Bruno Degenring, 23, morador da Vila Laboriaux e presidente do Favela Verde, está na frente de uma horta comunitária organizada, com uma vista deslumbrante do icônico Pão de Açúcar do Rio atrás dele. Bruno está transmitindo informações para um pequeno grupo de voluntários brasileiros e estrangeiros que vieram se unir aos moradores da Vila Laboriaux no dia 21 de abril, para participar de um mutirão na horta comunitária, como parte do movimento mundial “Day of Good Deeds” (Dia das Boas Ações). O evento é co-organizado pelas organizações locais Favela Verde e Caminhos do Lagarto. O objetivo do mutirão é revitalizar o sistema agroflorestal da Vila Laboriaux, localizado no alto da Rocinha, a maior favela do Rio, na borda da Floresta da Tijuca.
Bruno compartilha um pouco da história da Vila Laboriaux com o grupo, incluindo os devastadores deslizamentos de terra em 2010 e os mutirões comunitários em curso, pelos quais o pequeno bairro é conhecido, com foco na sustentabilidade e integração com a paisagem natural circundante. O Favela Verde começou a operar em 2012 na Vila Laboriaux, envolvendo a comunidade para implementar vários projetos, tais como: um cineclube para crianças com foco ambiental, um banheiro seco, hortas comunitárias e um projeto de energia solar (que caiu em desuso). O Favela Verde era originalmente administrado externamente, atraindo um grande número de voluntários estrangeiros, mas com participação local limitada. Bruno explica que à medida que o projeto ganhou impulso em 2014 e 2015, mais moradores se juntaram à organização, levando a comunidade a assumir a liderança, pois os moradores sentiam que a autonomia era um passo necessário para a organização continuar operando na comunidade.
Bruno está acompanhado por Rafaela Rodrigues, de 25 anos, que toca o Caminhos do Lagarto que é o “braço direito” do Favela Verde. Nascida e criada na Rocinha, Rafaela explica como ficou empolgada quando descobriu o Favela Verde, pois refletia perfeitamente sua paixão pela natureza e sustentabilidade: “É importante para nós cuidarmos da nossa comunidade. Ter produtos orgânicos, da sua própria terra, vender aqui e com isso beneficiar a comunidade… Como um ciclo… Vender adubo, utilizar para plantar, distribuir para a comunidade”. Rafaela descreve as caminhadas guiadas pelo Caminhos do Lagarto, que incluem meditação e aprendizado sobre plantas medicinais.
Atualmente, a Vila Laboriaux possui dois espaços para hortas comunitárias–o primeiro é totalmente funcional e está localizado na terra onde as casas ficavam antes dos deslizamentos de 2010, e o segundo, o sistema agroflorestal, é o foco do mutirão do dia. O espaço agrícola de aproximadamente 60 por 4 metros está localizado próximo à fonte de água da comunidade Vila Laboriaux e em frente à base da UPP. Após as instruções de Bruno e Rafaela, houve tempo para o café da manhã com frutas e bolos antes do início do trabalho. Os voluntários locais assumiram a liderança, explicando o que precisa ser feito e distribuindo ferramentas, luvas e repelente de insetos.
Cerca de 25 voluntários, acompanhados por dezenas de crianças curiosas, trabalharam juntos por cerca de três horas para limpar a densa vegetação rasteira, que expunha centenas de pedras que precisaram ser removidas, juntamente com tocos de bananeiras mortas e sacos e sacos plásticos de lixo. Quando o estágio de limpeza estava concluído, o grupo começou a trabalhar nas novas instalações. Uma nova estação de compostagem de duas partes foi construída usando tábuas; o composto será usado no local e o excedente será vendido para lucro. Uma trilha para caminhada foi aberta e as pedras que foram previamente removidas foram usadas para demarcar o caminho da área agrícola, que inclui goiabeiras, limoeiros, pés de pitaya, pés de acerola, bananeiras, palmeiras, plantação de batata-doce e muito mais. Novas árvores frutíferas, vegetais e mudas, algumas das quais foram doadas, foram plantadas. Placas foram pintadas e instaladas para marcar os nomes das árvores e plantas e para melhor permitir o cuidado e a colheita. Depois de sete horas de trabalho duro sob um sol quente e muitas picadas de insetos, o dia foi considerado um enorme sucesso. O espaço foi transformado em um espaço agrícola funcional que fornecerá produtos orgânicos produzidos localmente à comunidade.
Um dos maiores desafios futuros do Favela Verde é conseguir mais moradores locais para apoiar os projetos agrícolas. Um morador, voluntário no dia, observa que as pessoas apreciam claramente o espaço, indo ao jardim para colher os produtos, mas nem sempre ficam para ajudar a manter o espaço. Bruno acredita que a maior barreira para as pessoas locais é o tempo: “As pessoas têm outras prioridades… mães e pais têm que trabalhar, cuidar das crianças, eles não têm muito tempo para se envolverem em projetos sociais”.
Tanto Bruno quanto Rafaela têm grandes planos em andamento para sua comunidade, incluindo o registro oficial da pista de caminhada, a abertura de um café e bazar de orgânicos de origem local, e a conversão da base da UPP, possivelmente prestes a ser abandonada, em centro de educação e ecoturismo. Com o anúncio em fevereiro de que algumas UPPs serão retiradas das favelas, seguidas por uma confirmação mais recente de líderes da intervenção militar de que algumas serão fechadas ou reestruturadas, muitos grupos comunitários estão ansiosos para assumir esses espaços para intervenções sociais, como o Favela Cineclube na Providência que também espera converter a base da UPP da Providência em um espaço comunitário. Rafaela afirma que “Futuramente, a gente quer ocupar a UPP… Quando eles saírem, a gente quer fazer um centro de pedagogia e um ponto turístico para que as pessoas conheçam a área e as trilhas”.