A campanha realizada pela Chapa Amarela à Associação de Moradores da Babilônia levou o grupo à vitória nas eleições do dia 26 de abril. O grupo, tendo recebido 394 votos, se elegeu na comunidade do Leme, na Zona Sul do Rio. 754 moradores participaram da votação, escolhendo entre a Chapa Amarela e a Chapa Verde, que se encontrava na direção da Associação, e que recebeu 360 votos.
O líder da Chapa Amarela e recém-eleito presidente da Associação de Moradores, André Constantine comemorou o resultado, considerando-o como uma chance de “resgatar a Associação”; a fim de trazer transparência, união, e também de reintegrá-la como “uma instrumento de luta para representar os anseios e desejos do morador e não do poder publico”. André tem se tornado uma figura bem conhecida entre ativistas em prol das favelas cariocas, pelos seus discursos apaixonados, referências históricas e abordagem proativa.
Moradores da Babilônia expuseram os seus desejos, expressando o desapontamento com presidentes de mandatos anteriores e preocupação com antigos casos de corrupção e ineficiência. Thiago, dono de comércio na Babilônia, disse: “Espero que a associação melhore. Tem muitas coisas que a outra chapa não fez, então estou esperando a Chapa Amarela fazer essas coisas”.
André enfatizou que a luta contra a corrupção é a principal medida da sua presidência, mas foi rápido em salientar que essa é uma luta que ele gostaria de levar a outras comunidades ao redor do Rio. Ele acredita que a sua postura de “militante político” e participante do movimento Favela Não Se Cala significa que a sua campanha política tem “uma dimensão de uma visão mais macro das questões que ocorrem na cidade do Rio de Janeiro porque a minha visão não é a micro, ela não fica só focada na Babilônia”. Ele considera a solidariedade como um componente intrínseco da cultura da favela, e tem sido figura importante no suporte às lutas de muitas comunidades da cidade, especialmente na questão da remoção.
“A unificação da luta das favelas” é especialmente importante neste momento, diz André, pois a cidade está enfrentando uma crise imobiliária com a difusão das remoções. Um estudo recente identificou o Rio, em comparação a cidades de todo o mundo, como a cidade na qual o custo de vida mais aumentou nos últimos seis anos. Ele acredita que as favelas do Rio estão todas sob ameaça, seja em razão das remoções, como as que ocorrem na Vila Autódromo, ou pelo processo de gentrificação que vem se estendendo por toda a cidade, e que afeta atualmente a comunidade da Babilônia.
A Chapa Amarela pretende “amenizar” o impacto da gentrificação, que alguns alegam ser, no futuro, “a maior ameaça para as favelas” do Rio, através da criação de um museu territorial na comunidade. Os membros da chapa querem tirar proveito da atenção da mídia atualmente na região da Babilônia, em razão da novela da Rede Globo intitulada Babilônia, para pressionar a Prefeitura a fim de conseguir financiamento para o museu a céu aberto, que irá “resgatar as origens da nossa identidade de favelados”.
Uma das primeiras medidas tomadas pela nova Associação de Moradores foi a de organizar um mutirão, dia tradicional de ação coletiva a fim de resolver problemas locais. Durante o evento de limpeza realizado no dia 24 de maio, André declarou: “Hoje nós estamos realizando aqui o primeiro mutirão de muitos outros que virão a seguir. O mutirão… é o resgate da nossa história. Se a favela existe até os dias atuais, é porque ela resistiu. É uma das ferramentas de resistência que foi usada pelos nossos antepassados quando aqui não tinha praticamente nada, era o mutirão, porque o mutirão não é só trazer melhoria ou abrir um caminho ou a questão da limpeza, o mutirão é um resgate histórico. É o resgate do espírito comunitário, da solidariedade, do apoio mútuo. Então, viva aos mutirões! Viva a Babilônia! Viva a esse novo momento que nós estamos vivenciando”.
Outra principal ameaça que a Associação identificou para enfrentar é a do aumento drástico, e aparentemente arbitrário, dos preços de utilização da rede elétrica pela Light. Esta tem sido uma reclamação frequente em favelas ocupadas por UPPs, que quando investigadas, o RioOnWatch encontrou “evidências preocupantes de irregularidades sistemáticas e abusos cometidos por parte da Light”. Com os preços subindo 100% em um mês, André chamou a situação de “roubo mensal” e exigiu uma explicação.
Morador da Babilônia há muitos anos, Alberto Antonio acredita que a Chapa Amarela pode proporcionar um novo começo à Associação de Moradores, e acredita que seus membros podem “ajudar a comunidade a respirar, fazendo com que ela se torne mais segura e aberta ao diálogo”.