A Diretora Executiva da Comunidades Catalisadoras e Editora do RioOnWatch, urbanista Theresa Williamson, foi convidada a participar do Fórum de Debate do The New York Times sobre a possibilidade de adiamento das Olimpíadas Rio 2016. Veja aqui a tradução da matéria do debate:
Se o Rio de Janeiro pode sediar as Olimpíadas ou não é uma questão que tem pouco a ver com a crise política ou financeira–o Rio irá sediar uma Olimpíada livre de problemas fazendo aquilo que melhor faz: encobrindo os danos e mostrando sua face artificial. Moradores de favelas estarão confinados, escolas estarão fechadas, manifestantes serão mantidos à distância devido a temores de repressão policial, comércios poderão ser solicitados a fecharem suas portas para que o tráfego flua e os participantes tenham uma experiência sem preocupações. A cidade é atraente e sabe entreter–fazemos isso todo ano para o carnaval e o Ano Novo.
O Rio irá sediar uma Olimpíadas livre de problemas fazendo aquilo que melhor faz: encobrindo os danos e mostrando sua face artificial.
A infraestrutura foi construída, 77.000 pessoas foram removidas de suas casas, o número de assassinatos de inocentes cometidos por policiais em favelas têm crescido numa tentativa do Estado de apresentar uma imagem de segurança, nossos cidadãos de mais baixa renda já foram empurrados para a periferia urbana sob vigilância das milícias, o estrago está feito.
Em primeiro lugar, as Olimpíadas não deveriam acontecer no Rio. Nós poderíamos ter previsto tamanho estrago numa cidade que tem uma história de apenas construir para exibir e não para servir os seus cidadãos. De todas as cidades brasileiras, o Rio de Janeiro tem a maior porcentagem de moradores vivendo em favelas, as quais por natureza são bairros subinvestidos–em si uma prova histórica de negligência pública e de prioridades equivocadas. E não por acaso, o Rio foi o maior porto de escravos do mundo, o mesmo porto que agora está sendo inescrupulosamente embranquecido. As Olimpíadas no Rio foi uma péssima ideia.
Mas isso não afeta o Comitê Olímpico Internacional, especuladores imobiliários ou empreiteiras–os quais a administração desta cidade está preocupada em impressionar. Isso afeta os cidadãos comuns que perderam uma grande oportunidade de receber investimentos que poderiam beneficiá-los caso fossem aplicados através de um processo de planejamento consultivo bem implementado, destinado a realmente tornar o Rio funcional, inclusivo e ainda mais vibrante. Todo esse dinheiro usado para aumentar a segregação e exacerbar desigualdades! Que desperdício e ah, tão contraproducente para uma cidade já famosa por sua desigualdade.