Esta matéria faz parte de uma série sobre veículos de comunicação comunitária.
Faz quatro anos que a Agência de Comunicação Comunitária Fala Manguinhos! atua como um alto-falante para que as vozes do Complexo de Manguinhos sejam ouvidas–dentro e fora da favela. Edilano Cavalcante, o coordenador da iniciativa, que participou desde o início nela, sempre enfatiza esse imagem do alto-falante que ilustra o chamado do Grupo de Comunicação dessa mídia comunitária: “A comunidade vê que ela tem voz! Fala Manguinhos!, é o alto-falante”.
A Agência de Comunicação Comunitária Fala Manguinhos! é organizada democraticamente, como explica Edilano: “ela nasce de um Conselho Comunitário e o coordenador é eleito pelos associados”. Ela não “depende de uma pessoa que é dona da voz da comunidade. O Conselho Comunitário é feito sem ser institucionalizado, feito com moradores que decidem coisas sobre o território”. A participação direta dos moradores é bem especial: “O Conselho Comunitário é uma espécie de encontro mensal de moradores mais engajados na comunidade. Através desse encontro, se criou o Grupo de Comunicação”.
Portanto, a partir dos encontros do Grupo de Comunicação do Conselho Comunitário nasceu o jornal comunitário Fala Manguinhos!. O Fala Manguinhos! tem em sua origem a defesa dos direitos humanos e ambientais, promoção de cidadania e saúde. “O objetivo do jornal, primeiramente, foi trazer para os moradores que também existem coisas boas em Manguinhos. Porque a grande mídia só mostra o lado ruim e os problemas”, declara Renata Dutra, que era até recentemente jornalista do Fala Manguinhos!. Mas devido à ocupação militar, a iniciativa passou a ser também um veículo de informação de segurança. Segundo ela, “o nosso intuito é mostrar coisas boas, só que agora com confrontos e tiroteios a gente precisa noticiar essas coisas também, para as pessoas não saírem das casas no meio de tiroteio”.
Essas informações são divulgadas pelo Facebook de Fala Manguinhos!, que tem mais que 20.000 seguidores, e no próprio site do Fala Manguinhos! “No site, é colocado todo o conteúdo que a gente produz, escrito por nós mesmos. No Facebook, a gente replica esses conteúdos e outras coisas que a gente acha relevante, por exemplo: oportunidades de emprego, cursos gratuitos, campanhas de saúde. Isso é publicado diariamente além do que acontece no território”, diz Edilano.
No ano passado, eles tiveram que parar com a circulação do jornal impresso por causa da falta de recursos financeiros. O coordenador lamenta muito: “A gente entregava o jornal de casa em casa, bi-mensalmente. A gente ouvia da boca do morador o que ele achava do jornal anterior. Era maravilhosa a experiência”. Para ele, o jornal impresso constitui uma memória da história de Manguinhos. Porque o jornal “está falando sobre a história daquelas pessoas, que de outra maneira não seria registrada. A grande mídia não tem interesse em registrar a nossa história, a nossa rotina diariamente. Nossa história não teria importância, interesse, impacto para ninguém. O tempo passaria, mas não teria como testemunhar o que aconteceu porque não foi importante”. Além disso, Edilano nos lembra que nem todo mundo tem acesso à internet.
Isso também constitui um obstáculo para os jornalistas que escrevem artigos para o Fala Manguinhos! Edilano tem que assegurar que eles têm acesso à internet e um computador. Segundo ele, a difícil situação financeira está sendo o maior desafio, ao não ter possibilidades de proporcionar infraestrutura e remuneração para as dez pessoas que fazem parte da equipe do Fala Manguinhos!.
Muitos deles participaram da oficina de comunicadores comunitários que a Agência oferece para pessoas interessadas de Manguinhos. Eles publicam no Facebook quando as oficinas serão oferecidas. A ideia é de formar futuros jornalistas para que o Fala Manguinhos! possa operar de uma maneira sustentável no futuro. Edilano, que estuda Cinema, explica que “a proposta das oficinas é dar um suporte inicial na escrita e na fotografia, e dar um suporte à análise crítica do que se lê e do que se escreve”. Edilano sublinha que é fundamental que os participantes se apropriem da capacidade de fazer uma análise crítica dos conteúdos da grande mídia e que estejam aptos a verificar se outros pontos de vista estão representados na própria escrita. O objetivo das oficinas é de conscientizar os moradores de que aquilo que se lê não é a verdade única, e de fomentar a pluralidade da fala. Através de projetos como o Fala Cine, a iniciativa quer fortalecer ainda mais o diálogo reflexivo com os moradores de Manguinhos, através do cinema e de rodas de conversa, além de abrir espaço para exibição de produções de artistas.
Mediante a parceria para publicação de matérias no RioOnWatch, o Fala Manguinhos! apresenta para além do próprio território e das fronteiras nacionais, o que é importante para Manguinhos e os seus moradores. “Se a gente conseguisse criar uma rede [das mídias comunitárias nas favelas] será uma riqueza infinita; ter vários comunicadores com o propósito de falar sobre políticas públicas nas favelas. Porque o problema não é individual, não é só de Manguinhos–é das favelas”, opina o coordenador. Então, ele propõe o trabalho em conjunto: “Se tem uma articulação das mídias [comunitárias] quando o problema for na Rocinha, o Manguinhos vai falar, o Alemão vai falar, a gente vai falar junto, vai apurar juntos. O resultado seria muito maior se moradores de vários lugares tivessem percepção que aquela relação não é só da Rocinha. Ela está especificamente na Rocinha hoje, mas ela vai se repetir [em outro lugar] amanhã”.
Para o futuro, o Fala Manguinhos! quer conseguir mais parcerias para poder obter um local fixo para as reuniões e para ter um espaço logístico para acesso à internet, computadores, e para guardar materiais. O sonho deles é de um dia viver desse trabalho, como comunicadores comunitários recebendo um salário adequado que refletisse a importância do trabalho de comunicação popular em Manguinhos, realizado através do alto-falante do Fala Manguinhos!.
Para mais informações visite o site do Fala Manguinhos!, ou siga-o no Facebook.