RevoluSolar: Energia Solar na Babilônia e no Chapéu-Mangueira #RedeFavelaSustentável [PERFIL]

Perfil da Rede Favela Sustentável*

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Iniciativa: RevoluSolar
Contato: Facebook | Website | Email | Zap (21) 97904 9882
Ano de Fundação: 2015
Comunidade: Babilônia e Chapéu Mangueira (Zona Sul)
Missão: Realizar pesquisas, produção e gerenciamento de energias renováveis, e oferecer treinamento e educação para a população local sobre os benefícios sociais, econômicos e ambientais da energia solar.
Eventos Públicos: RevoluSolar oferece oficinas e cursos sobre energia solar e sustentabilidade.
Como Contribuir: Torne-se um membro ou voluntário, contribua para a pesquisa do grupo ou participe de uma oficina.

A luz do sol no Brasil é um recurso abundante e gratuito. Em média, há mais de 30% de luz solar por ano no Rio de Janeiro do que nas principais cidades da Alemanha; no entanto, a Alemanha está muito à frente do Brasil em termos de energia verde doméstica produzida pelos cidadãos.

Buscando aproveitar a capacidade de energia solar no Brasil, a RevoluSolar, uma associação sem fins lucrativos de base comunitária, produz, pesquisa e gerencia energia renovável nas comunidades do Morro da Babilônia e do Chapéu Mangueira, na Zona Sul do Rio. Por meio do trabalho voluntário colaborativo envolvendo eletricistas, empreendedores da favela e a Associação de Moradores da Babilônia e Chapéu Mangueira, a RevoluSolar procura educar os moradores sobre os benefícios das energias renováveis.

O atual presidente da RevoluSolar, Adalberto Almeida, de 40 anos, co-fundou a organização em 2015, juntamente com o empreendedor belga Pol Dhuyvetter e outros membros da comunidade. Depois de completar um curso de treinamento, Adalberto ajudou a completar dois projetos pilotos da RevoluSolar em 2016: a instalação de painéis solares no Babilônia Rio Hostel e na Estrelas da Babilônia, uma pousada e um restaurante. Adalberto tornou-se o primeiro instalador de painéis fotovoltaicos na Babilônia. Adalberto diz que sabia muito pouco sobre energia solar antes de se envolver com o projeto. “Quando eu estava instalando o primeiro projeto-piloto na comunidade foi que eu vim a entender o que é energia sustentável”, explica ele.

Um desafio inicial para a RevoluSolar foi enquadrar a energia solar como algo alcançável e relevante para os moradores da Babilônia. Enquanto alguns moradores estão hesitantes em relação à ideia, como presidente da organização, Adalberto—morador da Babilônia há dezoito anos—ajudou a aumentar a participação local. Desde o desenvolvimento dos dois projetos-piloto, a organização mudou seu foco para melhor atender às necessidades locais. “Hoje o projeto tem mais a cara da Babilônia e Chapéu Mangueira para o morador”, diz Adalberto.

Confrontada com o aumento das tarifas de eletricidade cobradas pela Light, a RevoluSolar pretende gerar independência energética—abrindo caminho para um futuro democrático e sustentável, servindo de modelo para outras comunidades no Rio de Janeiro e em todo o país. Em 2012, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) aprovou uma resolução permitindo que os indivíduos produzissem energia em casa e, em troca, recebessem créditos para suas contas de energia elétrica, conhecida como “sistema de compensação de energia”—um desenvolvimento crucial para iniciativas como a RevoluSolar. De acordo com o secretário executivo da RevoluSolar, Juan Cuervo, 29, a pesquisa do grupo mostra que, no total, os moradores da Babilônia pagam à Light mais de R$ 1.000.000,00 por ano. “O valor que está saindo [em eletricidade] todo ano poderia ficar aqui dentro [da comunidade]”, disse Juan.

Ao mesmo tempo, a equipe da RevoluSolar continua ciente dos problemas imediatos e urgentes enfrentados pelos moradores. Juan descreve: “A favela tem problemas bem maiores do que se a energia que está consumindo vem do petróleo ou vem do sol. Nunca podemos perder de vista isso, né! Então o objetivo primeiro é diminuir a fatura de luz dos moradores. Depois o romanticismo da energia solar ajuda a criar um modelo alternativo, mas o primeiro problema que temos aqui em casa, é que estão pagando conta de R$600 e R$700, mas têm um salário de R$900. Então têm pessoas que têm que escolher se tem luz ou se comem”.

O trabalho da RevoluSolar na Babilônia e no Chapéu-Mangueira demonstra o potencial dos moradores consumirem e produzirem energia renovável dentro da comunidade. Hoje, o projeto consiste de uma equipe de vinte a trinta voluntários, incluindo muitos moradores da comunidade, e visa melhorar diretamente a vida dos moradores. Segundo Juan, a organização pretende preparar os moradores para a ascensão da energia solar no Brasil: “[Até lá] as pessoas já entenderão o que é energia solar. Não será algo novo—como foi para Adalberto há três anos. As pessoas daqui da comunidade saberão como fazer instalações, e manutenção de instalações [de painéis solares] e tudo o que dá autonomia para comunidade. [Além disso] elas poderão trabalhar fora da comunidade e gerar renda”.

Em dezembro de 2018, a RevoluSolar deu o próximo passo estratégico com a instalação de painéis em um espaço comunitário central, a Escola Tia Percília, na Babilônia. A escola comunitária tem mais de 25 anos, mas recentemente perdeu o financiamento que recebia de uma ONG sueca. De acordo com Juan, a escola tem 30 alunos, mas é grande o suficiente para acomodar 180. Ao invés de expandir para realizar seu potencial, a escola corre o risco de ser fechada devido à falta de apoio financeiro. Através deste projeto, a RevoluSolar espera afirmar o lugar da escola no coração da comunidade. Além disso, “essa instalação na escolinha vai abrir mais a visão de alguns moradores que têm condições de instalar [painéis] para manter a família, mas tem receio de como [os painéis] funcionam. É a oportunidade para eles acreditarem mais no projeto”, afirma Adalberto.

O ativismo da RevoluSolar inclui crianças, a futura geração de inovadores de energia sustentável. Os membros da RevoluSolar educam as crianças desde cedo sobre os benefícios da energia solar para que elas cresçam conscientes de seu potencial. Uma vez por mês, a RevoluSolar oferece uma aula na Escola Tia Percília sobre energia solar e sustentabilidade.

Atualmente, a Revolusolar acabou de fechar uma parceria com a empresa Solar On, mediante a qual a Revolusolar indica-lhe clientes interessados em receber instalações de energia solar. Por cada venda fechada mediante a parceria, a Revolusolar recebe uma comissão pelas vendas que servirá para continuar capacitando moradores. Cada venda também assegurará a contratação de ao menos um morador capacitado como instalador solar pela Revolusolar, para se integrar à equipe de trabalho da Solar On, sendo remunerado por isso e servindo como treinamento para sua inserção laboral no novo mercado. Para o cliente, representa a possibilidade de instalar uma energia mais econômica e limpa, recebendo um serviço de alta qualidade por um valor muito competitivo no mercado, e ajudando no desenvolvimento do setor em comunidades cariocas.

No futuro, Adalberto espera que a RevoluSolar instale painéis nas casas de moradores de toda a comunidade. Embora reconheça que isso será caro, a RevoluSolar já se beneficiou do financiamento do Fundo Socioambiental Casa em três oportunidades, e da Fundação Heinrich Böll e da Federação das Cooperativas Europeias (RESCOOP) numa oportunidade, além de receber assessoria técnica da Cooperação Alemã (GIZ), da Organização de Cooperativas Brasileiras (OCB), e participar ativamente da rede nacional Frente por uma Nova Política Energética para o Brasil, dentre outras organizações. Além disso, Adalberto e Juan enfatizam que o apoio contínuo da Associação de Moradores da Babilônia e Chapéu Mangueira é crucial para o sucesso da organização. “Sem o apoio deles, o projeto ficaria parado”, diz Juan.

Outra meta para a organização é desenvolver uma cooperativa de produção de energia, uma iniciativa que possa servir de modelo para outras comunidades. Embora a cooperativa ainda esteja em uma fase inicial de desenvolvimento, Juan continua esperançoso. “O potencial do Brasil para a energia solar é enorme”, diz Juan. “O projeto vem desde a base criando estruturas fortes para que no dia de amanhã, quando a energia solar realmente decolar no Brasil, o morro do Leme estará preparado para aproveitar isso.”

*RevoluSolar é um dos mais de 100 projetos comunitários mapeados pela Comunidades Catalisadoras (ComCat)—a organização que publica o RioOnWatch—como parte do nosso programa paralelo ‘Rede Favela Sustentável‘ lançado em 2017 para reconhecer, apoiar, fortalecer e expandir as qualidades sustentáveis e movimentos comunitários inerentes às favelas do Rio de Janeiro. Siga a Rede Favela Sustentável no Facebook. Leia outros perfis dos projetos da Rede Favela Sustentável aqui.