Nove meses após serem despejados pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, Carlos Machado Lopes e família: sua mãe, uma senhora de idade chamada Jacy, seu irmão Edmilson e sua cunhada Vanessa, continuam a não ter suas casas. A casa da família na comunidade do Campinho foi demolida sem aviso prévio em maio de 2011. Depois de dividir uma miserável e atrasada compensação entre eles, Carlos teve que ir morar com um amigo em Miguel Couto à 30km de distância. Após a divisão ele só pode comprar uma motocicleta e agora trabalha como moto taxista. A mãe de Carlos já idosa e doente ficou na casa superlotada e precária de sua filha, enquanto seu irmão e cunhada estão morando de aluguel já que o dinheiro que lhes restou da divisão não era suficiente para a compra de uma nova casa ou para iniciar a construção de uma. “Aqui estamos nós hoje”, disse Carlos, “ Todos sem casas”.
Ainda pior do que ficar sem casa segundo Carlos, foram os danos médicos e psicológicos causados pelo processo de despejo e a total falta de apoio da prefeitura da cidade. “Minha mãe já se encontrava doente, mas piorou muito depois do despejo”. “Ela está praticamente “irreconhecível” disse Carlos.” Não me importo mais com a casa, eu quero que o governo nos ajude com os cuidados médicos de minha mãe”. A cunhada de Carlos, Vanessa sofreu complicações com sua saúde e após três semanas abortou o bebê que esperava. A irmã de Carlos, Valéria e sua mãe, tiveram que procurar ajuda psiquiátrica. Ele e seu irmão não procuram tratamento por motivo de trabalho, mas também estão profundamente afetados pela experiência.
Dia da Demolição
No dia 12 de maio de 2011, sem aviso prévio, oficiais do governo da cidade chegaram à recém construída casa de Carlos na comunidade do Campinho. “Você vai nos dizer que não sabia que sua casa seria demolida? Foi o que eles me disseram, disse Carlos,” Nós estamos aqui para informá-lo que você está indo para um abrigo e suas coisas serão enviadas para o armazenamento.” De início, os oficiais apresentaram uma documentação com endereço de despejo diferente ao de Carlos, e mesmo apresentando a escritura de compra das terras comprovando o endereço, ele insistiu que o despejo não poderia ir adiante já que o proprietário não estava presente (sua mãe). Os oficiais insistiram e até o ameaçaram com um mandato de prisão e com ameaças do tipo abra ou vamos entrar mesmo assim. Grávida a cunhada de Carlos desmaiou e foi levada para o hospital sem nenhuma ajuda dos vários oficiais presentes. Foi dado ao Carlos uma hora para retirar seus pertences, muitos dos quais foram destruídos pela chuva ou quebrados pelos oficiais. Imediatamente depois, sua casa de dois quartos, banheiro, sala e cozinha foi demolida com menos de um ano após ter sido construída.
Aluguel Social e Compensação
Mesmo o prefeito Eduardo Paes prometendo que não haveria mais despejos sem indenização prévia, Carlos e sua família levaram a primeira semana após ao despejo sem nada. O irmão de Carlos e sua cunhada dormiram no chão da igreja da vizinhança por toda semana. Carlos ficou na casa de um vizinho e sua mãe retornou para a casa de sua filha no alto do morro. “Eles finalmente receberam três meses de aluguel social (para apenas uma família), e depois uma compensação no valor de R$37.000,00(menos que US$22.000,00), para ser dividido por eles.” Só R$37.000,00 reais para três famílias…Nós trabalhamos com um engenheiro e podemos provar, nós construímos a estrutura da casa para suportar vários andares e comportar as três famílias” disse Carlos.
Habitação Pública em Cosmos
Para a comunidade do Campinho foi oferecido apartamentos em uma unidade habitacional pública em Cosmos (14 estações de trem acima do Campinho, 2 horas de distância de ônibus e 30Km de distância de carro).” Carlos disse a eles que tem uma mãe doente, e que durante toda sua vida viveu no Campinho. A escola da minha filha é aqui, eu tenho que ficar aqui”. Carlos falou sobre membros de outras comunidades que sofreram iguais pressões psicológicas da prefeitura da Cidade, e que aceitaram as unidades em Cosmos e depois de sofrerem tremendas dificuldades como a falta de emprego, sendo assim, deixaram Cosmos rumo a novas oportunidades. “Esse foi o motivo pelo qual nós não aceitamos a oferta, por causa da condição de saúde da minha mãe e enquanto nossa casa é para todos nós vivermos, mas a prioridade era nossa mãe (nós construímos) na parte baixa do morro, porque é muito alto para ela (subir o morro)” disse Carlos.
Uma História de Família
Os pais de Carlos fizeram grandes esforços para criá-lo junto a seus irmãos e irmãs. Sua mãe, ainda jovem sofria de câncer e outros sérios problemas de saúde que a forçaram a enviar os meninos para uma escola fora, para que ela pudesse tratar de sua saúde. Após anos se comunicando por cartas, sua mãe voltou para casa e trouxe os filhos com ela para o Campinho, onde eles começaram a trabalhar na informalidade para contribuir com o sustento da família. Foram vários tipos de trabalho: carregar água para os vizinhos que moram no alto do morro, ajudar seu pai a fazer carros de caixas para depois vendê-los no mercado dos agricultores, entre outros.
O prédio onde residiam e que agora está demolido era um projeto familiar. O irmão de Carlos comprou o terreno da Associação de Moradores do Campinho, que ofereceu o terreno como forma de ajudar a família. A mãe de Carlos ainda está pagando um empréstimo que foi usado para o pagamento da construção e do engenheiro. Como Carlos e Edmilson não podiam contribuir financeiramente, eles ajudaram com o trabalho. Eles construíram a fundação da casa que foi projetada para suportar três andares, um para cada família. Eles terminaram o primeiro andar, então sua mãe pode se mudar para a parte mais baixa do morro rapidamente. “Nós tínhamos nossa casa ali, estávamos nos preparando para avançar na construção. Nós tínhamos três supermercados, um hospital, tudo próximo para minha mãe”.
Seja o primeiro a comentar