Em reunião com líderes ativistas do Complexo do Alemão no dia 6 de fevereiro, Prefeito Eduardo Paes prometeu seguir em frente com a construção de um instituto de educação superior na comunidade após o projeto quase não acontecer devido a falta de um terreno para construção do campus.
O projeto de erguer um campus do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) no Complexo do Alemão foi colocado em ação em 2011, quando a Presidente Dilma Rousseff lançou uma iniciativa de abrir 208 novos institutos de educação superior em todo o Brasil–três deles na cidade do Rio de Janeiro.
De acordo com o coordenador do Departamento de Desenvolvimento e Expansão Institucional do IFRJ, Marcos Clivatti Freitag, os outros dois câmpus foram aprovados para a Cidade de Deus e Praça XI, em um prédio atualmente ocupado pelo Centro de Artes Calouste Gulbenkian. A cidade escolheu e aprovou os locais em 2011 e 2013, respectivamente, segundo ele.
Apesar de aprovar os projetos, no entanto, as autoridades atrasaram na construção dos câmpus. Com a chegada de 2015, a aprovação do Complexo do Alemão expirou e a comunidade ficou enfurecida.
Mobilização da Comunidade
No Complexo do Alemão, o lento progresso da iniciativa frustrou a comunidade. Alan Brum Pinhero, líder comunitário e coordenador geral do Instituto Raízes em Movimento, disse que os moradores não tiveram conhecimento do projeto até o final de 2014, e por isso não pressionaram as autoridades por um andamento mais rápido.
Quando a aprovação do projeto perdeu a validade no início de 2015, o Departamento de Educação poderia ter descontinuado a iniciativa e pego de volta os quase R$8,5 milhões inicialmente alocados para o projeto. Pinheiro disse que essa perda pode ter privado cerca de 1.500 alunos de educação bem como as oportunidades de emprego que a instituição poderia gerar.
Em janeiro, ativistas da comunidade começaram a pressionar a prefeitura a doar os espaços que havia prometido. Líderes da comunidade criaram uma petição no site Panela de Pressão e escreveram uma carta aberta ao prefeito Paes. A petição reuniu 2.449 assinaturas.
A petição demandou que o prefeito tomasse ações, assinando imediatamente o documento que garante a conclusão do projeto e a doação do espaço para a instituição–o único obstáculo impedindo o IFRJ de começar a construção. Paes aceitou os termos na reunião, disse Pinheiro.
Líderes do Complexo do Alemão contataram ativistas da Cidade de Deus para encorajá-los a também exigir que o prefeito garanta uma instituição em sua comunidade.
Líderes incluindo Pinheiro se encontraram com o reitor do IFRJ Paulo Roberto de Assis Passos para discutir o projeto, e pretendem continuar fazendo pressão sobre ambos os lados para fazer o projeto progredir.
“Nós vamos ter uma grande unidade do Instituto Federal do Rio de Janeiro no Complexo do Alemão”, afirmou Pinheiro. “A gente não vai dar nenhum passo atrás antes que essa unidade comece ser construída aqui dentro”.
Por que o espaço era um obstáculo?
Pinheiro conta que em 2011 a cidade havia tentado aprovar um pedaço de terra para o campus no Complexo do Alemão. No entanto, o projeto desandou após a implementação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em 2012. A terra inicialmente alocada para a universidade foi usada para dar espaço à Coordenadoria da Polícia Pacificadora (CPP), explicou Pinheiro.
A CPP é o departamento de coordenação da polícia militar estatal, que não precisa estar localizado em uma comunidade específica. O prédio poderia ser construído em qualquer lugar do estado, incluindo a Cidade da Polícia, a cerca de dois quilômetros da comunidade.
“[A CPP] pode muito bem estar em qualquer lugar do estado do Rio de Janeiro”, disse Pinheiro.
De acordo com um comunicado de imprensa do IFRJ, as três instituições planejadas devem contribuir para os processos de pacificação tanto no Complexo do Alemão quanto na Cidade de Deus. Líderes do Alemão identificaram recentemente três outras localizações na comunidade que podem servir para a construção do campus. Pinheiro disse que tudo o que precisa ser feito para as construções começarem é o governo local fazer uma avaliação e escolher um dos terrenos.
Impacto positivo na comunidade
Em 31 de janeiro, ativistas se reuniram em um evento da comunidade chamado ReintegrAção para aumentar a consciência do impacto positivo que a arte, a cultura e a educação poderiam ter na comunidade.
Para jovens ativistas do Complexo do Alemão, um instituto de educação superior em sua comunidade significaria um acesso mais fácil à educação e atividades culturais.
Ananda Trajano, 15, membro do Coletivo Papo Reto, disse que ver uma universidade tão perto de casa faria o ensino superior parecer mais alcançável para os moradores da comunidade. Não beneficiaria apenas os jovens, mas todos na comunidade.
“É importante para a cultura, mais ainda aqui porque acho que dá mais oportunidades e mais conhecimento para todo mundo, para a gente conhecer outras coisas”, disse ela.
Durante a reunião da comunidade no sábado, Pamela Passos, ativista e professora do IFRJ encorajou fortemente os moradores a continuarem lutando para a implementação do instituto.
“Galera, não deixe que essa história de ‘a culpa é da presidente, a culpa é do ministério, é da prefeitura’ dividir. Não interessa de quem é a culpa, interessa que a gente quer o IFRJ aqui”, comentou. “O futuro da favela depende do fruto que tu for plantar. Eu quero plantar educação. Chega de polícia. Educação, IFRJ no Alemão agora!”