Número de Ocupação das Escolas do Rio Dobra à Medida que o Movimento Avança

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O número de escolas públicas ocupadas por estudantes mais que dobrou em apenas quatro dias, totalizando 45 escolas ocupadas até o dia 15 de abril. Nesse mesmo dia, o secretário de educação do Rio de Janeiro, Antônio Neto, reconheceu a legitimidade das ocupações e decidiu iniciar negociações com os estudantes, isso depois do Desembargador Sérgio Seabra Varella decretar, no dia 11 de abril, que a ocupação da escola Mendes de Moraes, na Ilha do Governador, era legal.

O número de escolas ocupadas está variando: de acordo com o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do RJ (SEPE) o número é 64. De acordo com ativistas baseados no Rio são 60. E de acordo com a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro existem ao todo 55 escolas ocupadas.

O governo contestou severamente a legalidade das ocupações das escolas até a decisão do Desembargador Varella. Além disso, o governo também contesta a validade das queixas dos estudantes afirmando que são problemas individuais e pontuais de cada escola.

Em uma entrevista para a Rádio Globo, no dia 29 de março, com o estudante João Victor, da escola Mendes de Moraes, o Secretário de Educação Antônio Neto alegou que as reclamações eram aplicáveis apenas àquela escola e insistiu que tais demandas poderiam ser resolvidas “se eles tentarem conversar diretamente com o diretor da escola”. Ele também disse que os estudantes ainda não haviam tentado falar com ele sobre os problemas que eles vêm enfrentando, mas dez minutos depois, durante esta mesma entrevista, ele afirmou que seu departamento conversou com os estudantes na primeira manhã da ocupação.

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Alguns estudantes relataram ameaças, intimidações e agressões da Polícia Militar durante as primeiras respostas oficiais. A polícia, buscando apoio em zonas cinzas da legislação, tentou invadir escolas como a Chico Anysio, na Tijuca, no dia 8 de abril e a própria Mendes de Moraes em seu primeiro dia de ocupação.

“Eles entraram com força e eles queriam atacar os alunos, dizendo que haviam mais estudantes contra a ocupação. Eles entraram com fuzis M16 aqui no auditório. Eles estavam esperando algum motivo para fazer alguma coisa”, disse o aluno de 18 anos Alan, da escola Mendes do Moraes.

“A PM entendeu que não podia fazer nada aqui dentro porque eles estavam sem mandato e com arma de fogo. No terceiro dia [da ocupação], eles quiseram entrar de novo sem mandato e com arma de fogo, e nós barramos eles nesse dia .”

Estudantes da escola Chico Anysio afirmaram que as táticas da Polícia Militar evoluíram na última semana, ao usarem “pressão psicológica”. Cecilia, de 17 anos, contou que os policiais ligaram para os responsáveis pelos alunos que estavam ocupando as escolas para falar que eles seriam presos. Depois os policiais tentaram entrar à força na escola, e então ficarem do lado de fora do portão com “armas enormes” enquanto três alunos estavam dentro da escola durante as primeiras horas de ocupação.

Alguns estudantes também sofreram ameaças de outras partes. Laetitia, 17 anos, estudante da escola Gomes Freire, na Penha, relatou ao RioOnWatch que durante os dois primeiros dias de ocupação, um indivíduo dizendo ser do Conselho Tutelar do Estado do Rio entrou e agrediu alguns dos estudantes que ocupavam a escola.

“Um conselheiro tutelar quis entrar a força no colégio sem nossa permissão, sem identificação. A gente realmente não sabia se ele era ou não um conselheiro tutelar”, ela ressaltou. “E isso causa uma confusão e ele agrediu alguns alunos”.

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Com apenas cerca de 20 a 30 estudantes, dormindo em diversas escolas ocupadas e com números que chegam a 100 alunos durante o dia, autoridades alegam que o movimento é antidemocrático já que a ocupação dos estudantes não representa a maioria, apesar dos estudantes terem votado pela ocupação antes da mesma acontecer.

“Só aqui tem 2.300 estudantes matriculados. É imoral dizer que somos a minoria só porque muitos não vêm”, disse Alan. 

“Muitos estudantes são menores de idade, e muitos de nós não podemos ficar sempre. E há outros que não podem vir para cá por proibição dos pais. Os pais têm medo de deixarem eles virem por causa do que já aconteceu.”

Estudantes que ocupam as escolas também recebem apoio da comunidade, incluindo doação de comida, materiais de limpeza e acesso ao Wi-Fi de moradores da redondeza das escolas. Estudantes em diversas escolas receberam conselhos de advogados sobre direitos humanos, ratificando a legalidade da ocupação. Com a ajuda de membros comunitários, os estudantes também promovem debates, atividades, aulas alternativas que abordam desde a ditadura militar, feminismo, até muay thai e yoga.

“A comunidade está nos apoiando”, declara Pedro, de 16 anos, estudante da escola Chico Anysio.“As pessoas viram dois camburões de polícia aqui. Então, a gente explicou para eles e eles perguntaram, ‘O que vocês estão precisando?’ A galera que passa na rua também pergunta como pode ajudar”.

Existe também um suporte online ao movimento com mais de 30.000 curtidas na página do Facebook onde os ativistas reportam o movimento e quase 9.000 curtidas nas páginas das escolas ocupadas.

Os estudantes que ocupam as escolas reconhecem que sempre enfrentam alguma oposição, mas estão esperançosos quanto ao futuro do movimento. Com maior adesão ao movimento e o aumento das ocupações, professores e alunos demonstram solidariedade uns com os outros, acabando com as acusações de que professores estavam manipulando os alunos.

“Não é só uma questão do salário”, afirmou Mariana, professora de pedagogia da UFF, enquanto visitava a escola Mendes de Moraes. “É muito mais do que isso: é a falta de condições necessárias para trabalhar e estudar e há muitos funcionários demitidos sem receber salário…”.

Os próprios estudantes vêm a ocupação como um movimento que vai além de suas necessidades pessoais ou das escolas que frequentam. Cecilia está em seu último ano na escola Chico Anysio, bem como Laetitia, da escola Gomes Freire.

“Não vai fazer muita diferença para nós, que estamos no último ano”, declarou Laetitia, “mas não é para nós. É para o futuro”.