Cascadura, um bairro da Zona Norte do Rio, que enfrenta desafios econômicos e de mobilidade devido a recentes alterações nas rotas de transporte, também enfrenta dificuldades na recreação, educação e saúde.
Líderes e moradores locais estão se manifestando contra a falta de investimento da Prefeitura em escola pública, um parque e uma clínica local para a comunidade de Cascadura.
Parque Público Orlando Leite
O Parque Orlando Leite é como muitos outros parques em uma cidade grande. Há um grande portão de entrada, grama, árvores, e dois campos de futebol. É um parque de tamanho médio.
Jandira Mariana da Rocha é uma liderança da comunidade e ela nos disse que o local precisa de um pouco mais de cuidado e atenção: “Eles [a Prefeitura] desprezam muito, eu não sei a razão disso, porque é um espaço maravilhoso, tanta criança, tanta gente, pessoas idosas vêm ao parque no final do dia. Aqui tem ventilação, boas árvores, as pessoas vêm para bater um papo e até para fazerem um piquenique”, ela disse. “Então eu fico pensando o que poderia ser isso, uma alegria para as crianças, uma alegria para as pessoas idosas… mas aqui está tudo desprezado”.
O parque é utilizado por moradores de comunidades de Cascadura e bairros vizinhos, disse Rocha. Não é apenas um lugar para exercício, mas um ponto de encontro da comunidade e um espaço político.
Jandira Mariana da Rocha também revelou que em agosto do ano passado, o Prefeito Eduardo Paes prometeu começar reformas no parque no início de setembro para adicionar banheiros, um parque infantil, melhorar os campos de futebol e fazer outras adições ao espaço. No entanto, a prefeitura suspendeu a construção. As renovações do parque estão previstas agora para este mês, cerca de nove meses após a data original.
De acordo com José Fernando Silva, líder da organização de esportes para juventude 6 de Maio, Sonhar e Realizar, um dos principais problemas com o parque é a sua infraestrutura. O parque foi construído há mais de 30 anos e não recebeu quaisquer reformas desde então.
Victor Bruno, um morador de 25 anos de idade e membro da mesma organização de esportes desde a infância, disse que um dos campos de futebol está infestado com ervas daninhas e sempre inunda quando chove. O outro, uma quadra de cimento, tem várias fendas que podem ferir seus usuários em caso de queda. A iluminação no parque melhorou no último ano com a instalação de novas luzes, disse ele, mas o parque permanece escuro e inseguro de noite.
“Se tivesse um projeto de guardas municipais aqui dentro, poderia até ter infraestrutura para ter uns quiosques no final de semana,” ele disse.
No passado, o parque era um lugar associado à violência e drogas. Usuários de drogas se reuniam no interior do parque e cadáveres eram despejados lá por gangues locais. “Todo espaço urbano abandonado pelo estado é um local de marginalidade”, acredita José Fernando Silva. “Em qualquer lugar que o governo não atua, se torna omisso, a violência vai se inserir ali…”
Quinze anos atrás, o estabelecimento da organização desportiva de José Fernando Silva mudou radicalmente a imagem da área. O projeto continua a treinar jovens no esporte hoje.
“As crianças e jovens serviam para ser um mediador pacífico. As pessoas se retiravam, os usuários”, disse José Fernando Silva. “Nós usamos o esporte como um instrumento, uma ferramenta para que possamos inclui-los para livrá-los da violência, para que eles realmente sonhem com outras situações”. Jandira Mariana da Rocha disse que os moradores continuam céticos quanto a possibilidade das reformas prometidas acontecerem.
CIEP Mauricio Manuel Albuquerque
A escola pública M.M.Albuquerque está localizada próxima ao parque Orlando Leite e de acordo com José Fernando Silva, a infraestrutura do prédio é boa. No entanto, o mesmo não pode ser usado como local de recreio da escola.
“O que aconteceu foi que por causa das chuvas o parquinho das crianças brincarem e a quadra estão com afundamentos”, disse Silva.
Miguel Silva de Moura, presidente da Associação dos Moradores de Luiz Carlos Prestes, disse que a escola serve crianças de 4-11 anos, mas elas não têm áreas em que possam brincar agora. “Daqui a pouco vai ter que fechar a escola, pois não há manutenção”, ele disse. “O prefeito até agora não comprou nenhum livro, não comprou sapatos, não comprou uma camisa. As crianças estão sem uniforme e nós já estamos quase chegando no fim do ano”.
Uma questão ainda mais complicada é a recente mudança do horário escolar. Miguel Silva de Moura disse que anteriormente o horário da escola era das 8h às 17h, o que significava que os alunos recebiam café da manhã, almoço e jantar, porém agora os horários foram reduzidos.
“Creio que seja uma ação violenta com as mães porque é o seguinte: as crianças entram às 7:20 da manhã e saem às 14:30. Como ficam as crianças que precisavam dessa alimentação hoje? Então o problema maior do CIEP é essa questão”.
A clínica de saúde local foi estabelecida há 20 anos e muito poucas melhorias foram feitas na sua infraestrutura desde então. De acordo com Miguel Silva de Moura, a clínica não tem equipamentos importantes, não tem salas suficientes e só tem um banheiro para os 36.297 pacientes cadastrados.
Há também um número limitado de profissionais e a clínica não tem médicos disponíveis todos os dias do semana. Especialistas, tais como pediatras e ginecologistas, têm um rigoroso calendário de atendimento de apenas dois dias por semana. No passado, Miguel Silva de Moura conta que a equipe era mais completa e havia atendimento médico completo todos os dias. Agora, nos dias onde há especialistas disponíveis os pacientes começam a fazer fila às 5h para conseguir uma consulta com os médicos que chegam em torno das 9h.
De acordo com Miguel Silva de Moura, a qualidade do atendimento também é questionável. “Eu já vi muita coisa chata e triste ali em questão de atendimento. Eu acho que deveriam limpar tudo e colocar gente nova, com uma formação melhor”, ele disse. “Eles teriam que ser preparados para atender esse pessoal… somos pessoas sofridas demais”.
O Prefeito Eduardo Paes visitou a clínica no ano passado e assegurou à comunidade que ele resolveria alguns dos problemas, mas nada foi feito desde então, disse Miguel Silva de Moura.
“[Ele] disse para a gente que ia olhar com carinho o posto e nós estamos esperando esse carinho até hoje”, disse Miguel.