A comunidade indígena urbana Aldeia Maracanã anteriormente ocupava o antigo Museu do Índio próximo ao estádio do Maracanã, onde a cerimônia de abertura das Olimpíadas 2016 acontecerá hoje. O local foi o lar da comunidade de 2006 até a sua remoção em março de 2013, e na esteira da remoção violenta, o governo do Estado anunciou que o edifício seria transformado no Museu Olímpico do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Porém, segundo protestos, em dezembro de 2014 foi decretado que o Centro de Referência da Cultura dos Povos Indígenas seria estabelecido no local. A expectativa entre os antigos moradores era que o Centro de Referência estaria pronto até abril de 2016.
O governo federal era dono do edifício até que ele foi vendido para o governo do Estado do Rio de Janeiro em 2012 por R$60 milhões. Construído em 1862, ele já havia abrigado o Serviço de Proteção Indígena (SPI) e foi o primeiro museu dedicado à cultura indígena no Brasil, mas continuou abandonado e negligenciado até que foi ocupado pelas famílias indígenas em 2006. Chamada de Aldeia Maracanã, a ocupação se estabeleceu como um ponto de referência cultural e organizou uma forte resistência contra a remoção. Embora não terem conseguido resistir a remoção, os moradores conseguiram salvar o edifício histórico da demolição em 2013, e conseguiram a promessa de que o museu seria renovado e transformado em um centro de referência para a cultura indígena.
Contudo, desde então nem o Comitê Olímpico Brasileiro nem o governo do Estado realizaram qualquer obra para transformar o local em um museu e, atualmente, o espaço sofre com a presença policial contínua para evitar uma nova ocupação. Nas próximas semanas, a região ao redor da antiga Aldeia Maracanã receberá milhares de pessoas nas cinco arenas Olímpicas na região do Maracanã.
Retirados do ponto de referência que haviam estabelecido para a cultura indígena no Rio de Janeiro, a maioria dos moradores da Aldeia Maracanã foi inicialmente reassentada em contêineres em Jacarepaguá, na Zona Oeste, a mais de uma hora de distância, antes de serem reassentados em prédios do Minha Casa Minha Vida no Estácio, um bairro com localização central na Zona Norte.
Carlos Doethyró Tukano, presidente da Associação Indígena da Aldeia Maracanã, comenta sobre a disparidade entre os investimentos no complexo do Maracanã e o museu, agora inabitado, que já foi seu lar. Ele diz: “De um lado está o Maracanã que foi renovado com mais de R$1 bilhão, e do outro está o pequeno espaço do Museu do Índio onde a renovação não passaria de R$7 milhões para as reformas urgentes”.
A comunidade e os apoiadores estão lutando pelo restabelecimento de um centro indígena no local da Aldeia Maracanã e por um espaço para retomar suas atividades culturais e modo de vida. Protestos pacíficos foram realizados do lado de fora do edifício e o grupo entrou com um ação para voltar à ocupação.
Contudo, Carlos Doethyró Tukano acredita que nada vai acontecer ou progredir até depois das Olimpíadas. “Eu acho que eles não vão mexer em nada agora. Eles não farão nada até setembro por causa das Olimpíadas, que trará várias pessoas para aqui no Rio. A mesma coisa aconteceu com a Copa do Mundo. Eles não vão se importar conosco agora”.