Entre os dias 7 e 10 de junho aconteceu no Rio a Virada Sustentável, festival de sustentabilidade que acontece em várias cidades brasileiras a partir de um movimento de articulação entre pessoas, grupos e instituições, públicas e privadas norteadas pelo princípio comum da sustentabilidade. As atividades foram espalhadas pela cidade e incluíram atividades em várias favelas, como na Maré, com uma exposição de fotógrafos da Maré e do Alemão e oficinas voltadas para mulheres, com temas desde autocuidado até compostagem, e no Cantagalo. As atividades previstas para ocorrer no morro da Babilônia em parceria com o projeto Revolusolar não aconteceram, devido a confrontos entre policiais e traficantes na região, que culminou na execução de 7 traficantes, cujos corpos foram jogados no mar e apareceram dois dias depois em uma praia na Urca.
No Favela Hub, espaço de inovação social no Complexo Pavão-Pavãozinho e Cantagalo (PPG), aconteceu no sábado, dia 9 de junho, o cineclube Silvio Tendler, assim chamado em homenagem ao diretor de documentários que abordam temas políticos como privatizações e ditadura, e que está em cartaz no circuito oficial com o documentário Dedo na Ferida, que retrata a vida dos cidadãos comuns em meio à crise econômica que beneficia os poderosos. O cineclube, inaugurado em março desse ano, visa exibir filmes independentes, produzidos em diversos lugares, como forma de expandir os horizontes culturais da comunidade.
“A ideia é trazer material audiovisual de qualidade para dentro da favela”, disse Josy Oliveira, moradora há 13 anos da comunidade e uma das organizadoras do cineclube. São feitas duas sessões mensais em locais itinerantes, sendo uma delas voltada para o público infanto-juvenil–público que, aliás, dominou essa sessão conjunta do cineclube. “A gente não precisa nem de um espaço físico. Tendo um telão, o equipamento, e tendo público, a gente pode fazer em qualquer lugar da comunidade, em qualquer beco”, completou Josy.
Foram exibidos os curtas Favela Como Modelo Sustentável, da Comunidades Catalisadoras (ComCat, ONG responsável pelo projeto RioOnWatch) e A Força das Marias, da Curta Raízes Produções, produtora do próprio Cantagalo, além de trechos do longa Em Frente, da Social Good Brasil. O curta Favela Como Modelo Sustentável, produzido em 2012 para a Rio+20, evento de sustentabilidade da ONU que aconteceu no Rio de Janeiro 20 anos depois da famosa Eco-92, explora as maneiras pelas quais os princípios sustentáveis estão no próprio tecido da vida nas favelas e também as dificuldades que as favelas enfrentam devido à negligência de órgãos públicos. Aparecem no filme problemas ambientais devido a negligência do governo como por exemplo as questões de enchentes, lixo e esgoto na favela Pica-Pau e iniciativas para soluções como a ONG socioambiental Verdejar, do Alemão, e o Favela Orgânica, da Babilônia, que utiliza partes de alimentos que são descartados para criar pratos elaborados, entre outras iniciativas.
A partir do filme, explicou Roseli Franco, diretora institucional da ComCat e produtora do filme, surgiu o projeto Rede Favela Sustentável, que já realizou um mapeamento de mais de 100 iniciativas de sustentabilidade e resiliência socioambiental em favelas da região metropolitana. O projeto está atualmente contribuindo para dar visibilidade a essas iniciativas por meio de cobertura midiática, e irá promover intercâmbios, capacitações, parcerias e a formação de uma rede de troca de conhecimentos, de forma a fortalecer esse modelo de desenvolvimento.
Já A Força das Marias, vencedor de 3 prêmios no 72HORAS Festival de Filmes de 2017, conta a história de três fortes mulheres de nome Maria da ocupação Vito Giannoti, no Morro do Pinto, Centro do Rio de Janeiro, trazendo para o debate a questão da luta pela moradia, da resistência e dos esforços de busca por pertencimento e comunicação popular lá empreendidos. O filme Em Frente, por sua vez, mostra iniciativas de empreendedorismo social e tecnologia de forma a inspirar a audiência, como é o caso de uma plataforma de trocas cuja moeda é o tempo, na qual você troca 1 hora de algo que você sabe fazer por 1 hora de algo que você quer aprender.
À exibição seguiu-se um debate, no qual os realizadores comentaram sobre a importância de reivindicar aquele espaço para a exibição desses filmes e sobre como as semelhanças entre eles eram maiores que as diferenças, pois todos tratavam de certa forma de como as pessoas buscam soluções para suprir a carência de serviços públicos, seja com foco na habitação, seja no saneamento e coleta de lixo, seja na educação e no emprego.
Após o cineclube, houve uma eletrizante apresentação do grupo Sensacionais do Passinho, um grupo de dançarinos da comunidade, e a encenação de “Nós, Semente”, uma poderosa peça co-produzida pelas alunas e a professora do projeto Teatre-se, que atua no morro do Cantagalo com aulas semanais de teatro. A peça, intercalada com poemas e músicas de mesma temática, retratava situações de constrangimento e assédio físico e moral que meninas e mulheres sofrem diariamente e fez a plateia segurar a respiração em alguns momentos e derramar lágrimas em outros e ir para casa com a certeza que grandes talentos sairão dos dois projetos.