Vila Autódromo se Encontra com o Prefeito [IMAGENS]

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Há quatro anos moradores da Vila Autódromo descobriram que sua comunidade estava marcada para remoção em nome dos Jogos Olímpicos de 2016. No último domingo, dia 6 de outubro, às 9:00hs, uma coalizão de moradores caminhou até o Riocentro para participar da reunião que o prefeito Eduardo Paes estava tendo com uma parcela de vizinhos, convocados por carta para participar da reunião a portas fechadas. Apoiados por urbanistas que ajudaram a desenvolver o Plano Popular para a comunidade, movimentos sociais e mídia alternativa, os moradores invadiram o Riocentro e forçaram a passagem em três pontos de entrada barrados para o acesso. Pelo menos três moradores e um manifestante ficaram feridos no processo. Uma vez lá dentro, ficou claro que os moradores que tinham sido convidados faziam parte do subgrupo interessado em deixar a comunidade, levando perguntas importantes sobre as táticas do prefeito após oito semanas de negociações com a Associação de Moradores e urbanistas, destinado a assegurar a permanência da comunidade, prometida pelo prefeito em 09 de agosto, na sequência dos protestos em toda a cidade, incluindo uma manifestação importante organizada pela Vila Autódromo. No interior, o prefeito prometeu-lhes a possibilidade tanto de receber apartamentos no novo complexo habitacional Parque Carioca, quanto indenização a preço de mercado por suas casas, embora detalhes sobre o que isso significa não foram fornecidos.

Uma série de perguntas graves surgiu. Por que a comunidade em geral, especialmente a maioria dedicada a ela, não foi convidada para a reunião mais importante, até agora, para determinar o seu futuro? Por que os meios de comunicação tiveram o acesso barrado? O que vai acontecer com os terrenos do subgrupo de moradores reassentados enquanto a maior parte de seus vizinhos opta por ficar? Será que as moradias serão demolidas deixando aqueles que querem ficar no meio dos escombros até que desistam e saiam como aconteceu na Favela do Metrô? Dado o histórico recente de remoções pela prefeitura, e uma vez que esta era uma reunião a portas fechadas, onde até a mídia foi impedida de entrar, as intenções são muitíssimo questionáveis.

Só 150 Famílias Restarão

De acordo com os cálculos dos urbanistas da UFF e UFRJ que desenvolveram o Plano Popular da comunidade através de uma série de reuniões com moradores, o prefeito agora quer remover da metade a dois terços da comunidade, potencialmente deixando apenas 150 famílias no bloco central da comunidade (o esboço branco no mapa), com a elevação abaixo de áreas adjacentes e as estradas sendo construídas por todos os lados, com nivelamento elevado em relação a comunidade. Como resultado, os urbanistas acreditam que a comunidade estará propensa a inundações e, portanto, a uma posterior remoção.

Deixados de Fora

O prefeito enviou convites apenas para um subgrupo de moradores, deixando todo mundo se perguntando porque aqueles. Embora ele disse mais tarde aos moradores que só convidou as pessoas das áreas onde as “obras rodoviárias eram necessárias”, nem todos os membros da comunidade destas áreas efetivamente receberam as cartas. Outros moradores que queriam saber o que estava sendo oferecido foram impedidos de entrar.

Forçando a Entrada

Moradores e simpatizantes finalmente tiveram uma oportunidade quando um portão foi aberto e puderam avançar sobre o pátio do Riocentro.

Barrados Novamente

Uma vez dentro do pátio do RioCentro, os moradores que não foram convidados, apoiadores e imprensa foram impedidos de entrar no edifício onde o prefeito estava falando aos moradores convidados. Aqui, uma moradora mostra a carta convite e o guarda permite a ela entrar, enquanto os seus vizinhos não são permitidos.

Cruzando o “Fosso”

Rapidamente ficou claro que os agentes da prefeitura não permitiriam o acesso ao edifício pelos moradores. Alguns perceberam que poderiam chegar ao prédio atravessando um lago que o rodeia, então os moradores e apoiadores levantaram as saias e calças e fizeram o seu caminho através do “fosso”.

Conflitos e Acidentes

Uma vez dentro do edifício, os moradores subiram as escadas até a sala onde o prefeito estava mantendo a reunião a portas fechadas com seus vizinhos. Neste ponto, um grupo de seguranças entrou em confronto com os moradores e três ficaram feridos no processo. Enquanto isso, no interior o prefeito estava dizendo: “A pior coisa que pode acontecer é a gente ficar em ambiente de guerra”.

Acesso!

Graças à determinação e argumentos convincentes, os representantes do prefeito, finalmente, permitiram que todos moradores da comunidade Vila Autódromo tivesse acesso à reunião, porém só às 10:30h, mais de uma hora depois de ter começado.

Dentro da Reunião

Finalmente dentro, os moradores que resistem à remoção juntaram-se com aqueles que estão considerando a realocação para uma grande conferência com o prefeito. Foi relatado que somente ao O Globo foi permitido o acesso. Lá fora, a BBC, O Dia, e uma gama de produtores de mídia alternativa esperavam e continuavam sendo negados a entrada. Apenas um dos urbanistas universitários envolvidos no desenvolvimento do Plano Popular foi permitido à entrada. Relatos vieram dos moradores assim que eles deixavam a reunião ao longo das horas subsequentes. Contaram que aqueles que se inscreveram para falar no microfone nem sempre foram permitidos: as pessoas com convites foram priorizadas e todos foram autorizadas a falar, enquanto apenas alguns daqueles que não tinham recebido convite e que se inscreveram foram autorizados a tomar o microfone. No caminho da saída nós também encontramos um executivo da Direcional Engenharia, uma das empresas de construção civil que operam no interior do Parque Olímpico, que havia sido convidado pelo prefeito para participar.

Muitos supõem que foi o fato da remoção de Vila Autódromo estar parada nos tribunais que levou o prefeito a “mudar a postura” e “negociar” e devido à iminente “contagem regressiva olímpica” os desenvolvedores do futuro Parque Olímpico estão pressionando o prefeito, já que os seus investimentos, no local, estão condicionados à “limpeza” da área para transformá-la em um empreendimento privado de luxo seguindo os Jogos de 2016.

Mudança de planos

Durante o seu longo discurso destacando os planos de reassentamento de moradores da comunidade para o complexo habitacional Parque Carioca, localizado a 1 km em um local considerado de risco pelas próprias autoridades municipais, o prefeito fez diversos anúncios de ruptura com as declarações anteriores e com o protocolo padrão. Segundo relatos de participantes, ele anunciou que os proprietários de várias propriedades seriam compensados com várias propriedades, o que conflita com os contratos para habitação pública do programa federal Minha Casa Minha Vida. Ele também afirmou que os moradores seriam capazes de vender suas propriedades imediatamente, ao contrário do contrato padrão do Minha Casa Minha Vida que exige cerca de 9 anos no local antes da venda ser uma opção. Ele afirmou que locatários receberiam apartamentos, algo que ele havia negado no passado. No entanto, os moradores também nos disseram que o prefeito disse que aqueles que ocupam as maiores e mais consolidadas casas na Vila Autódromo, os que estão ao longo da lagoa na direção do antigo campo de voo, receberiam nenhuma compensação. Finalmente, ouvimos relatos de que o prefeito ofereceu uma combinação mista aos moradores: se suas casas fossem avaliadas em mais do que os R$275.000,00 que é o preço dos apartamentos de 40 metros quadrados, com 2 quartos que estão sendo oferecidos, eles poderiam optar por uma compensação financeira “a preço de mercado”, ou algum misto de compensação financeira e o apartamento.

A oferta de preço de mercado (até R$8.000 por metro quadrado na área onde Vila Autódromo está localizada) para a compensação de realocação em favelas implica uma mudança dramática em relação à política anterior da prefeitura de compensar apenas pelo valor do material da construção. Isso também abre um poderoso precedente para futuras favelas que enfrentam realocação e é mais uma vitória da luta contínua da Vila Autódromo contra a remoção. Embora isto não seja sentido deste modo para a maioria dos moradores, que simplesmente deseja que sua comunidade seja urbanizada, e não removida. De fato, alguns moradores comprometidos em permanecerem na comunidade saíram frustrados depois de perguntarem ao prefeito se ele iria urbanizar a comunidade, trazendo os serviços ausentes solicitados no Plano Popular. A resposta do prefeito a esta pergunta feita por vários moradores? Que eles podem se encaminharem para o escritório local da Prefeitura, na Av. Ayrton Senna, 2001, Barra da Tijuca (tel. 3325-3204 ) e se inscreverem para o reassentamento ou indenização.

Agradecemos a Ariel Subira por compartilhar suas fotos conosco.

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