Polícia Mata Jovem e Aterroriza Moradores Durante Intensa Operação Policial na Maré

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Igor Silva, de 19 anos, foi morto pela polícia na segunda-feira (22) durante uma operação na favela Parque União, no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio. No mesmo dia um vídeo gravado por um morador e postado numa rede social mostrava policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) colocando o corpo já sem vida de Igor na caçamba de um carro da polícia. O vídeo e subsequentes reportagens alegando o envolvimento de Igor, que trabalhava em uma farmácia, com o tráfico de drogas–uma justificativa comum para o uso fatal de violência policial–indignaram moradores e organizações comunitárias que denunciaram as ações da polícia e da mídia.

Segunda-feira foi um dia de intensas operações policiais na Maré com trocas de tiros começando às 6 horas da manhã, segundo informações de páginas do Facebook. Ao longo do dia o Maré Vive postou atualizações relatando tiroteios na Nova Holanda, Baixo do Sapateiro, Rubens Vaz e Parque União.

Escolas, hospitais e creches fecharam e moradores postaram que estavam com medo de sair de suas casas. Uma moradora escreveu: “Meu Deus!!! Eles vão matar todo mundo!”.

A jornalista comunitária Thaís Cavalcante ficou presa em meio de uma troca de tiros. Mais tarde ela tuitou: “A vida muda de sentido quando a gente vê a morte de perto. Que dia difícil”.

Igor Silva foi morto por policiais na Maré na segunda, dia 22 de fevereiro

Igor Silva levou um tiro da polícia no peito durante um tiroteio na favela Parque União naquela manhã. Um morador filmou a polícia maltratando o corpo, alterando a cena do crime e colocando o corpo de Igor num veículo da CORE antes de sair dirigindo. O vídeo tem sido amplamente compartilhado no Facebook deixando moradores e defensores dos direitos humanos horrorizados com o tratamento do corpo do jovem.

Moradores ficaram ainda mais indignados com as reportagens sobre o incidente. O G1 da Globo e o R7 publicaram o vídeo informando que a polícia estava “prestando socorro” à vítima.

Reportagens do G1 e O Dia sobre a morte de Igor enfatizaram o comunicado em que a polícia afirma que Igor tinha uma pistola, um rádio e três coletes a prova de balas, e citam o delegado: “São pessoas que desde novas estão acostumadas a trocar tiros. Hoje não foi diferente. Tivemos diversos confrontos e em um deles, um policial conseguiu reagir e alvejou esse garoto”.

A reportagem e a alegação do G1 foram questionadas numa postagem do Maré Vive, que publicou a fala do delegado e a imagem destacada no G1 dos coletes a prova de balas ao lado de uma foto de Igor na farmácia: “Me digam, quem é o maluco que vai trocar tiro de pistola 40 com uma tropa da CORE pesadona de fuzil, blindado, e helicóptero? E se ele tava com 3 coletes a prova de balas, porque diabos ele não vestia um?” A postagem, compartilhada mais de 1.900 vezes, rebateu com força as reportagens e o comunicado da polícia ao concluir com a seguinte afirmação: “Queremos justiça e não vão nos calar!”.

A organização comunitária Redes da Maré publicou uma nota denunciando as operações policiais e a morte de Igor: “O tiro que acertou o Igor também nos acerta, pois é uma violação gravíssima contra o direito mais sagrado que temos, ou seja, o direito à vida. A nossa democracia não pode conviver com a ideia de que algumas vidas valem mais do que outras, não se pode naturalizar o assassinato de jovens brasileiros moradores de favelas“.

A nota pedia por uma resposta imediata: “É preciso que a sociedade se mobilize e cobre do Estado sua responsabilidade e cobre também uma mudança radical na política de segurança baseada na guerra. O Governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, por sua vez, tem a obrigação de se pronunciar sobre o que ocorreu hoje na Maré e imediatamente paralisar ações como essa que só resultam em violência e morte”.

O Complexo da Maré abrange 16 comunidades e tem uma população em torno de 130.000. Localizado entre a Avenida Brasil e a Linha Vermelha, próximo do aeroporto internacional do Rio, o complexo de favelas foi ocupado pelo Exército em março de 2014, antes da Copa do Mundo, com a instalação das UPPs projetadas para o ano seguinte. Dois anos depois, e com as Olimpíadas se aproximando, nenhuma UPP foi instalada e como os eventos de segunda-feira tragicamente mostram, conflitos violentos e a agressiva política de segurança do Estado baseada numa guerra continuam.