No dia 28 de setembro, no Cine Santa, em Santa Teresa, o curta-metragem Favela como Modelo Sustentável realizado pela Comunidades Catalisadoras* (ComCat) foi exibido como parte do festival Santa Na Mesa, que celebra o desenvolvimento sustentável e a vida sustentável. A sessão do filme foi organizada pela Mairarê Produtora e pela Associação dos Amigos e Empreendedores de Santa Teresa. Após o filme, Cris dos Prazeres, da iniciativa ambiental ReciclAção do Morro dos Prazeres, e Fernanda Cubiaco, representando o Movimento Lixo Zero, participaram de um pequeno debate sobre os desafios ambientais no Rio de Janeiro.
Após a projeção do filme, a Diretora Institucional da ComCat e uma das produtoras do filme, Roseli Franco, explicou a ideia por trás da produção. O propósito, ela disse, era aproveitar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20, que acontecia no Rio em 2012, para dar visibilidade a alguns dos desafios que as favelas enfrentam que podem ser desconhecidos aos não-moradores, e ao mesmo tempo documentar a sustentabilidade inata dessas comunidades e suas soluções locais: “Nós quisemos fazer um filme sobre os problemas que surgem da negligência governamental e sobre as pessoas que já estão criando soluções para esses problemas”.
Roseli explicou que a ONG divulgou um chamado para projetos comunitários participarem do documentário e muitos responderam, incluindo a ONG socioambiental Verdejar, do Complexo do Alemão, e o Favela Orgânica, um projeto com base na Babilônia e no Chapéu-Mangueira que utiliza restos de comida criando uma culinária deliciosa. Os projetos que se inscreveram abordam questões como esgoto e lixo, e a necessidade da educação ambiental. A equipe da ComCat selecionou projetos de diferentes áreas da cidade para mostrar a grande variedade de favelas com iniciativas ativas e reconhecer seus valores.
Em seguida, o microfone foi passado à Fernanda Cubiaco, do Movimento Lixo Zero, que abordou o quanto é importante mostrar e dar visibilidade a esses exemplos de ativismo e resiliência. Seu próprio ativismo acerca do problema do lixo na cidade começou quando ela observou a falta de cuidado com os espaços públicos da cidade que frequentemente estão cheios de lixo. Fernanda explicou que o objetivo do Projeto Lixo Zero é levar as pessoas a repensarem o jeito com que olham para o lixo e a se conectarem com o lixo que produzem para que sejam mais conscientes do seu impacto. Ela delineou como o movimento está atualmente tentando encontrar formas de reduzir o lixo no meio ambiente através do trabalho com sessenta restaurantes e algumas escolas e hotéis para ajudá-los a reduzir sua produção de lixo. O movimento também está trabalhando no momento para criar bairros com zero produção de resíduos e o objetivo é continuar expandindo, para envolver mais negócios e ser um exemplo para outros municípios.
Após Fernanda, Cris dos Prazeres também falou sobre a importância do documentário dar visibilidade a uma parcela da sociedade e da cidade que é deixada de lado pelo governo. Ela se apresentou como participante do grupo Prevenção Realizada com Organização e Amor (PROA) do Morro dos Prazeres. O grupo trabalha para apontar diversos problemas de saneamento que surgiram da negligência governamental ao longo de muitas décadas. Nos Prazeres, Cris explicou, eles possuem uma história de resiliência comunitária. Ela relembrou como em 2010, após uma grande avalanche de lixo acumulado ter matado mais de 30 pessoas, eles decidiram agir a respeito do grande problema do lixo nas favelas. Cris disse: “Nós começamos a sensibilizar a nós mesmos para vermos o meio ambiente de forma diferente”. Daí em diante, o grupo começou a se conectar com diferentes comunidades e a realizar pesquisas, e assim o projeto ReciclAção surgiu.
O objetivo do ReciclAção é “sair do foco do conforto e do consumismo… e começar a pensar sobre o lixo”. Cris destacou a completa falta de coleta de lixo adequada na maior parte das favelas. Hoje, o ReciclAção está tentando mudar isso, ela disse que há agora 40 ecobags pelo Morro dos Prazeres, várias áreas para compostagem e diferentes tipos de coleta de resíduos. A equipe do projeto organiza discussões em escolas e igrejas para educar e aumentar a conscientização dos moradores sobre os cuidados com o meio ambiente. No debate de quinta-feira, Cris enfatizou que o ReciclAção está desafiando a ideia equivocada de que não é possível desenvolver reciclagem eficaz e coleta de lixo nas favelas.
Quanto ao público, um grupo de jovens estudantes do Prazeres se juntou à discussão, com um menino de 10 anos dizendo que ele sabe que seu lixo é coletado e reutilizado nos Prazeres. Outros membros do público reconheceram a importância de falar sobre o consumo: as pessoas devem se tornar mais conscientes da constante pressão ao consumo e começar a reavaliar e reduzir suas necessidades. Outro membro do público argumentou que devemos parar de ver o problema do lixo e do consumo como algo externo e perceber que ambos o problema e a solução começam em cada um de nós.
*Comunidades Catalisadoras é a organização responsável pelo RioOnWatch.