíduos mais jovens e educados de centro-esquerda são mais informados sobre as mudanças climáticas em comparação com os entrevistados de centro-direita.

Os participantes da pesquisa acharam importante reconhecer as mudanças climáticas como um consenso e um fato. Entre os brasileiros, 96% acreditam que o aquecimento global está de fato acontecendo e 77% concordam que a atividade humana está causando as mudanças climáticas, enquanto apenas 11% o vêem como um processo natural. 90% acreditam que as mudanças climáticas afetarão as gerações futuras e 75% afirmam que as mudanças climáticas terão impacto direto na vida deles e de suas famílias.

Entre os brasileiros, 96% acreditam que o aquecimento global está acontecendo, 77% concordam que a atividade humana está induzindo as mudanças climáticas, enquanto apenas 11% o veem como um processo natural da Terra.

Entre os brasileiros, 37% acreditam que o governo deve agir contra as mudanças climáticas, seguidos por 32% que acham que devemos contar com o setor privado e 24% que dizem que os cidadãos são responsáveis. 45% dos entrevistados já votaram em políticos com base em suas propostas de defesa do meio ambiente. Isso implica que as considerações ambientais nas agendas políticas serão relevantes nas próximas eleições.

Entre os brasileiros, 37% acreditam que o governo deve agir contra as mudanças climáticas, 32% acham que devemos contar com o setor privado e 24% com os cidadãos.

Em seguida, Abranches refletiu sobre como os resultados podem ser contextualizados na sociedade brasileira. Ele mostrou como as mudanças climáticas provam ser um catalisador para a fluidez social. Abranches destacou:

“Apesar de os brasileiros estarem cientes das mudanças climáticas, eles não sabem muito sobre isso. As pessoas não precisam ser convencidas das mudanças climáticas. Pelo contrário, a sociedade agora precisa de orientação de seus líderes sobre como enfrentar esse problema já conhecido.”

45% dos brasileiros já votaram em candidatos por causa de suas propostas de defesa do meio ambiente.

Embora a sociedade brasileira tenha sido historicamente dividida, as preocupações ambientais parecem estar distribuídas uniformemente entre todas as classes sociais. Segundo a pesquisa, diz Abranches, 90% se preocupam com os impactos do aquecimento global nas gerações futuras e 77% preferem priorizar o meio ambiente à rentabilidade econômica, enquanto apenas 13% escolheram o contrário. Esta visão é semelhante a das sociedades europeias. A inflação, a estabilidade econômica e as políticas públicas em outras áreas ainda serão importantes, é claro, mas o meio ambiente será uma consideração importante para candidatos bem-sucedidos em todo o espectro político.

Entre os brasileiros, 77% preferem priorizar o meio ambiente à rentabilidade econômica, enquanto apenas 13% escolheram o contrário.

Por fim, Leiserowitz compara as percepções sobre as mudanças climáticas entre três países diferentes: Brasil, Irlanda e Estados Unidos. De acordo com os dados, o Brasil parece estar mais preocupado com as mudanças climáticas do que os outros dois países. Por exemplo, enquanto 96% no Brasil e na Irlanda acreditam que as mudanças climáticas estão acontecendo, apenas 76% nos EUA acreditam que sim. Além disso, 61% dos brasileiros estão preocupados com o aquecimento global em comparação com 37% na Irlanda e 35% nos EUA. No Brasil, 75% acham que experimentarão pessoalmente as consequências das mudanças climáticas, em comparação com 21% nos EUA e 16% na Irlanda.

No Brasil, 75% acham que experimentarão pessoalmente as consequências das mudanças climáticas, em comparação com 21% nos EUA e 16% na Irlanda.

À luz dos resultados, Leiserowitz argumentou que as preocupações com as mudanças climáticas estão homogeneamente espalhadas entre a população brasileira, ao contrário dos contextos irlandês e estadunidense, onde as preocupações com as mudanças climáticas seguem a polarização do sistema político. Leiserowitz também destacou a divisão global Norte-Sul por trás das diferentes percepções das mudanças climáticas. De fato, a maioria dos entrevistados dos EUA e da Irlanda vê as mudanças climáticas como algo não próximo deles, cujos efeitos são proeminentes em outros países da África e da América Latina. Por outro lado, os brasileiros, em média, são mais vulneráveis ​​aos efeitos do aquecimento global e, como tal, estão mais preocupados em enfatizar a importância das considerações ambientais na agenda política nacional e internacional. Essa diferença reflete um padrão de injustiça climática, onde diferentes populações são afetadas de forma desigual pelas mudanças climáticas.

Anthony Leiserowitz, diretor do Programa de Comunicação sobre Mudanças Climáticas de Yale, apresenta as percepções de que o aquecimento global será pessoalmente danoso de forma comparada entre Brasil, EUA e Irlanda.
Anthony Leiserowitz, diretor do Programa de Comunicação sobre Mudanças Climáticas de Yale, apresenta as percepções de que o aquecimento global será pessoalmente danoso de forma comparada entre Brasil, EUA e Irlanda.

As pessoas passaram a realizar ações individuais, como separar recicláveis, adotada por 75% dos brasileiros ouvidos no estudo.

Em poucas palavras, os palestrantes concordaram que as considerações sobre mudanças climáticas estão se tornando mais proeminentes na sociedade brasileira em todos os níveis. As pessoas passaram a realizar ações individuais como separar o lixo para reciclagem, adotada por 75% dos brasileiros ouvidos no estudo, e consumir menos ou evitar o uso de produtos nocivos ao meio ambiente, como afirmaram 58%. Os participantes do painel concluíram que os futuros governos de todas as ideologias precisarão se adaptar a essa nova demanda com a sensibilidade e velocidade necessárias ou não governarão.

Assista ao evento online “Mudanças Climáticas na Percepção dos Brasileiros” Aqui:


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