No dia 15 de agosto, membros do projeto comunitário Providência Sustentável organizaram um evento para repintar a histórica escadaria central do Morro da Providência, a primeira favela do Brasil. Começando no início da tarde, um grupo de mais de vinte participantes trabalharam até o entardecer, limpando e pintando as escadas em uma ação para aumentar a consciência pública sobre os problemas estruturais e ambientais na comunidade.
Com tintas coloridas e com a ajuda do Favela Painting, jovens moradores escreveram letras de música na escadaria para divulgar os seus pedidos pelas melhorias necessárias no saneamento básico e na coleta de lixo. Continuando até o início da noite, o projeto foi visto por muitos moradores que passaram para cima e para baixo pelas escadas, além da presença dos soldados da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), que estavam ali armados, na parte superior e inferior da escada.
Localizado na Região do Porto, a comunidade histórica da Providência tem enfrentado remoções nos últimos anos devido aos vários projetos da prefeitura, de desenvolvimento da área, incluindo o projeto Porto Maravilha. A criação de um teleférico que liga a Providência à Estação Central é apenas um dos muitos projetos que têm sido fonte de controvérsias. Enquanto os esforços da prefeitura estão concentrados em grandes empreendimentos chamativos, em torno da Providência, aspectos importantes da infraestrutura da comunidade continuam sem solução.
Intitulado “Escadaria em Versos e Cores”, o projeto de sábado usou a arte como um meio de chamar a atenção para questões infraestruturais negligenciadas na comunidade. A visão desta transformação artística foi desenvolvida por Aline Mendes, moradora e fundadora do projeto comunitário Providência Sustentável. Com foco na educação ambiental, Providência Sustentável trabalha para envolver a comunidade em atividades relacionadas à sustentabilidade e consciência ambiental.
“A esperança é de que a comunidade seja ouvida e atendida em suas necessidades de infraestrutura, prestação de serviços, esgoto, água e lixo… de uma forma mais apropriada”, disse Aline, falando sobre a motivação para o projeto.
Localizada na parte superior da comunidade perto da antiga Praça Américo Brum e da estação do teleférico, a escada recebe uma grande quantidade de tráfego a pé e foi a tela perfeita para expor as mensagens da comunidade. “Porque essa é a escada principal, ela traz muita visibilidade para todos… de moradores às pessoas que visitam a favela”, disse Aline.
Além da localização estratégica, a seleção das letras das canções foi essencial para a eficácia do projeto. Frases foram selecionadas à partir de músicas do Cazuza, Ultraje a Rigor, Raul Seixas e Geraldo Vandré, que se relacionam com os problemas vividos pela comunidade, por exemplo, letras usadas da canção “Pra Dizer Que eu Não Falei das Flores” por Geraldo Vandré: “Nas escolas, nas ruas/campos, construções/Somos todos soldados/Armados ou não”.
“A canção fala um pouco do momento que nós estamos vivendo aqui”, disse Aline. Ela explicou que queria “frases com letras políticas” que representassem as demandas da comunidade.
Utilizando a arte como ferramenta para conectar as questões sociais, políticas e ambientais, o projeto Providência Sustentável usa esta escadaria central com um propósito adicional. Este empenho colaborativo para transformar um espaço compartilhado será uma representação visual das vozes da comunidade. O que se espera é que cada passo nos degraus chame a atenção, dos moradores e visitantes, validando os sentimentos da comunidade da Providência.