Essa matéria é uma contribuição ao Blog Action Day 2013, uma reflexão de blogueiros de todo o mundo sobre o tema desse ano, Direitos Humanos.
Nesse sábado, dia 12, aconteceu o primeiro #OcupaSARAU, em conjunto com a festa do Dia das Crianças do Morro dos Mineiros, realizado pelo coletivo OcupaALEMÃO. A ideia do Sarau foi comemorar o Dia das Crianças relembrando a Declaração Universal dos Direitos da Criança promulgada em novembro de 1959 por representantes de centenas de países, destacando a parte que diz: “Todas as crianças têm direito à educação e ao lazer”.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no Brasil tem cerca de 60 milhões de crianças e adolescentes, e quase metade deles vivem na pobreza. Famílias pobres tem menos acesso à educação, não tem dinheiro para alimentar bem os filhos e vivem em casas sem água potável e rede de esgoto. As crianças dessas famílias tem mais chances de ficar doentes, ir mal na escola, ser abandonadas ou não receber a proteção que devem receber. E como vivem as crianças das favelas cariocas?
O Sarau foi realizado na favela Morro dos Mineiros, parte integrante do Complexo de favelas do Alemão, local onde o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) passou longe–considerada uma das regiões mais rurais do Complexo do Alemão. A maioria dos moradores da localidade chegaram de Minas Gerais, provavelmente na década de 60 incentivada pelas indústrias na região, e se alojaram na região que hoje é chamada de Mineiros localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro.
No encontro rolou de tudo: varal fotográfico do coletivo Favela Arte e Foto retratando o cotidiano de várias favelas cariocas, a estreia do CineMURO com a exibição do curta Tempo de Criança do cineasta Wagner Novais, oficinas de desenho, pintura corporal e muitas brincadeiras–reforçando que toda criança tem o direito à infância e direito à expressão, do que se é e de onde se vive.
O evento também abraçou a biblioteca Mini Mineirinhos, construída no começo do ano de forma colaborativa numa parceria do coletivo OcupaALEMÃO e os moradores. A biblioteca funciona no topo do morro num pequeno espaço cedido pelos moradores, do tamanho de uma sala pequena, com livros doados e estantes de caixotes. Atualmente, em restruturação a biblioteca já recebeu crianças no período da tarde para leitura e contação de historias.
São iniciativas deste tipo que levantam questionamentos sobre como o direito das crianças são aplicados nas camadas populares. O Sarau não é a única solução para equilibrar as desigualdades destes direitos fundamentais, porém ele é capaz de nos apontar um caminho. E nesse caminho é possível perceber o quanto é fundamental a participação dos moradores somada a diversos coletivos plurais, em suas vertentes, na luta por igualdade e democratização de direitos. Só a construção coletiva é capaz de entender o território em toda sua complexidade e diversidade e amplificar sua potência.
Thamyra Thamara de Araújo é jornalista, moradora do Complexo do Alemão e integrante no coletivo OcupaALEMÃO.