Aproximadamente 250 pessoas estão abrigadas no ginásio de Igreja Católica Nossa Senhora do Loreto, perto do Galeão, aeroporto internacional do Rio de Janeiro, mais de três meses depois de terem sido violentamente removidas do terreno abandonado da Oi/ex-Telerj na Zona Norte. Sem nenhum lugar para ir e dependendo de doações, o grupo declara ser vítima de baixos salários e alugueis crescentes em uma situação que tem se intensificado durante os períodos de preparação para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos.
O grupo, que se autodenomina “Comunidade Telerj”, são os restantes da ocupação espontânea de 8000, que ocupou o espaço industrial abandonado no Engenho Novo por 12 dias em abril. A remoção em 11 de abril chamou atenção internacional após a Polícia Militar usar táticas violentas para remover as famílias que ocupavam, incluindo crianças, poucas semanas antes do início da Copa do Mundo.
Uma segunda remoção violenta do lado de fora de um edifício administrativo municipal em 15 de abril, e uma, negociada, terceira remoção do lado de fora da Catedral em 3 de maio, desanimaram muitas famílias de resistir mais. Muitos voltaram para suas comunidades de origem para buscar refúgio com amigos ou família.
Sem nenhum lugar para ir, algumas famílias não tinham outra opção a não ser manter-se dentro do movimento. As 250 restantes estão vivendo em condições rudimentares, com a sua sobrevivência dependendo de doações da Igreja Católica. A comida mal alimenta todos nesses dias, e fraldas, leite em pó, e suprimentos essenciais para as crianças são escassos. Um morador se refere às suas condições de vida degradantes mostrando como ele come sua comida com as mãos, na ausência de garfos.
Setenta barracas ficam em filas no ginásio, três mictórios e três sanitários servem toda a comunidade. Famílias dividem espaço, varais, e as suas posses limitadas. A comunidade trabalha em conjunto para manter o espaço limpo, higienizado e livre de doença, mas a infestação de ratos, mosquitos e macacos que visitam ainda causam problemas.
Um morador, Vitor, explicou que estar com pessoas de comunidades tão ecléticas foi estranho e às vezes criam-se tensões. Apontando para um homem do outro lado da sala, ele explicou: “Eu vivi na mesma comunidade que esse cara por 30 anos”, e, em seguida, apontando para uma mulher limpando o chão do ginásio ele: “Mas essa mulher, eu só conheço há 60 dias”. Ele passou a descrever os vários níveis de confiança entre os moradores da comunidade nascente.
Os líderes das comunidades locais que haviam formado a liderança da comunidade Telerj não quiseram mais acompanhar o movimento. O atual líder, o ex-traficante Rodrigo Moreira, explicou que não sabia para onde foram.
Falando em um evento recente organizado pelo Vereador Renato Cinco, Rodrigo expressou sua crença na importância da comunidade continuar resistindo, para batalhar contra as promessas desleais do governo e para pedir prestação de contas, e denunciar táticas violentas e repressivas das forças de segurança do governo.
Muitos na comunidade perderam seus documentos na comoção da primeira remoção, deixando-os sem os números de CPF ou de INSS necessários para se registrar em programas sociais do governo. No início de junho, aqueles sem documentos foram avaliados por funcionários do governo, que dissem que levariam oito semanas para analisar as informações e discernir quem é quem e quais os programas sociais que possam ter direito.
Mas, longe dos bairros das praias turísticas e do movimentado centro comercial, o poder de barganha da Comunidade Telerj em sua luta por moradia foi significativamente reduzida. A prefeitura, tendo maioria das cartas na mão, deve concluir a sua análise até o final de julho.
Em uma audiência pública em 30 de maio, o subsecretário de Proteção Social Especial da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Rodrigo Abel, afirmou que 569 famílias da comunidade inicial da Telerj já haviam se registrado através do programa do governo federal Cadastro Único (CadÚnico), usando suas documentações mantidas. Deste grupo, afirmou Abel, para 482 haviam sido concedidos Bolsa Família, ou o programa complementar local, Cartão Família Carioca.
Rosa, que continua a fazer parte da comunidade Telerj, explicou que ela não queria esmolas do Bolsa Família já que é insuficiente para cobrir o aumento dos aluguéis.
Embora a principal demanda de “Queremos moradia!” seja idêntica agora com ao que era em abril, apenas 20 famílias foram registradas para um programa de habitação, de acordo com Abel.
Muitos dos programas sociais, como o Minha Casa Minha Vida, o Bolsa Família, Cartão Família Carioca, Bolsa Carioca, Aluguel Social, e vários subconjuntos destes programas estão sendo considerados como soluções.
Em 2012, a Presidente Dilma Rousseff, o Prefeito Eduardo Paes, e o ex-Governador Sérgio Cabral prometeram construir 2.240 apartamentos no terreno da Oi/ex-Telerj, a ser conhecido como Bairro Carioca II. No entanto, após mais de dois anos de negociações, o acordo ainda está incompleto e nenhuma informação pública foi disponibilizada.
Não há nada que sugira que aqueles da Comunidade Telerj que vierem a receber com sucesso o Minha Casa Minha Vida serão concedidos moradia no terreno da Oi / ex-Telerj. Enquanto isso, as famílias estão abrigadas na Igreja Católica Nossa Senhora de Loreto esperando.