Perfil de Mídia Comunitária: CDD Acontece

Crédito da foto: Página do CDD Acontece Facebook

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Esta matéria faz parte de uma série sobre veículos de comunicação comunitária.

CDD Acontece é uma plataforma bem sucedida de mídia comunitária da Cidade de Deus na Zona Oeste do Rio. Criada em agosto de 2011 pela moradora Carla Siccos, a plataforma cresceu rapidamente desde então, e tem quase 40.000 curtidas no Facebook, 30.000 das quais Carla acredita ser de moradores.

“O CDD Acontece surgiu de uma ideia que tive após uma conversa com minha mãe. Eu percebi a necessidade de haver um canal que levasse informações úteis para toda a comunidade. As notícias ruins circulavam rapidamente e as boas não circulavam, então foi criado o informativo CDD Acontece no Facebook. Inicialmente, era um perfil e um ano depois eu fiz a página CDD Acontece. A ideia era disponibilizar para ONGs, instituições e movimentos de resistência na Cidade de Deus um canal para divulgar as coisas boas que acontecem na comunidade”, afirma Carla.

Além do website e das redes sociais, existe um grupo bastante utilizado no WhatsApp, com 3.500 membros, onde eles se comunicam sobre eventos, histórias positivas, oportunidades de emprego e qualquer notícia sobre a segurança dos moradores. Carla diz que esta plataforma não é para conversas, mas apenas para divulgação de informações úteis.

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Em março de 2016, o CDD Acontece lançou um aplicativo para celular, mais uma forma de ajudar os moradores a encontrarem informações úteis.  

“É super simples, mas tem grande utilidade; temos 7.000 pessoas usando o aplicativo. As pessoas usam o aplicativo quando estão buscando alguma coisa: um lugar para alugar, procurando um anúncio, ter informações de um lugar. Tem o telefone de todos as instituições da Cidade de Deus. Tem muita coisa no aplicativo e ele se tornou uma referência bem maior do que eu imaginava que seria”, conta Carla.

O objetivo do CDD Acontece é assegurar que os moradores recebam informações sobre os eventos da comunidade, dos quais não tomariam conhecimento sem a plataforma. Carla Siccos explica: “Chegam muitas coisas boas na Cidade de Deus e a comunidade não ficava sabendo [antes do CDD Acontece existir]. Quer dizer, entrava e saia e não era do conhecimento do povo. Criamos este canal para usarmos quando a comunidade tem que passar algumas informações como de um curso, de um emprego. Eles me passam e eu divulgo”.

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Carla estuda jornalismo comunitário na Universidade Ibmec na Barra da Tijuca e ambiciona transformar o CDD Acontece numa organização que expanda o seu apoio à Cidade de Deus.  

“Tem muito trabalho porque eu trabalho sozinha: eu divulgo informações, eu tiro fotos, faço entrevistas. Quando eu não estou na faculdade, eu estou na rua. Só edito uma matéria em casa quando não dá para editar no celular e também dependo do computador para administrar o aplicativo.”

Apesar de Carla Siccos administrar o projeto sozinho, o sucesso depende de um grande esforço colaborativo. Ela explica: “É meio esquisito falar que eu trabalho sozinha, porque toda a comunidade está comigo. Então as vezes surgem ideias e as pessoas mandam para mim, eu aproveito as ideias, fotos, videos ou outras coisas que mandam para mim. E aí a gente faz um pouco de barulho”.

Carla afirma também que é importante manter o CDD Acontece como plataforma virtual: “Recebemos sugestões para virar jornal impresso ou ONG, mas isso não está nos meus planos. É só no virtual mesmo. Todo mundo está no celular o tempo todo, então a gente tem que estar no celular também”.

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Uma dimensão crítica que o CDD Acontece trabalha para mudar é o estigma associado com a Cidade de Deus após o sucesso global do filme de 2002 de Fernando Meirelles and Kátia Lund. Nomeado para o Oscar, o filme trata da violência entre gangues do tráfico de drogas e influenciou bastante o perfil midiático, bem como as percepções sobre a comunidade, e sobre as favelas em geral.  

“A grande mídia só procura o CDD Acontece quando acontecem coisas ruins aqui dentro. E nós temos muitas coisas boas que podemos mostrar. Podem sair matérias lindas daqui, de pessoas que fazem acontecer. Têm atletas, têm pessoas que são brilhantes, que mereciam um destaque. Eu não quero ver essas coisas apenas no CDD Acontece, sabe? Eu quero que outros conheçam estas pessoas e seus trabalhos”, explica Carla Siccos.

CDD Acontece também quer muito ajudar a mudar esse estigma aproveitando a vinda das Olimpíadas para o Rio e com tantos eventos acontecendo a poucos quilômetros da Cidade de Deus. Carla espera levar visitantes estrangeiros para visitar a Cidade de Deus e mostrar como a comunidade é dinâmica e vibrante.

“A Cidade de Deus foi apresentada ao mundo como uma favela super violenta; o filme apenas mostrava isso. Não mostrou nada além da violência. A gente têm problemas sim, como o tráfico de drogas, e mesmo os policias, mas não é só isso, como todo o mundo imagina.”

CDD Acontece trabalha para mudar, não só o estigma que existe fora da comunidade, mas também o estigma que a comunidade tem de si mesma a partir da imagem negativa que a mídia mostra.

“Nós vemos a nós mesmos com ‘maus olhos.’ Sempre soube que aqui têm coisas boas. Eu me senti na obrigação de mostrar ao mundo que temos coisas boas.”

Para mais informação, visite a página do Facebook do CDD Acontece ou siga o CDD Acontece no Twitter.