Um retrato de Glenda Fernandes, por Dandara Rodrigues, ambas participantes do curso de Jornalismo da ComCat e novas autoras do favela.info.
Glenda “não Kozlowski”, como eu gosto de chamá-la, tem 23 anos, nasceu em BH e lá viveu até os 18.
Aos 12 anos, fugiu da casa de sua mãe, indo morar com uma tia na mesma cidade.
Aos 15, teve contato com a contracultura punk, através de um amigo da escola que escutava Alice in Chains. De lá pra cá, aprendeu muita coisa sobre música e faça-você-mesmo com os professores que teve na vida, companheiros da caminhada libertária, pessoas que conheceu nas viagens de carona e amigos de sua cidade.
Já trabalhou como garçonete, balconista e telefonista. Sem nunca abandonar seu ideal, ocupava espaços públicos ainda em Belo Horizonte, espalhando cultura geral. Apesar de não ter sido muito popular na escola, uma das professoras que teve no fim do ensino médio foi fonte inspiradora de sua análise critica da sociedade, resultando numa postura anticonsumo forte e contrária à lógica sinistra de mercado. A importância de seus companheiros de luta vai além.
Interessou-se por filosofia quando ainda namorava um cara que curtia Nietzsche. Entrou na faculdade aos 19, mesma idade em que se tornou vegetariana. Se encontrou numa situação chave na vida quando descobriu que querer não é poder, quando se está vinculado diretamente ao capitalismo. Não conseguia bancar os altos custos da universidade, mesmo já produzindo fanzines e adesivos. Os horários do curso não lhe permitiam um trabalho formal e, a essa altura dos acontecimentos, não a satisfaria somente o dinheiro.
Abandonou o curso de filosofia e começou a viajar pelo Brasil de carona. Chegou a ir ao Uruguai com R$ 100, praticando o anticonsumo e a liberdade. Encontrou sua família espiritual numa ocupaçao libertária no Rio de Janeiro. Hoje mora no Cantagalo, mas foi nas práticas e propostas libertárias do espaço autogerido a que pertenceu que aprendeu a quebrar muitas estruturas sociais.
Autodidata do cotidiano, permanece estudante de filosofia, não enquadra sua sexualidade em gênero ou rótulo, não acredita em Deus, muito menos na estrutura familiar tradicional. Já que seus pais nunca foram exemplos, não há porque idolatrá-los . E ela segue feliz, de bicicleta, reciclando alimento nas feiras ou vestida de palhaça em algum semáforo da cidade, ganhando o pão com seu própio suor. Independentemente do sentido mais cru dessa palavra.
Declarando guerra às instituições, morte ao estado e viva a anarquia.
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