No último domingo, 10 de novembro, foi lançada, como parte do Mês da Consciência Negra, a campanha ‘Juventude Marcada para Viver’ que tem como objetivo reduzir a taxa de homicídio entre os jovens negros no Brasil. Durante toda a tarde e noite, o Parque Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro, foi palco de um programa cultural repleto de atrações e atividades, incluindo fotografia, batalha de dança do passinho, contação de histórias, debates e performances musicais do rapper BNegão e o ritmo nordestino do grupo Maracataia. O evento de lançamento foi apenas o início de uma ampla campanha concebida e realizada pelos alunos da Escola Popular de Comunicação Crítica (ESPOCC) do ‘Observatório das Favelas’ para aumentar a conscientização sobre a negação sistemática do direito à vida de jovens negros das favelas do Rio de Janeiro, afirmando este direito e pressionando para que ações concretas do governo sejam implementadas para garanti-lo.
O estado do Rio de Janeiro é um lugar extremamente perigoso e muitas vezes letal para um jovem, negro e do sexo masculino. Em 2012, 4.013 homicídios foram registrados no estado do Rio. Destes, 1.418 eram jovens, dos quais 1.078 eram negros e 296 eram brancos. Além disso, as mortes resultantes de ações policiais apontam para uma desigualdade racial extrema: um jovem negro tem quatro vezes mais chances de ser morto pela polícia do Rio de Janeiro do que um jovem branco, com um total de 416 mortes registradas em ações policiais no ano passado.
A falta de indignação da população em geral e de ação do Estado para reduzir essa perda violenta de vida de jovens é a motivação para a campanha ‘Juventude Marcada para Viver’. Sendo o projeto final do curso da Escola Popular de Comunicação Crítica de 2012 e 2013, a campanha é uma combinação de comunicação criativa e colaborativa, ações de marketing de guerrilha em toda a cidade, vídeos e parcerias com grupos de mídia para des-normalizar a situação atual no Rio.
O coordenador do ESPOCC, Luis Henrique, explica: “Os negros morrem mais por causa do racismo. Na verdade o homicídio é a ultima morte que o jovem negro passa porque ele começa a ser assassinado simbolicamente desde o momento que ele nasce, já que tem assistência médica inferior, uma educação inferior, quando ele é representado socialmente de forma inferior e como ele é associado a violência, a um criminoso. Ele é criminalizado por ser negro. Você tem toda uma construção que justifica o assassinato no momento de homicídio”.
O Brasil tem uma das maiores taxas de homicídio do mundo, com 50 mil assassinatos por ano, e dos 28 mil jovens assassinados, 70% são negros. Usando essas estatísticas chocantes, postando amplamente nas redes sociais usando a hashtag #JMV, a campanha ‘Juventude Marcada para Viver’ é uma ação afirmativa, com ênfase na valorização da vida. No entanto, o objetivo não é apenas aumentar a conscientização, mas criar mudança.
“A campanha JMV trabalha denunciando a situação dos homicídios, mobilizando a sociedade a participar na interrupção dos homicídios, responsabilizando o estado e apontando para uma solução”, diz Luis Henrique e continua: “O início da solução que a gente está propondo é um protocolo de 5 pontos que a gente quer que o Governo do Estado assuma. Já são legais, e devem ser cumpridos mas não são”.
- Agentes de segurança pública priorizem ações de inteligência e controlem o uso de armas de fogo;
- Agentes de segurança pública obedeçam os princípios da legalidade e da preservação da vida, sendo obrigados a usar identificação e utilizar de mandados individuais de buscas domiciliárias;
- Órgãos de segurança pública disciplinem o uso da força pelos seus agentes, definindo uma regulamentação ou proibindo o uso de armas que provoquem risco injustificado;
- O uso de armas de fogo a partir dos helicópteros da polícia seja proibido;
- A formação de agentes de segurança pública inclua conteúdos sobre relações geracionais e raciais, com vista a eliminar a discriminação nas abordagens policiais.
Uma petição pressionando o governador Sérgio Cabral a adotar o documento é parte da campanha. Hospedado na plataforma “Panela de Pressão” do site do Meu Rio, a petição com as exigências será entregue a Cabral no ano novo.
Enquanto isso, os alunos da ESPOCC que participam da campanha têm uma série de intervenções planejadas para sensibilizar e chamar as pessoas à ação. Falando sobre a campanha no intervalo entre as aulas na ESPOCC, o artista de hip hop e produtor cultural da Maré, MC Succo, diz: “A gente tem infinitos motivos para falar disso porque são nossos vizinhos, nossos parentes, amigos que estão morrendo nesse genocídio. É eliminação em massa. Certas declarações que o governador passou me chocaram e fizeram eu ficar mais revoltado, me fizeram querer lutar para parar com essa linha de pensamento, da um travo nesse pensamento porque daqui a pouco eu entro na fila e morro. Eu sou um negro jovem e estou na mira de morrer”. Ele continua: “Já era pra ter parado e não parou. Na verdade, não era pra existir“.
Para assinar a petição para a redução de homicídios de jovens negros clique aqui.
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