Somente uma semana após uma manifestação produtiva em frente ao gabinete do prefeito, em Botafogo no dia 9 de março, os moradores da comunidade do Horto foram às ruas novamente para protestar contra as ameaças contínuas de remoção das suas casas e a crescente especulação imobiliária no bairro circundante ao Jardim Botânico. Aproximadamente 40 moradores integrantes da Associação dos Moradores e Amigos do Horto (AMAHOR) reuniram-se em frente ao Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico.
No seu discurso de abertura, naquela manhã, um dos primeiros pontos que a ex-presidente da AMAHOR, Emília Maria de Souza, dirigiu ao atual presidente do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico, Sérgio Besserman Vianna, foi que os moradores do Horto têm “mais direito porque a nossa comunidade é bicentenária“. Ela ressaltou a importância de reconhecer as gerações de trabalhadores e suas famílias que “contribuíram para a construção desta área” e que o que está acontecendo atualmente na comunidade é “uma tortura inaceitável”. Estas palavras fortes ecoaram os sentimentos de preocupação e a resistência constante testemunhada em protestos e reuniões na Câmara nos últimos anos.
Um dos argumentos principais que tem sido levantado com frequência contra os moradores do Horto é que a preservação e proteção do Jardim Botânico requerem a sua retirada, apesar da sua história como construtores e cultivadores da área. O morador Luiz Sergio contrariou este raciocínio, afirmando que nenhum dos ambientalistas que usam este argumento “tem história e dedicação com a preservação do Horto”. Sergio também mencionou a falta de diálogo do governo federal com o Horto, que descreveu como “uma violência preconceituosa” contra o povo. A ameaça de remoção sem negociação e compensação tem sido um tema recorrente na luta do Horto contra o governo federal e o parque durante décadas.
Gritos frequentes de “Fora Besserman” ressoaram durante a manifestação. A falha do presidente do instituto de pesquisas, ao não se reunir com os manifestantes, contrastou-se com o modo que a nova Secretária de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação, Verena Andreatta, se encontrou com os manifestantes no protesto no dia 2 de março. Embora muitos moradores relutassem em dar opiniões firmes sobre Verena–que está no início do seu mandato–havia um sentimento cauteloso de otimismo sobre a sua abertura para dialogar, algo que os moradores do Horto gostariam que fosse repetido no seu caso específico.
A luta contínua, contra a gigante da mídia Globo, também foi reforçada durante a manifestação. Moradores como Emerson de Souza, o presidente atual da AMAHOR, discutiram as ligações extensas entre a Globo e os “grandes interesses corporativos dentro do Parque”. O jornal O Globo tem rotulado os moradores do Horto de ‘invasores’, mas Emerson declarou que os “os verdadeiros invasores do parque são as grandes empresas e especuladores” e clamou para que a “verdadeira democracia” prevaleça. O pesquisador local Leo Peredo, que também faz parte da comunidade do Horto, ressaltou a maneira como O Globo conseguiu prejudicar os moradores da favela. Ele argumentou que, como o jornal é “só jornalístico” e “não institucional” (apesar de abundantes evidências em contrário) as suas matérias podem retratar injusta e negativamente os moradores da favela e aumentar a especulação imobiliária na área sem essa atitude repercutir negativamente sobre o próprio jornal. Contrariando as reportagens frequentemente preconceituosas, o antigo morador Edson Santos descreveu o legado do Horto como um exemplo claro da “convivência do ser humano com a natureza”, descrevendo a comunidade como um ambiente sustentável contrastando com os interesses corporativos movidos a lucro.
A ideia do poder construído através da solidariedade entre as favelas foi mencionada por muitos dos oradores do dia, reforçada com a presença de líderes como Jaqueline Andrade Costa, moradora da Barrinha. Como o vereador Reimont Otoni ressaltou, “essa é a luta de todas comunidades que estão ameaçadas de remoção”. A manifestação terminou como havia começado, com palavras fortes da Emília, que ressaltou que a comunidade voltará “quantas vezes por necessário” para manter a resistência e assegurar a mudança.