Do que se Defender na Contagem Regressiva até os Jogos Olímpicos de 2016

Muitos cidadãos de Vancouver, como os cariocas, receberam os Jogos Olímpicos com felicidade e empolgação. Olhando pra dez anos atrás, a maioria de nós agora sabe que fomos ingênuos e deveríamos ter prestado atenção nas consequências que sempre vêm com as Olimpíadas.

Vejamos algumas delas:

Custos

Oficiais de governo e do COB comemoram a escolha do Rio como sede olímpicaPor várias razões, os custos para o contribuinte sempre excedem os das propostas iniciais. No caso de Vancouver eles foram de 660 mil para mais de 8 bilhões de dólares. E esses 8 bilhões nem sequer incluem a conta de 1 bilhão de dólares que os contribuintes de Vancouver agora terão que pagar pela construção da Vila Olímpica. As projeções de custos dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012 já saltaram de menos de 3 bilhões de libras para quase 20 bilhões. Naturalmente, existem consequências por estourar esses orçamentos. O mais óbvio é o custo que se paga em oportunidades perdidas, isto é, todas as coisas que o governo poderia fazer com todo esse dinheiro por outros propósitos. Tipicamente, e Vancouver não é exceção, logo após os Jogos todos os níveis de governo anunciam medidas de contenção de gastos para equilibrar o orçamento (nunca culpando os Jogos por isso, é claro). Com essas medidas vêm cortes em serviços públicos e aumentos nos impostos.

Meio Ambiente

A preparação para os Jogos Olímpicos é sempre destrutiva para o meio ambiente. Os Jogos de verão, por normalmente serem realizados em cidades, costumam ser menos destrutivo do que os de Inverno, como foi o caso de Vancouver, mas ainda assim existem sérios custos ambientais. Por exemplo, áreas dedicadas a diversas atividades esportivas devem ser desenvolvidas, o que muitas vezes traz a perda de habitat natural. A construção aumenta muito as emissões de gás carbônico, assim como o aumento no tráfego aéreo para suprir a demanda de todos os turistas que se espera que venham visitar a cidade. No caso de Vancouver, a estimativa geral somente para os Jogos Olímpicos era algo em torno de 5% do total annual de emissões de toda a província de British Columbia, onde fica Vancouver.

Segurança

A Olimpíada é o evento esportivo de mais prestígio no mundo. Isso a torna um alvo em potencial para aqueles que buscam uma plataforma para diversas causas. As forças de segurança de qualquer país que sedie os Jogos, então, devem se preparar para várias situações, incluíndo terrorismo, crime ou protestos. Estes muitas vezes se tornam a principal preocupação, já que cidades-sede e o COI não querem que protestos sujem a “imagem” dos Jogos ou da cidade. Os direitos dos cidadãos quase sempre sofrem danos por causa de leis aprovadas com a intenção de restringir protestos e fazer a cidade mais segura para o COI e seus patrocinadores. Isso também vem acompanhado de uma tendência a marginalizar ainda mais o pobre e o sem-teto para impedir que as suas imagens apareçam nas televisões do mundo.

Habitação

Nativo Canadense exibe uma placa "Não posso pagar aluguel, vivo em uma tenda", em frente à Vila Olímpica em VancouverEsperando capitalizar o turismo dos Jogos, vários donos de pensões das áreas mais pobres de Vancouver começaram a aumentar o aluguel, apesar de leis municipais que proibiam tal prática. O resultado foi uma diminuição no volume de habitação de baixo custo que abrigava os cidadãos mais pobres de Vancouver. A quantidade de cidadãos sem-teto em Vancouver, em quase 3.000 até das Olimpíadas, permanece nesse patamar ou acima. A Cidade de Vancouver recentemente anunciou a decisão de usar parte da antiga Vila Olímpica como “habitação social”, mas reconheceu que isso meramente se deveu ao fato de essas unidades caras e mal-construídas não terem atraído compradores no mercado. Com isso, os custos para o contribuinte de Vancouver aumentaram em 1 bilhão de dólares, isso em cima dos custos municipais, provinciais e federais que totalizam mais de 8 bilhões de dólares. A Cidade de Vancouver anunciou demissões e cancelou a renovação do prédio da Prefeitura por causa de cortes no orçamento, e também anunciou aumentos nos impostos imobiliários. No final dos Jogos de 2010, o mercado de habitação, que antes estava em alta, parou e em seguida entrou em declínio. Um estudo do mercado imobiliário, conduzido pela Universidade de British Columbia, concluiu que sediar os Jogos Olímpicos não trouxe nenhum benefício concreto ao mercado em relação a outras jurisdições do Canadá. Os preços de propriedades no mercado atual, 8 meses depois dos Jogos, estão de volta aos níveis de 2009.

Em Vancouver, vimos todas essas coisas passarem. Deveríamos ter sido mais eficazes em nos defender contra elas, mas na maioria das vezes, quem veio a se opôr a sediar os Jogos, não o fez até que fosse tarde demais.

Pensemos em quem realmente se beneficia de sediar os Jogos. No caso de Vancouver, os grandes beneficiários foram os desenvolvedores de imobiliário que esperaram usar os Jogos como uma jogada de Marketing. No nosso caso, os contribuintes, o meio ambiente, e os pobres pagaram por isso. Quem no Rio vai se beneficiar? Não acredite na idéia de que o turismo vai crescer por anos depois dos Jogos: isso nunca acontece. De fato, pelo contrário. Não acredite que os Jogos trarão dinheiro para a sociedade ou o governo: isso nunca acontece. De fato, também, pelo contrário. E não acredite que os jogos serão “socialmente inclusivos”: eles não são.

A hora para a população do Rio trazer à tona suas exigências por transparência total, verdadeira inclusão social, proteção do meio ambiente e dos direitos dos cidadãos é agora. Se vocês esperarem até que os Jogos se aproximem mais, será tarde demais.

Chris Shaw é membro da ORN, Rede de Resistência às Olimpíadas, e acompanhou de perto os processos antes, durante, e depois das Olimpíadas de Inverno de 2010, em Vancouver, Canadá.

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