Impeachment: O Brasil Viveu um Golpe Machista [OPINIÃO]

Esta matéria de Juliana Portella faz parte de uma série de matérias de opinião sobre o impeachment por comunicadores populares publicadas no RioOnWatch.

A primeira mulher eleita presidenta é afastada sem ter cometido nenhum crime.

O violento afastamento definitivo de Dilma Rousseff revela o seu caráter machista e misógino. O golpe tem raízes classistas e fundamentalistas uma vez que foi construído às sombras, maquinado por homens, brancos, ricos que sempre estiveram incomodados com a autonomia e o empoderamento feminino de uma mulher à frente da presidência.

Desde o início do processo de Impeachment, podemos perceber o machismo ali presente: a manipulação midiática, as campanhas visuais violentas contra a presidenta, reportagens que a colocavam o tempo todo como descontrolada e incapaz de administrar o país. Os golpistas foram muito cruéis em desqualificar Dilma com julgamentos machistas, que atingiam sua honra e aparência física.

Também foi possível perceber o caráter classista e misógino no momento de votação na câmara dos deputados do Brasil, ocasião que a maioria dos deputados mencionavam a família em seu modelo mais conservador e limitado. Quando Temer anunciou seus novos ministros, escancarou-se a ausência total de mulheres nas funções ministeriais.

A palavra que resume esse novo governo é retrocesso

Os inimigos da democracia, com suas forças políticas conservadoras e corruptas esforçaram-se tanto que conseguiram derrubar Dilma. Fizeram parte deste golpe nomes envolvidos em grandes esquemas de corrupção, como o agora afastado presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB) e o candidato derrotado em 2014 Aécio Neves (PSDB). Além do falso moralismo do Zezé Perrela, dono de um helicóptero apreendido pela Policia Federal com mais de 400 kilos de cocaína.

Após 13 horas de interrogatório, feito por 48 senadores, Dilma mostrou o quanto é guerreira. Em seu discurso, disse: “Na primeira vez, fui condenada por um tribunal de exceção. Daquela época, além das marcas dolorosas da tortura, ficou o registro, em uma foto, da minha presença diante de meus algozes, num momento em que eu os olhava de cabeça erguida enquanto eles escondiam os rostos, com medo de serem reconhecidos e julgados pela História. Hoje, quatro décadas depois, não há prisão ilegal, não há tortura, meus julgadores chegaram aqui pelo mesmo voto popular que me conduziu à Presidência. Tenho por todos o maior respeito, mas continuo de cabeça erguida, olhando nos olhos dos meus julgadores”.

Por isso eu, mulher, de origem popular, que foi beneficiada com alguns programas do governo petista, e muitos brasileiros, eleitores ou não de Dilma, continuaremos  resistindo e lutando contra esse golpe antidemocrático.