De sexta-feira 7 de julho a domingo 9 de julho, a Comissão de Moradores do Horto realizou o Arraiá do Horto. Com o lema “De Arraiá em Arraiá, o Horto Resiste”, o Horto aproveitou a tradicional celebração para marcar mais um ano de resistência em uma história de duzentos anos que se intensificou nos últimos anos devido a ameaça de remoção por parte do governo federal. Muitos moradores e amigos de outros locais juntaram-se para homenagear a luta da comunidade de forma festiva.
Como explicou Emerson da Souza, atual presidente da Associação de Moradores e Amigos do Horto, a ideia por trás desta edição, em particular, era reunir os moradores da comunidade e reviver a resistência e o espírito da comunidade. De acordo com Emerson, a estratégia das autoridades até agora foi de “eliminar lugares onde a comunidade se encontra e se organiza politicamente”. Ele explicou que “na década de 1950, esta era uma zona semi-rural”. O Horto tem organizado arraiás há anos, mas com a atual ameaça de remoção, esta edição é ainda mais importante. Além de comida e bebidas típicas, a Comissão de Moradores do Horto também vendia camisetas com a frase: “Horto fica!”.
A comunidade histórica do Horto está situada na Zona Sul do Rio, entre o Jardim Botânico e o Parque Nacional da Tijuca. Existe há mais de 200 anos e tem sido ameaçada de remoção pelo Jardim Botânico desde a década de 1960. De acordo com Emerson, há cerca de 500 famílias ainda sob ameaça de remoção na comunidade, e ele assegura que as remoções não têm base legal e estão puramente ligadas a especulação imobiliária. As pessoas no Brasil agora estão vivendo sob uma “ditadura do capital”, ele disse.
Moacyr de Oliveira Paiva Jr, que também é presidente fundador da Comissão de Moradores do Horto, denuncia as remoções como inconstitucionais, explicando que a maioria dos antepassados dos moradores do Horto vieram trabalhar no Jardim Botânico, o mesmo Jardim Botânico que agora tenta removê-los. Na verdade, as ações judiciais do Jardim Botânico contra os moradores de Horto foram apresentadas em 1985, enquanto o Brasil ainda era uma ditadura militar, antes da Constituição brasileira atual ser estabelecida. Ele disse que sua esposa, Beatriz, é a quarta geração da família que vive no Horto junto com sua filha Laura, portanto, da quinta geração. Há sua frente, Emerson apontou o morro e mostrou um enorme duplo critério: “há casas na floresta acima do Jardim Botânico, por que eles podem ficar e nós não?”
A Comissão e a Associação de Moradores e Amigos do Horto vem trabalhando juntos para combater a remoção há anos e usam todos os recursos legais disponíveis. Muitos moradores receberam notificação de despejo sem ofertas de habitação alternativa ou indenização. O futuro da comunidade permanece altamente incerto. Em 2013, o Horto foi incluído no Mapa de Conflitos e Injustiça Ambiental em Saúde no Brasil realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP). No mesmo ano, o Museu do Horto foi reconhecido como um “ponto de memória” entre os museus brasileiros.
O “arraiá” foi um momento de estar juntos, compartilhar ideias, comidas, bebidas e de retomada dos espaços públicos do Horto, um breve momento de celebração e alegria ao longo de sua batalha. Mas logo em seguida para a segunda-feira, 10 de julho, a Comissão já havia planejado uma reunião para pensar sobre a resistência à remoção e planejar novas ações. O arraiá também foi outra ocasião para que os convidados conhecessem melhor a causa dos moradores do Horto. Parceiros de longa data como o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) estavam presentes com uma barraca de comidas. Como Moacyr disse, “se acontecer em uma comunidade histórica como o Horto, pode acontecer em qualquer lugar”.