Neste Dia da Consciência Negra, Assista: ‘A Visão de Deputadas Negras do Estado do Rio sobre Raça, Gênero e Favela nos Parlamentos’ [VÍDEO]

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No Dia da Consciência Negra, esta videorreportagem visa ser um documento histórico onde três mulheres negras em cargos de liderança da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), ponderam sobre raça, classe, gênero, território e o legado da atuação de mulheres negras para a política fluminense. São elas as deputadas estaduais Renata Souza (cria do Complexo da Maré), Dani Monteiro (do São Carlos), e a primeira parlamentar transexual Dani Balbi (do Engenho da Rainha).

Deputada Estadual Renata Souza
Deputada Estadual Renata Souza

A estrutura social brasileira é marcada por profundas desigualdades, que atingem em cheio as populações representadas pelas três parlamentares ouvidas nesta videorreportagem. Dentre estes processos sociais, que vitimam e subjugam essa parcela da sociedade, estão, sobretudo, o racismo e o sexismo, que se juntam ao instrumentalizar a opressão especificamente voltada para mulheres negras—o maior grupo populacional do país, 28% de todo o Brasil. Além disso, opera também o estigma quanto aos territórios de favela e a cisheteronormatividade, que, historicamente, restringem oportunidades e são resquícios da colonialidade. Essas características do tecido social fluminense aparecem frequentemente como entrave para o exercício de um projeto democrático pleno, que garanta a dignidade para todas e todos. Em uma sociedade com essas características, torna-se fundamental que a arena política trabalhe para garantir valores republicanos e democráticos, sobretudo, através da representatividade e da proteção de direitos sociais.

“O olhar da mulher negra para a política é fundamental, faz toda a diferença. Observar o quanto que as mulheres negras que puderam estar nos espaços de poder têm feito grande diferença na formulação de políticas públicas… isso impacta diretamente a democracia brasileira… Isso é um avanço na nossa luta política de superação de todos os resquícios com relação à escravização do povo preto… O primeiro desafio é entender que favela é cidade. Na verdade, é ela que produz a riqueza da cidade, a riqueza territorial.” — Renata Souza

Deputada Estadual Dani Monteiro
Deputada Estadual Dani Monteiro

Em vista disso, o objetivo deste minidocumentário é apresentar uma perspectiva transversal sobre os temas de raça, classe, gênero e território, a partir do ponto de vista de parlamentares negras crias de favelas e periferias. Elas foram convidadas a refletir sobre as barreiras no fazer diário da política que encontram na ALERJ. Além disso, ponderam sobre como é fazer política pública focada nestas populações e em seus locais de moradia, como as favelas.

“Esse é o desafio de fazer política pública para a favela aqui no nosso estado, pois há um plano de extermínio em curso. O genocídio da nossa população, que vai tanto através do seu braço armado, o extermínio direto de meninos e homens negros, mas há toda a cadeia do epistemicídio, inclusive acadêmico, da não-participação e da não-inclusão social… A nossa não-participação exemplifica como na nossa democracia, diversas vozes são silenciadas, enquanto algumas outras são amplificadas… Justamente a não-participação nas tomadas de decisão, essa marginalização da população negra, especialmente das mulheres negras, causa muros. A democracia no Brasil tem muros que a separa de seu próprio povo… Então, muitas vezes, vários problemas que nos são cotidianos não são enxergados.” — Dani Monteiro

Deputada Estadual Dani Balbi
Deputada Estadual Dani Balbi

Outro ponto levantado pelas deputadas é que seus mandatos acabam se tornando espaços de escuta e de acolhimento para os estruturalmente marginalizados e excluídos pela sociedade.

“Os espaços de poder são muito hostis, principalmente para mulheres, negras, trans, pobres… O poder é feito para que nos sintamos ‘alijadas’… Isso exige de nós, legisladoras do campo popular e democrático com marcadores sociais muito evidentes, mais firmeza e mais trabalho. A gente precisa fiscalizar mais, conhecer mais o poder público, o funcionamento desta casa [ALERJ] e do Poder Executivo. Precisa estar em mais diligências, nas ruas acompanhando. E a gente precisa, por conta da responsabilidade, se configurar como espaço de acolhimento de muitas demandas, já que o poder público vira as costas para essas demandas, para essas necessidades.” — Dani Balbi

Além da importância destas atividades, elas também deixaram evidente que têm propostas de políticas públicas para vários setores, que beneficiariam a sociedade fluminense como um todo. Mulheres negras na política oferecem soluções para problemas de ordem social, política e econômica—crises que o estado do Rio enfrenta há décadas. Como Dani Monteiro ressalta, há séculos, mulheres negras oferecem remédios que alavancam o desenvolvimento do Brasil.

“Considerando que contribuímos ativamente com a organização do trabalho na nossa sociedade, com o cuidado coletivo, seja o familiar ou o comunitário… gostaria de exaltar a história de nossas ancestrais! Se hoje temos um estado do Rio de Janeiro, se temos a estrutura dinâmica que hoje vigora, a contribuição das mulheres negras é enorme! Seja para a dinâmica de produção de Brasil ainda no período colonial escravista, então, parte da nossa cultura alimentar, do nosso cuidado com a saúde, vem das nossas curandeiras, das nossas cozinheiras, mas também do ponto de vista da contribuição, do papel social que nós cumprimos. É nítido o quanto que as mulheres negras contribuíram ativamente para a produção do Rio de Janeiro”. — Dani Monteiro

Logo, ninguém melhor do que as mulheres negras para pensar, a partir de um projeto democrático de Estado, em soluções que contornem situações difíceis e adversas, como as crises econômica, social e política que o Rio de Janeiro enfrenta. Afinal de contas, a mulher negra é o motor da economia fluminense, a maior parte da população do estado e quem, em geral, constrói estratégias de sobrevivência individuais e coletivas em meio às crises. Assim sendo, muito provavelmente, a resolução de problemas históricos perpetrados e perpetuados por governos e parlamentos masculinos, brancos e cisheteronormativos virá da atuação parlamentar e social de mulheres negras.

Assista à Videorreportagem Aqui.

Ex-Deputada Estadual Mônica Francisco e Deputada Estadual Dani Monteiro
Ex-Deputada Estadual Mônica Francisco e Deputada Estadual Dani Monteiro

Sobre o autor: Felipe Bellido é doutor em Ciência Política, atuou como pesquisador na PUC-Rio e como pesquisador-visitante na University of Illinois at Urbana-Champaign. É voluntário na Educafro, Fellow do Instituto Identidades do Brasil e membro da comunidade ForbesBLK. Atualmente é analista de DE&I (Diversidade, Equidade e Inclusão).

Sobre a produtora e editora: Janine Miranda, moradora de Nova Iguaçu, é professora de linguagens e trabalha com o audiovisual e fotografia.


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