Os moradores da Vila União de Curicica, comunidade na Zona Oeste aproximadamente 1km de distância do futuro Parque Olímpico, estão sendo ameaçados com uma das maiores remoções já anunciadas para as Olimpíadas de 2016 e foram informados há pouco que muitos receberão aluguel social ao invés de receberem os apartamentos do programa federal Minha Casa Minha Vida (MCMV) prometidos pela Prefeitura. Representantes da Prefeitura deram a notícia à Associação de Moradores na sexta-feira, 7 de novembro, causando indignação entre os moradores, que sentem que as autoridades falharam no reconhecimento dos seus direitos à moradia e a garantia de uma compensação justa.
A explicação dada para a remoção da comunidade é de que ela está no trajeto da estrada e BRT TransOlímpica. Entretanto, o traçado original da TransOlímpica segue ao leste da Vila União. A comunidade foi inicialmente informada de que receberia obras imprescindíveis–uma integração total da comunidade, incluindo todas as obras de infraestrutura necessárias–pelo programa Morar Carioca. Ao longo de 2012, a comunidade foi consultada inúmeras vezes sobre as obras necessárias. Mas os planos mudaram sem que a comunidade fosse consultada e os moradores foram avisados que 50% da comunidade deveria ser removida e demolida. Por fim, eles foram informados de que a favela inteira deveria ser demolida para fazer o trajeto da estrada, momento no qual moradias populares próximas foram prometidas.
Enquanto alguns aceitaram serem realojados para perto da Colônia Juliano Moreira, outros têm protestado contra a remoção. Um grupo de resistência vem se encontrando regularmente, e fizeram um protesto em setembro.
Essa mais recente notícia de sexta-feira, 7 de novembro, a de que os moradores não mais iriam receber moradias populares imediatamente, e ao invés disso receberiam o aluguel social (R$400 por mês na 11a cidade mais cara do mundo), levou a comunidade a se unir em grande número na terça-feira, 11 de novembro, para ouvir o Vice-Presidente da Associação, Zezinho Orelha, que falou junto com um representante da Barra da Tijuca, Alex Costa, sobre a situação. A Barra da Tijuca é o bairro vizinho onde o polêmico condomínio de Ilha Pura está sendo construído a apenas 1km de distância da Vila União.
A posição de Zezinho Orelha foi fortemente antecipada, pois ele é uma pessoa poderosa na região. Enquanto muitos tinham esperanças de que Zezinho fosse apoiar a comunidade, ele apresentou o discurso de Costa dizendo para a comunidade que eles estão vivendo ali “ilegalmente por 25 anos” e que agora o governo precisa da terra de volta para o projeto. Antes de passar o microfone para Costa, ele disse: “Quem ganhou, ganhou. Quem perdeu, perdeu”.
Na sexta-feira anterior, dia 7, disseram aos moradores que eles receberiam aluguel social porque o governo estava atrasado na construção dos novos apartamentos do MCMV. Na terça-feira, 11, Costa botou culpa nos moradores, alegando que é impossível conseguir um apartamento porque muitos deles não possuem formas adequadas de identificação e não completaram toda a documentação no Banco do Brasil. Ele disse que os moradores seriam colocados no programa de aluguel social até que possam tirar seus documentos.
Ele garantiu aos moradores que os três primeiros meses de aluguel seriam pagos, mas que ele esperava que as pessoas não teriam que pagar aluguel por muito tempo até que os apartamentos fossem distribuídos. Respondendo a vaias e acusações, ele reconheceu que os governantes anteriores deixaram as pessoas no programa de aluguel social ao invés de dar a eles um apartamento, mas garantiu aos moradores que a administração atual não fará a mesma coisa.
“Ninguém vai ficar de aluguel social”, disse Costa. “Eu garanto.”
Enquanto Costa falava, a multidão se revoltou. Zezinho entrou em cena para adicionar: “Dilma prometeu isso em sua campanha, ela já assinou isso”, encolhendo os ombros para as pessoas.
Coros de “Aluguel Social não!” interromperam o discurso dos dois. Uma mãe com dois filhos, cada um em um braço, disse: “A gente nunca teve que pagar aluguel na nossa própria casa, pra onde a gente vai tendo só R$400 por mês? Vamos ficar na rua!”
Falta de informação e organização na Vila União de Curicica têm sido ferramentas para a Prefeitura nessa situação. O anúncio de sexta-feira, assim como o da demolição da comunidade, veio de surpresa. Na segunda os moradores foram informados da reunião de terça e o horário só foi anunciado na manhã do dia da reunião.
Com o anúncio tão em cima da hora, duas das figuras mais importantes da resistência não puderam comparecer. De acordo com os moradores, a prefeitura fez muito pouco para garantir transparência e disseminar informação. Zezinho e Costa usaram um microfone quebrado, o que dificultou a maioria das pessoas a entender exatamente o que estava sendo dito.
Apesar do apoio de Zezinho ao governo e as palavras de Costa como garantia, os moradores continuam a lutar por seus direitos. A reunião continuou na sexta-feira, dia 14 de novembro, às 19h na associação do bairro. O grupo de resistência se encontrou no mesmo horário para desenvolver estratégias para combater o despejo.