Não às Olimpíadas de Boston: Como e Porque Cidades Inteligentes Estão Passando a Tocha (No Boston Olympics), escrito por Chris Dempsey e Andrew Zimbalist, autor de Circus Maximus, O Jogo Econômico por Trás do Sediamento das Olimpíadas e da Copa do Mundo, fala da luta contra levar as Olimpíadas para Boston.
Quando um grupo da elite de Boston se organizou para levar os Jogos Olímpicos de 2024 para Boston, Massachusetts, EUA, cidadãos preocupados decidiram protestar. Apesar das muitas promessas Olímpicas, um longo histórico de problemas tem atormentado as cidades-sede ao final do evento. Significativos déficits financeiros, grande deslocamento de moradores e os chamados “elefantes brancos”–estádios caríssimos que não terão mais uso para a cidade-sede–são bons exemplos. Chris Dempsey, ex Secretário Assistente de Transportes de Massachusetts e Andrew Zimbalist, economista e perito em megaeventos, reconheceram a ameaça representada na candidatura de Boston para os Jogos Olímpicos e mobilizaram um movimento para impedi-la. Embora o movimento tenha parecido um Davi moderno diante de um Golias composto por apoiadores nacionais e internacionais das Olimpíadas, o movimento No Boston Olympics finalmente triunfou. O No Boston Olympics oferece uma visão mais detalhada sobre os esforços de um grupo de cidadãos dedicados a acabar com a candidatura Olímpica Boston 2024.
Criando a Candidatura
Depois de um começo mal sucedido em 2012, a oferta para fazer das Olimpíadas de Boston 2024 uma realidade realmente deslanchou em março de 2013 com o apoio de John Fish, empresário considerado pela Boston Magazine a pessoa mais poderosa de Boston. Com o apoio de Tom Menino, prefeito de Boston há vários anos, Fish elaborou uma campanha para a candidatura de Boston ter o endosso do Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC) como a cidade americana candidata oficial para os Jogos Olímpicos de 2024. Eles rapidamente juntaram um grupo bem financiado para organizar uma candidatura Olímpica para Boston, garantindo o aval do governador Deval Patrick, líderes da indústria de Boston e chefes políticos. Criaram um movimento e estimularam os líderes de negócios necessários para financiar uma grande campanha para vencer a candidatura Olímpica do USOC.
O começo de um movimento
Enquanto isso, Chris Dempsey, Liam Kerr e Kelley Gossett criaram um movimento de base contrário à proposta Boston 2024. Os três nativos de Massachusetts tinham a experiência de trabalhar na política local de Boston e se uniram devido as preocupações com a candidatura. Os três temiam que o projeto fosse trazer altos custos para a cidade. Como o Comitê Olímpico Internacional (COI) incentiva diversos grupos a oferecerem propostas para os Jogos, os preços e as despesas podem disparar à medida que cada cidade concorre para ganhar a aprovação do Comitê. Os entusiastas da Boston 2024, Fish e seus parceiros, negociariam em nome da cidade, mas a cidade e seus cidadãos seriam, na verdade, os responsáveis por todos os custos excessivos. Dempsey, Kerr e Gossett sabiam que isso não poderia acabar bem para os contribuintes e público em geral. Juntos, criaram um grupo chamado No Boston Olympics para se opor a este fardo na sua cidade.
Uma batalha difícil
O No Boston Olympics foi forçado a lutar estrategicamente para triunfar sobre os entusiastas da Boston 2024. O No Boston Olympics jamais se equiparariam aos recursos ou aos poderes político e financeiro da Boston 2024. Praticamente todos os participantes importantes na política de Boston, incluindo o recentemente eleito prefeito Marty Walsh, favoreciam o grupo de Fish. Enquanto a Boston 2024 procurava ganhar o USOC, No Boston Olympics voltou sua atenção para a mudança da opinião pública. O grupo se engajou com o público de todas as maneiras. Mídias sociais como o Twitter e o Facebook permitiram, de forma rápida e barata, que eles disseminassem informações aos seus seguidores. Através das contas pessoais dos organizadores no Twitter, puderam se envolver com ativistas e membros da mídia mais efetivamente do que a Boston 2024. Suas hashtags mais famosas, como #PullTheBid (#ReitreACandidatura) receberam cobertura de diversas mídias na área de Boston. Eles aproveitaram as oportunidades na mídia para contestar alegações infundadas da Boston 2024 e a falta de transparência durante o processo. Zimbalist, professor de economia na Smith College, se juntou ao No Boston Olympics e escreveu editoriais destacando os problemas inerentes ao processo de licitação. O grupo também realizou reuniões com vários especialistas para explicar os desafios que vêm com o sediamento de uma Olimpíada. Enquanto isso, os patrocinadores da Boston 2024 evitavam quaisquer potenciais encontros com críticas ou o público em geral, já que estavam prestes a conseguir aprovação do USOC. A Boston 2024 apresentou sua proposta para o USOC sem permitir que qualquer pessoa, sendo parte da população ou da mídia, lesse as condições com as quais estavam concordando.
A vitória
Em 8 de janeiro de 2015, o USOC oficialmente declarou a proposta de Boston como a candidatura dos Estados Unidos para sediar os Jogos Olímpicos de 2024. Com a explicação do Comitê sobre o planejamento, agora público, grandes possíveis problemas passaram a ficar ainda mais visíveis. O No Boston Olympics destacou estas preocupações, trazendo a necessária atenção do público para as potenciais consequências negativas dos Jogos. Parques públicos seriam tomados, transporte público deveria ser massivamente reformado e esforços seriam necessários para restringir certas dissidências políticas. Legisladores estaduais começaram a trabalhar para pedir mais transparência e prestação de contas dos patrocinadores. Grandes problemas durante um inverno com muita neve expuseram as falhas no sistema de transporte público de Boston e a população também passou a se preocupar. Com o surgimento de problemas com a documentação da proposta, uma possível suscetibilidade financeira e mais outros, o No Boston Olympics se preparou para seguir em frente e analisar melhor estas inquietações. O Boston 2024 se tornou mais impopular entre a população de Boston em geral e também seus políticos, o que incluía o recentemente eleito governador Charlie Baker. Finalmente, em 27 de julho, seis meses após escolher Boston como a cidade representante, o USOC retirou seu apoio à candidatura da cidade. Apesar dos desafiadores reveses, o No Boston Olympics obteve sucesso e impediu que as Olimpíadas fossem sediadas em Boston.
Não às Olimpíadas de Boston: Como e Porque Cidades Inteligentes Estão Passando a Tocha detalha de forma vibrante o difícil processo de desafiar a cidade e os negócios das elites políticas do país, e ganhar. Sua clareza e rigor o tornam uma leitura fácil e necessária para os esforços de resistência contra megaeventos. As estratégias do No Boston vão inspirar o trabalho de futuras cidades que resistem aos Jogos Olímpicos. Ativistas devem envolver o público a considerar os Jogos Olímpicos como qualquer outro grande investimento público: promover um processo de deliberação transparente que pese cuidadosamente os custos e benefícios para sua cidade. A onipresença da mídia social permite que ativistas se envolvam com as partes interessadas mais diretamente e de forma mais eficaz do que nunca. O No Boston Olympics mostra que, embora a luta não seja fácil, é possível vencer. Com o No Boston Olympics, Dempsey e Zimbalist oferecem um olhar para os esforços de resistência bem-sucedidos que esperemos que possam ser exportados para o futuro trabalho de oposição, incluindo o mais recente campo de batalha: Los Angeles.