Casas pertencentes a aproximadamente 200 famílias foram destruídas pelo governo do Estado do Rio de Janeiro no último final de semana, após moradores terem sido removidos à força de uma pequena favela no Complexo do Alemão.
Às 11 da manhã do dia 1º de outubro, policiais da UPP do Alemão chegaram na Favela da Skol e, sem ordem judicial, ordenaram que os moradores deixassem o local. A Polícia Militar também chegou e após resistência dos moradores, os policiais usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha para forçadamente liberar a área. Os moradores estimam que 15 a 20 policiais estiveram presentes. Às 4 da tarde, apenas entulho permanecia no local onde antes estavam 200 casas simples, diversos espaços comunitários e três prédios.
A área, nomeada por causa da fábrica da Skol que anteriormente empregava moradores do Alemão, foi declarada uma “área de risco” e os moradores foram removidos em 2010. Muitos moradores da Skol aceitaram ofertas de aluguel social do governo enquanto novos apartamentos de habitação pública seriam construídos para eles no mesmo local. Contudo, o governo do Estado do Rio de Janeiro repetidamente falhou em entregar esta promessa, e a favela foi cotada como um dos potenciais locais para o campus da universidade do Complexo do Alemão que o prefeito Paes prometeu. O espaço permaneceu vago, e no dia 30 de setembro, cerca de 200 famílias retornaram para ocupar o local após seis anos de promessa não cumprida.
“Nós tínhamos problema com a especulação imobiliária“, disse a moradora Camila Santos. “O governador do Estado passou a informação para a gente de que o terreno era do governo do Estado, e que as unidades de habitação pública seriam construídas aqui. Só que a gente descobriu que não houve esta desapropriação, e que o projeto é falso”.
Camila Santos e outros moradores depois descobriram que o governador do Estado do Rio estava planejando oferecer habitações populares localizadas longe de suas comunidades, escolas e trabalhos, na Zona Oeste da cidade. Os moradores da Skol agora estão inteiramente em um limbo, sem ter a solução para o fornecimento de habitações públicas, e com cada vez menos ajuda do estado para pagar aluguel.
“Recebo R$700 por mês como salário; pago R$700 por mês de aluguel. Tenho 3 crianças. O que eu faço?” perguntou Camila Santos. “Quando a gente saiu daqui, a gente estava feliz porque parecia uma boa opção: aluguel social, com a oportunidade de realocação, mas nós fomos enganados”.
“Nós fomos até o prefeito, fomos a Alerj, mas nada. Eles disseram que construiriam apartamentos, praças, e eles destroem sua casa linda e deixam isso”, disse Camila Santos, apontando para o entulho.
No último final de semana remoções e demolições chamaram atenção da mídia internacional após os jornalistas comunitários Rene Silva e Renato Moura do jornal Voz da Comunidade terem sido presos enquanto transmitiam eventos ao vivo pelo live stream do Facebook. Rene Silva e Renato Moura foram detidos por volta das 3 da tarde por desacato à autoridade, desobediência civil e invasão. Eles foram liberados mais tarde e a ação da polícia foi condenada pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Anistia Internacional Brasil e pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI).
A Secretária de Estado de Segurança do Rio tentou dissipar a ideia de que a polícia teve comportamento agressivo, com o investigador criminal Mauro Ricart dando uma declaração para o Globo que tentou desconsiderar as filmagens de Rene Silva e Renato Moura. A declaração de Mauro Ricart ignora de bom grado as declarações de testemunhas e sugere que os disparos poderiam ter vindo da própria favela. Contudo, Camila Santos diz que por mais que a Skol fosse uma comunidade pobre com condições de vida precárias, a violência nunca foi um problema.
“Não há traficantes, nem criminosos–só trabalhadores e as famílias. Nunca teve problemas aqui. A problema maior [para nós] era o saneamento básico”.
Camila Santos e outros moradores da favela agora estão aguardando uma reunião com a Secretária de Segurança do Rio, marcada para acontecer hoje, 10 de outubro, para investigar quem autorizou as operações da polícia e o comportamento agressivo demonstrado no dia 1º de outubro. Eles também estão esperando para ter notícias sobre como está a situação do desenvolvimento das habitações. Até o momento, eles permanecem sem nenhuma palavra sobre o que acontecerá com o aluguel social ou quando eles vão ter algum lugar novo na comunidade para viver.