O Rio de Janeiro está ficando para trás em sua promessa de plantar 24 milhões de árvores para compensar as emissões de carbono que serão produzidas como resultado de sediar os Jogos Olímpicos de 2016. De acordo com o contador oficial, apenas 5,5 milhões foram plantadas, e o tempo está se esgotando para conseguirem plantar as árvores restantes, antes do final do prazo, em 2015. Já em setembro de 2012, o secretário Estadual de Meio Ambiente, Carlos Minc, estava tão confiante de alcançar a meta de 24 milhões de árvores que aumentou a meta para 34 milhões. Mas, com menos de dois anos restando dentro do prazo definido e pouco mais do que isso até o início dos Jogos Olímpicos de 2016, parece mais provável que este será mais um ‘legado olímpico’ não-realizado.
Das árvores a serem plantadas, a maioria deve ser árvores nativas para ajudar a restaurar, no Rio, a altamente ameaçada e ultra biodiversa Mata Atlântica, que cobria grande parte do litoral sul do Brasil, e que foi desmatada, restando apenas 7% da sua cobertura original. Reflorestamento de áreas degradadas é dispendioso, custando até R$10.000-40.000 por hectare (todas as despesas incluídas) em três anos, de acordo com Nicholas Locke, presidente da REGUA, uma associação envolvida no reflorestamento do Vale do Guapiaçu no estado do Rio. Não está claro de onde vem o financiamento para isso, mas o Estado já havia indicado que o esforço seria uma parceria público-privada, com empresas privadas oferecendo R$500 milhões para atender às exigências de compensação ambiental ou como condição para receber o licenciamento ambiental.
O maior contribuidor para esse número foi a Petrobras, que é responsável pelo plantio de sete milhões de árvores cobrindo 4.500 hectares no entorno de seu novo complexo Petroquímico (Comperj), em Itaboraí. Embora este acordo tenha sido assinado em agosto do ano passado, ele havia sido planejado desde maio de 2009, quando o Ministério Público Federal tentou bloquear a licença ambiental do Comperj emitido pelo Estado do Rio de Janeiro. Curiosamente, isto aconteceu cinco meses antes do Rio ser anunciado como a sede das Olimpíadas de 2016, o que significa que as árvores a serem plantadas pela Petrobras, teriam sido plantadas com ou sem os Jogos Olímpicos. Considerando isso, é duvidoso para o Estado reivindicar essas árvores como parte do “legado olímpico”, e levanta questões sobre se outros projetos de plantio de árvores para compensar as emissões de carbono olímpico também já estavam em andamento antes do anúncio dos Jogos.
Dentro da cidade do Rio de Janeiro, há muitas áreas que precisam desesperadamente de árvores, que forneceriam grandes benefícios para os moradores da cidade, assim como contribuiriam para o cumprimento da promessa olímpica. A presença de árvores no ambiente local contribui para a melhoria da saúde física e mental. Infelizmente, a presença de árvores é muitas vezes restrita aos bairros ricos, onde os moradores podem pagar por grandes lotes de terra para plantar árvores em sua propriedade, e onde o Estado tende a investir mais em espaços verdes. Levando isso em conta, é imperativo para a saúde dos moradores locais, o foco da Prefeitura em plantio de árvores nas áreas de renda mais baixa da cidade.
Isto é particularmente pertinente agora. Neste verão, o Rio de Janeiro teve algumas de suas mais altas temperaturas já registradas, especialmente nas partes da cidade mais afetadas pelo fenômeno conhecido como ‘ilha de calor’. Ilhas de calor urbanas são áreas metropolitanas, que são significativamente mais quentes do que as áreas circundantes, devido entre outras coisas, a pouca vegetação. Elas estão associados a altas temperaturas, aumento das chuvas, diminuição da qualidade do ar e da água, e aumento de problemas de saúde respiratórios, entre outros. Um estudo de 2012 identificou um significativo efeito de ilha de calor urbana nas menos abastadas Zonas Norte e Oeste da cidade. A Zona Sul foi menos afetada, mas temperaturas elevadas ainda estavam presentes em Copacabana e Botafogo, que são consideravelmente menos arborizadas do que os vizinhos Leblon e Ipanema. O estudo também descobriu que o efeito foi particularmente forte em partes da cidade perto de indústrias, grandes fábricas, estradas principais e áreas degradadas, todas as características típicas das áreas de habitação de baixa renda. Os autores instaram a Prefeitura para aumentar a plantação de árvores nessas áreas, para reduzir as elevadas temperaturas que ocorrem nessas partes da cidade.
Nos últimos anos, o Rio de Janeiro tem sofrido com grandes inundações e deslizamentos de terra que destruíram casas, causando muitas mortes, e, mais uma vez as partes mais pobres da cidade foram desproporcionalmente afetadas. Árvores mitigam substancialmente estes eventos catastróficos, absorvendo água, reduzindo o impacto dos pingos da chuva e estabilizando o solo (através da redução da erosão), o contrário do que vem acontecendo com a implantação de obras que diminuem a capacidade de absorção da terra. Plantar árvores em áreas de baixa renda da cidade, que são as mais afetadas pelo efeito de ilha de calor e mais propensas a inundações e deslizamentos de terra, sem dúvida, melhorará a saúde e bem-estar dos moradores, reduzirá a poluição do ar e da água, poupará no consumo de energia e, finalmente, salvará vidas. O estado iniciou a implementação do reflorestamento urbano para este efeito, em pequena escala, com o programa Comunidades Verdes, onde se vê algumas árvores plantadas entorno das comunidades do Fogueteiro, Batan e Formiga. Mais árvores em mais comunidades serão necessárias para ter um impacto significativo. No entanto, a promessa olímpica poderia potencialmente oferecer o impulso para isso.
É necessário um compromisso firme do Estado e da Prefeitura para cumprir a promessa que fez, e plantar as restantes 18,5 milhões de árvores (usando a meta original de 24 milhões árvores) ou 28,5 milhões de árvores (usando a meta do Minc de 34 milhões de árvores) durante os próximos dois anos. Nicholas Locke está confiante de que isto ainda pode ser alcançado. “No momento, há poucos incentivos financeiros”, ele disse, “mas se um programa de pagamento por serviços ambientais desse o pontapé inicial, o suporte resultante seria imediato”.