Quem circula pela Vila Olímpica da Maré de manhã já sabe quem treina por lá: Edivandro Rosa, de 38 anos, que fez do espaço um degrau para conviver com a cegueira. Morador da Vila do Pinheiro, já viveu em casa de palafitas e na Rua do Canal. Quando pequeno, ajudava sua mãe a sustentar a casa catando latinhas. “Eu fazia isso para sobreviver. As vezes não tinha o feijão, não tinha o arroz. Mas minha mãe era batalhadora e por isso a gente nunca dormiu com fome”, afirma.
Aos 20 anos, descobriu o glaucoma, uma lesão no nervo dos olhos. Mesmo com tratamento, aos 33 anos perdeu totalmente a visão e passou a perceber o mundo de outra maneira. Esteve com depressão durante dois anos.”De lá pra cá eu passei por muita coisa, mas eu consegui vencer”. Entender e aceitar o futuro dali para a frente era um grande desafio. Mas sua vida mudou.
Conheceu o Projeto Jaqueline Terto em 2013 e desde então aprendeu a praticar o atletismo. Acorda às 4h da manhã e anda cerca de 1 km sozinho até chegar na Vila Olímpica da Maré. “Meu treinamento diário é uma preparação para as aulas. Meu dia a dia é atletismo puro”.
Para treinar com qualidade, recebe assessoria do projeto, que é composto por profissionais de diferentes áreas: yoga, capoeira, hidrocapoeira e hidroterapia. Outro apoio é o benefício social da Prefeitura do Rio, que ajuda a manter sua casa.
Edivandro é um homem solteiro, por isso tem mais tempo livre para se dedicar à profissão. A mãe, que mora junto e é chamada de guerreira, acompanha, mesmo de longe, todas as competições. A falta de visão não o impede de nada. “Eu só fico triste com algo que eu deixei de fazer”, conta ele.
A maior felicidade da vida do atleta são suas conquistas. Ele já participou de inúmeras maratonas, coleciona medalhas e tem em sua estante dois troféus. Um deles recebeu recentemente, por ficar em segundo lugar na Ultramaratona dos Anjos Internacional 2016. A prova de 235 quilômetros foi realizada na cidade de Passa Quatro (MG), subindo e descendo as montanhas de Minas Gerais. Os atletas passaram por cinco territórios, um deles foi a cidade de São Lourenço. Edivandro foi acompanhado por quatro atletas sem deficiência física e mostrou que não há limitações: completou 26 horas de prova.
“Por eu ter passado dessa prova, eu posso dizer que venci. Meu maior sonho é ser reconhecido internacionalmente. Mas acho que estou perto. Essa prova vai me proporcionar muita coisa boa ainda”, conta ele, com um sorriso no rosto.