Vila Laboriaux, com a impressionante vista de São Conrado de um lado e da Lagoa Rodrigo de Freitas no outro, situa-se no alto da Rocinha, a maior favela do Rio de Janeiro. A comunidade que fica entre a tranquila floresta e a movimentada Estrada da Gávea está unindo-se a um número crescente de comunidades que utilizam o auto-planejamento para resolver os problemas em seus próprios termos. No domingo, dia 4 de agosto, cerca de 100 moradores se reuniram no campo de futebol local para iniciar a elaboração de um documento para delinear os potenciais e os desafios de sua comunidade. Moradores da comunidade têm lutado contra a ameaça de remoção, desde que alguns de seus vizinhos sofreram com um deslizamento em 2010, mas recentemente a comunidade recebeu a visita do Prefeito Eduardo Paes e agora a região está incluída na mais recente rodada de investimentos previstos do PAC.
A iniciativa contou com o apoio do Favela Verde e do Instituto Dois ou Mais e foi organizada pelo grupo Movimento Preserva Laboriaux, que nasceu durante a Rio+20, no ano passado, com o objetivo de capacitar os moradores para discutir e trabalhar juntos nas questões comunitárias. Como Eva Vilaseca, uma facilitadora, explicou aos moradores: “vamos saber o que há de bom e de ruim na área”. Para muitos, tornou-se necessário enfrentar estas questões: “nós falamos com a CEDAE que precisamos de um sistema de esgoto, mas não tivemos resposta. Eu me identifico com o projeto porque nós mesmo podemos fazer alguma coisa”, explicou o morador Leonardo Gomes.
O evento representou a primeira de uma série de três etapas: o Diagnóstico Sócio-Ambiental. Durante o dia, os moradores compilaram uma lista dos pontos fortes e fracos do Laboriaux, responderam a questionários e criaram um mapa da área. As crianças também fizeram sua parte, plantando flores e pintando faixas com mensagens sobre a sustentabilidade. A segunda etapa será um Plano de Ação, e em seguida a implementação. Os moradores usarão o Plano de Ação para alavancar publicidade e financiamento de ONGs e do governo local.
Uma preocupação recorrente que emergiu foi a proteção do meio ambiente local. Laboriaux está localizado perto da fonte de água, a qual está ligada a um tubo que fornece a água potável para os moradores. No entanto, muitos têm descartado resíduos no córrego, incluindo sofás, televisores, fogões e geladeiras. Recentemente, o movimento Preserva Laboriaux mobilizou os moradores para a limpeza do córrego. No entanto, esta não é uma solução de longo prazo. Para resolver este problema, os moradores sugeriram a instalação de equipamentos para separar o lixo da reciclagem, bem como o fornecimento de mais lixeiras na área. Outras questões que surgiram ao longo do dia incluíram a necessidade de esterilizar os animais locais, a falta de iluminação pública, e, como no resto da Rocinha, problemas de saneamento. Como a moradora Camila Gomes Cardoso, de 31 anos, resumiu: “O meu filho tem quatro anos, eu quero que ele viva num lugar bom e verde quando ele crescer”.
Além das melhorias necessárias, os moradores também listaram muitas qualidades da comunidade, incluindo a paisagem natural, o ambiente familiar, a tranquilidade e a água fresca e potável. Este projeto capacita moradores para trabalhar de forma colaborativa para conservar seu ambiente natural, mas também buscar melhorias urbanas onde for necessário. Com um alto grau de participação e a atmosfera otimista, os participantes deixaram a sensação de que os moradores da Vila Laboriaux estão empenhados em tomar o futuro nas suas próprias mãos e trazer mudanças positivas para a sua comunidade.
O co-organizador Gabriel Voto estava muito satisfeito com os resultados do evento, o que atribuiu à dedicação do grupo no planejamento participativo: “Hoje felizmente conseguimos alinhar as expectativas e percepções de diferentes grupos sociais do local através de metodologias participativas diversas”. Ele sentiu que esse era um primeiro passo ideal num processo que, como ele explica, “demanda uma ampla desconstrução previa de visões e preconceitos e posteriormente a ambientação e sintonia junto a realidade local. Somente dessa forma seremos capazes de gerar um processo de longo prazo com ampla aceitação e viabilidade”.