No dia 11 de março, membros da comunidade se reuniram para iniciar um fim de semana de conscientização e artivismo no Camorim, um quilombo urbano em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio próximo ao Parque Olímpico. O mutirão focou na retirada da vegetação em excesso ao redor das trilhas e no embelezamento do muro próximo à área florestal da comunidade. Um grupo de crianças da comunidade juntamente com artistas experientes e amigos do quilombo puseram-se a pintar imagens simbólicas do Camorim como, por exemplo, a sua cachoeira e a pequena igreja azul e branca construída em 1625, a igrejinha, que saúda os visitantes que chegam. Uma vez branco, o muro ao lado da Igreja Camorim foi transformado em um retrato da rica história do Camorim como um santuário para escravos fugitivos que protegeram sua liberdade ao construir uma comunidade isolada. O local era uma área remota até as últimas décadas.
Do outro lado do muro, no entanto, há sinais de um mundo muito diferente daquele dos quilombolas. Árvores quebradas e entulho marcam uma trilha para os condomínios e seus tanques de água que foram construídos durante os preparativos dos Jogos Olímpicos de 2016. Esta construção de condomínios de moradia e o subsequente desmatamento usurpou direitos sobre as terras do quilombo, o que levou alguns moradores a buscar indenização, ou através da restauração do meio ambiente que foi destruído neste processo, ou através de uma declaração formal detalhando o delito. A disputa pelas terras foi especialmente sensível para a comunidade porque a terraplanagem afetou uma parte da paisagem considerada patrimônio histórico para o Camorim em 2014, quando a construção começou.
Adilson Almeida, presidente da Associação Cultural Quilombo do Camorim (ACUCA), comentou sobre a ilegalidade da construção no local, pois a construção foi aprovada rapidamente sem consultar os moradores. Depois de grande parte da terra ser escavada, foram descobertos artefatos cerâmicos no solo que levaram a afirmação do significado histórico do local. Atualmente, um arqueólogo do Museu Nacional está estudando o local, e acredita-se que sejam os restos de um moinho de farinha do século XVII. Adilson espera que o IPHAN reconheça oficialmente o sítio arqueológico, bem como o quilombo, como sendo culturalmente e historicamente significativo.
Quanto ao futuro de Camorim, Adilson e a ACUCA têm grandes planos. Este fim de semana foi o primeiro de uma série de melhorias planejadas para a comunidade. Após a retirada do mato em excesso, há planos para construir um centro cultural para abrigar aulas de capoeira dadas por Adilson, cursos de inglês e espanhol para crianças, bem como aulas de dança, como jongo e a nordestina coco de roda–todas grátis. Outro projeto a longo prazo é reflorestar a terra que a construção do condomínio destruiu usando plantas nativas da Mata Atlântica. A ACUCA administra todas as melhorias no Camorim com pouco apoio financeiro externo–graças à resiliência da comunidade e ao apoio contínuo de amigos e aliados.