Seguindo o evento do ano passado focado na ‘reinventividade’ da favela, aconteceu no dia 9 de dezembro a 13ª edição do evento “Circulando – Diálogo e Comunicação na Favela” no Complexo do Alemão, Zona Norte, promovido pelo Instituto Raízes em Movimento. O tema central deste ano foi a mobilidade, ou como escolheram chamar os organizadores de forma mais adequada à linguagem do morador: rolébilidade. O evento promove lutas por direitos e transformação social por meio da arte, da cultura, da troca de conhecimentos, da experiência com o outro–que passa pelo encontro no Alemão desses atores atuando em rede pela cidade.
“A coisa mais importante do evento é a ocupação do espaço da rua. Ele prioriza a rua, tudo acontece na rua. E assim convida não só os moradores a ocuparem esse espaço, mas toda a cidade. É uma forma de mostrar que a favela é o espaço de todos. De mostrar a importância de circular pela favela, o que eles estão chamando de rolebilidade. É perceber que favela é cidade e cidade é favela. Ainda que a favela seja pouco circulada, pouco compreendida, marcada por estereótipos criados pela mídia“, colocou Edilano Cavalcante, morador de Manguinhos.
Durante o evento, houve exibição seguida de bate papo do filme “Quando Você Chegou Meu Santo Já Estava“, produzido como resultado final do projeto Faveladoc.com desse ano, que resgata histórias de religiões de matriz africana no Alemão por meio das relações afetivas dos personagens com o território e a religião e suas interligações entre si e com a memória local. Também foi exibido o filme “Trajetos”, produzido pelo Canal Plá, de Nova Iguaçu, que conta histórias e afetos nas longas rotas dos transportes públicos da cidade, mostrando um lado positivo da mobilidade a despeito de suas deficiências.
Foram exibidos, ainda, curtas sobre mobilidade urbana feitos por grupos de comunicação popular em parceria com a Casa Fluminense, que incluíram “Mototáxi do Azul”, produzido pelo coletivo multimídia Favela em Foco, “Sobre Dormentes, Estamos Acordadas”, produzido pela Facção Feminista Cineclube sobre a experiência feminina no transporte público, “Bilhete”, produzido por Wesley Brasil investigando os interesses envolvidos nas tramitações do Bilhete Único, e “Conversa Afiada”, produzido pelo Instituto Raízes em Movimento.
No debate que sucedeu os filmes, com a presença dos seus respectivos realizadores, Luiz Baltar, do Favela em Foco, disse que o apoio a coletivos de comunicação comunitária é fundamental, pois incentiva um jornalismo independente que tem um papel histórico de resistência e que possui legitimidade para falar das questões do território, além de ter base coletiva. A Casa Fluminense liderou uma roda de conversa no local sobre políticas públicas para mobilidade e planejamento urbano no Rio de Janeiro.
Também fez parte da programação o I Festival Leopoldina Orgânica, promovendo ações de tratamento de resíduos, produção de alimentos e agroecologia, e estavam sendo exibidos e vendidos livros que contêm importantes registros acerca da história da favela (como iniciativa do CEPEDOCA, o Centro de Pesquisa, Documentação e Memória do Complexo do Alemão) e alimentos orgânicos, como forma de conscientização sobre a importância destes alimentos. Durante todo o dia aconteceram ainda intervenções musicais, teatrais, poéticas e de grafite. Dona Jandira, de 87 anos de idade, e morando 70 deles no Alemão, teve sua imagem grafitada como forma de homenagem no dia.