Este artigo faz parte de uma série de perfis de iniciativas integrantes da Rede Favela Sustentável.
Iniciativa: Projeto Inclusão
Contato: Facebook | Instagram | WhatsApp +55 (21) 964686394 e 976688714
Ano de Fundação: 2014
Comunidade: Éden, São João de Meriti
Missão: Transformar vidas através do amor ao próximo, educação, esporte e cultura.
Eventos Públicos: Há uma variedade de atividades abertas ao público, como feiras de artesanato e mutirões de coleta de lixo que promovem uma comunidade limpa, sustentável e a preservação do meio ambiente. O projeto também celebra animadas festas juninas. Informações são divulgadas pelo perfil da instituição no Instagram e por grupos de WhatsApp comunitários dos quais faz parte.
Como Contribuir: Doe o seu tempo por meio de trabalho voluntário, contribua com materiais e bens de necessidade específica (como lanches para as crianças, biscoitos, material escolar e outros) ou faça doações em dinheiro.
Escondida numa rua lateral da comunidade do Éden, uma casinha azul-turquesa acolhedora, com um pequeno quintal, abriga o Projeto Inclusão. Um quadro fixado à parede destaca a variedade de atividades e recursos oferecidos à comunidade: de xadrez à poesia, de literatura ao futebol. Entre as atividades estão o atendimento terapêutico, com psicólogo, neuropsicopedagoga e fonoaudióloga para as pessoas da comunidade, auxiliando na aprendizagem, traumas e vivências. Em parceria com a Gerando Falcões oferecem empregabilidade e renda com cursos para a comunidade. Muitas famílias desse bairro de São João de Meriti, município da Baixada Fluminense, conseguem arcar apenas com o básico para suprir suas necessidades fundamentais. Por meio de parcerias com outras organizações, instituições e apoiadores privados, o Projeto Inclusão atua para preencher essas lacunas, oferecendo acesso, acolhimento e oportunidades à comunidade.
Como Tudo Começou: Origens e Filosofia Pedagógica

O Projeto Inclusão vem fortalecendo e ampliando a sociabilidade, o autoconhecimento e a autonomia dos moradores do Éden desde 2014. Atuando em defesa da equidade, em especial para crianças e jovens, a iniciativa desenvolve maneiras criativas e inteligentes de promover a educação e fomentar o conhecimento na comunidade.
“É um espaço onde [os moradores] podem entrar, vir e ficar… se sentem em casa. O propósito é esse mesmo, eles se sentirem em casa, mesmo, acolhidos de verdade.” — Élida Nascimento
Fundado pela pedagoga Élida Nascimento e seu marido, Marcos Antônio Júnior, o Projeto Inclusão sempre teve a educação como eixo principal. Na época em que trabalhava em uma escola, Élida percebeu que muitos de seus alunos enfrentavam dificuldades no aprendizado—alguns, inclusive, já haviam repetido várias séries ainda muito pequenos. A falta de motivação e de alegria das crianças no ato de aprender era o que deixava Élida mais aflita. Foi sua busca pelas causas mais profundas desses desafios que deu origem ao Projeto Inclusão.
A princípio, Élida e Marcos não tinham a intenção de fundar uma instituição. A ideia foi ganhando forma à medida que percebiam que o reforço educacional não formal conduzia a melhores resultados escolares, mais alegria no aprendizado e transformações sociais. O que começou como uma pequena iniciativa para ajudar um grupo de dez crianças cresceu rapidamente, com outro grupo surgindo logo em seguida.
Desde o primeiro curso, em 2014, voltado à alfabetização de dez crianças, Élida se empenha em adotar uma abordagem diferente dos métodos tradicionais da educação formal. Um dos pilares da metodologia do Projeto Inclusão é criar conteúdos a partir das vivências das crianças e destacar as conexões entre os temas curriculares e sua relevância no cotidiano dos alunos. A proposta também enfatiza o reconhecimento e o desenvolvimento do que Élida chama de “inteligências múltiplas”, incentivando as crianças a descobrirem suas próprias habilidades e talentos, em vez de se compararem constantemente com os outros.

A educação e o conhecimento são apresentados aos participantes de forma leve e envolvente, muitas vezes incorporando brincadeiras, livros de histórias, música e esportes. Assim, os cursos oferecidos pelo Projeto Inclusão têm um impacto maior do que pode parecer à primeira vista. Os participantes vão desenvolvendo autoconfiança, respeito e amor-próprio de maneira sutil. Além disso, aprendem a valorizar os laços comunitários e a reconhecer a importância de recursos intangíveis, como a saúde e a educação.
“No nosso país a gente perde muito por falta de informação mesmo, de conhecimento… falta muita informação. Por mais que a gente tenha todo esse acesso à internet hoje, a informação não chega com clareza para as pessoas. E isso dificulta muito.” — Élida Nascimento
Acesso, Dignidade e Pertencimento

Uma rápida olhada pelo perfil da organização no Instagram mostra quanta reflexão, cuidado e consciência inspiram as atividades. As oficinas de leitura, por exemplo, estimulam a empatia, convidando as crianças a se colocarem no lugar do outro, vivenciando realidades diferentes e enxergando o mundo através de outras lentes. Elas também fortalecem laços de família ao convidarem pais e filhos a lerem juntos. Atividades esportivas e culturais são igualmente intencionais. O futebol vai além do jogo, pois ensina coletividade, inclusão e sentimento de pertencimento. Além da expressão artística e do exercício físico, a capoeira promove respeito, disciplina e cooperação, ao mesmo tempo que celebra a cultura afro-brasileira. Em uma comunidade majoritariamente negra como o Éden, essas atividades oferecem não apenas movimento, mas também uma conexão mais profunda com a história, a identidade e a diversidade que definem não só a comunidade, como todo o país. Cada postagem, seja ela sobre literatura, esporte ou arte, reflete a abordagem pedagógica cuidadosamente construída pelo projeto, com cada detalhe pensado para educar, empoderar e unir a comunidade.
Embora o Projeto Inclusão também ofereça uma variedade de cursos voltados especificamente para adultos e idosos, seu foco continua sendo o apoio a crianças e adolescentes. Com o tempo, a equipe percebeu que, trabalhando com as crianças do Éden, naturalmente alcançava suas famílias. Hoje, a iniciativa é amplamente conhecida em toda a favela. A educação por meio do esporte, da arte, da literatura e da música é vista não só como uma ferramenta de crescimento individual, mas também como um meio de fortalecer toda a comunidade.

Apesar do impacto positivo que a iniciativa já teve na vida de muitas famílias, o cotidiano da favela ainda impõe desafios significativos. A maioria dos serviços públicos e das atividades culturais fica concentrada em outras partes da cidade, o que obriga os moradores do Éden a caminhar grandes distâncias ou gastar com transporte público quantias das quais muitas vezes não dispõem. Às vezes o projeto ajuda a cobrir esses custos, mas os recursos são limitados.
Ainda assim, a organização segue em frente, oferecendo uma programação semanal consistente que inclui poesia, leitura, informática, futebol, xadrez e capoeira. Mesmo quando as atividades precisam ser reduzidas, o foco continua sendo em garantir acesso significativo à educação e à cultura dentro da própria comunidade.
“As pessoas acham que para viver bem têm que sair daqui e não, você pode viver bem aqui! Você pode ter acesso por aqui. É mais difícil? É, mas é possível ter. É um processo. A gente procura muito isso. Trabalhar também essa questão da mente das pessoas e falar de pertencimento, mesmo: ‘Eu gosto daqui, eu tenho contato com a minha vizinhança, lá tem um bom curso, tem um bom acesso… tem vida de qualidade na minha comunidade.’” — Élida Nascimento
De Olho no Futuro
Com o apoio de voluntários e organizações parceiras, o Projeto Inclusão espera, em breve, lançar um pré-vestibular popular. Também está nos planos futuros transformar o espaço em um polo oficial de aplicação do vestibular, de forma a reduzir ainda mais as barreiras de acesso dos moradores locais ao ensino superior.
Outro objetivo é expandir a área de formação em tecnologia. Com o mercado de trabalho cada vez mais voltado para o digital, a iniciativa busca oferecer uma capacitação mais aprofundada em informática, ajudando crianças e adolescentes da comunidade a desenvolver habilidades práticas e ampliar suas chances de inserção no mundo do trabalho.
Os planos para novos cursos são tão diversos quanto as necessidades da comunidade, abrangendo temas como maternidade, consciência ambiental e sustentabilidade. Por meio da Rede Favela Sustentável (RFS), os fundadores Élida Nascimento e Marcos Antônio Júnior receberam formações valiosas, firmaram importantes parcerias e encontraram energia renovada para seguir fazendo o que fazem de melhor: construir esperança, conhecimento e oportunidades de dentro de sua própria comunidade.
Para mais informações ou para participar do projeto, entre em contato com o Projeto Inclusão por meio de suas redes sociais no Instagram, WhatsApp e Facebook.

