Milhares de pessoas se reuniram no Parque Madureira na quinta-feira, 10 de dezembro, durante o Festival Todo Mundo Tem Direitos, para celebrar o Dia Internacional dos Direitos Humanos. O evento, organizado por um coletivo com o mesmo nome, procurou trazer a atenção do público para os “direitos das mulheres, dos indígenas, da juventude, dos trabalhadores, das muitas formas de família, dos usuários de saúde pública, dos estudantes, dos jovens negros”.
O evento ocorreu na sequência de uma onda de manifestações que abordam a violência policial, os direitos das mulheres, a violência contra as mulheres negras e a militarização do Rio pré-olímpico. Os organizadores e ativistas de muitas dessas manifestações coordenaram grupos de discussão em um esforço para fazer avançar as conversas sobre os abusos aos direitos humanos na cidade.
Oradores, artistas, estudantes e ativistas foram para o Parque Madureira na Zona Norte do Rio para participar de eventos ao longo do dia. Seções dedicadas à “liberdade de expressão”, “respeito ao corpo”, “direito à vida”, e “música e resistência” abriram espaço para disputa de poesia, recitais de dança, peças de teatro e exposições de fotografia que exploraram a luta pelos direitos humanos no Rio.
Os pontos focais desses espaços foram as discussões a respeito das campanhas de justiça social, facilitadas por organizações e indivíduos engajados no ativismo. Um grupo discutiu as recentes ocupações estudantis em São Paulo, lideradas por dez estudantes do ensino médio que organizaram a ocupação em sua escola. A onda de protestos aconteceu em resposta às medidas do governo do Estado de São Paulo para encerrar as atividades de 94 escolas públicas, exigindo que mais de 311.000 alunos e 83.000 professores se mudassem de escola. Os estudantes paulistas partilharam suas experiências com um grupo de mais de 150 pessoas do ensino médio e estudantes universitários do Rio, que apresentaram o seu interesse em utilizar as ocupações de São Paulo como modelo para seus próprios protestos.
Durante uma discussão sobre a criminalização dos defensores dos direitos humanos, Thiago Melo, coordenador do Instituto de Defensores dos Direitos Humanos, Eloisa Samy, advogada e ativista, e Vitor Guimarães, ativista do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, discutiram a proposta de lei que pode criminalizar os movimentos de protesto que antecedem os Jogos Olímpicos de 2016. Eloisa Samy argumentou que a repressão aos manifestantes aumentou substancialmente desde as manifestações de 2013, estando aqueles que se organizam em torno das questões especificamente relacionadas aos Jogos Olímpicos de 2016 sob intensa vigilância. Eloisa Samy, que enfrentou acusações após as manifestações durante a Copa do Mundo de 2014 e pediu asilo no consulado uruguaio, foi uma forte defensora dos direitos de protesto no ano passado.
O evento assumiu um tom decididamente mais comemorativo com as apresentações de quinze artistas, incluindo Flora Matos, Batida Nacional e Consciência Tranquila. Ao iniciar o show de Caetano Veloso, estima-se que 50.000 pessoas haviam chegado ao parque para o show gratuito.
Participantes e organizadores reiteraram igualmente o valor de ter um dia para construir, debater e comemorar as semanas de manifestações intensas, diante do que muitos já antecipam que serão oito meses contenciosos até a chegada dos Jogos Olímpicos.