No dia 8 de junho, membros da comunidade médica do Rio de Janeiro e moradores no Morro dos Prazeres no Centro do Rio, se uniram para combater o vírus do papiloma humano (HPV) e promover conscientização e educação sexual em um evento de um dia no centro comunitário Casarão dos Prazeres.
Médicos e enfermeiros e um grupo de estudantes de farmácia e enfermagem da Uniabeu–nome atual da Associação Brasileira de Ensino Universitário (ABEU)–se voluntariaram para levar uma série de atividades destinadas a conscientizar sobre a importância da prevenção, teste e vacinação contra o HPV e outras infecções sexualmente transmissíveis. As atividades, nos Prazeres, visaram adultos, adolescentes, e também um grupo de crianças com a temática de saúde bucal, formando três grupos separados, e foram utilizados desde jogos e competições até cenas da vida real imaginados pelos participantes. Todas as atividades foram guiadas por sugestões e ocasionais explicações dos voluntários.
O evento foi organizado como parte do VIII Simpósio Brasileiro de Papilomavirose Humana, que realizou a sensibilização comunitária, para além da parte mais acadêmica do simpósio. O professor universitário Dennis de Carvalho Ferreira da Uniabeu, Universidade Estácio de Sá (UNESA) e Universidade Veiga de Almeida (UVA), coordenou o evento com a ativista comunitária Cris dos Prazeres, da organização local de saúde Prevenção Realizada com Organização e Amor (PROA).
De acordo com um estudo preliminar de 2017 do Ministério da Saúde, estima-se que 54,5% da população da cidade do Rio de Janeiro, entre 16 e 25 anos, esteja infectada pelo HPV. Embora as diferentes formas do vírus possam ser tratáveis, ainda não foi encontrada uma cura para o HPV. No Brasil, há a predominância de quatro subtipos do vírus que podem levar ao câncer em homens e mulheres. Devido ao seu risco cancerígeno, juntamente com a natureza altamente contagiosa do vírus, o combate ao HPV tornou-se uma prioridade para as autoridades de saúde em todo o país. Para tal, o Ministério da Saúde continua ampliando sua campanha de vacinação e, como nos Prazeres, grupos de profissionais de saúde e líderes comunitários estão trabalhando para propagar a conscientização e incentivar a vacinação e práticas sexuais seguras.
Como prova de sucesso, o projeto de sensibilização do simpósio foi solicitado aos Prazeres devido a alta frequência que os eventos dos anos anteriores obtiveram. Durante o evento, muitos moradores compartilharam seus pensamentos e opiniões. “Se a gente não tiver amor pelo nosso corpo”, comentou um participante, “imagine pelo do outro”, enfatizando que um relacionamento saudável começa com hábitos individuais saudáveis. Uma preocupação comum entre os moradores, como disse um participante, é que “a gente vê uma cara bonita e acha que é tudo”, e negligenciamos a conversa sobre ISTs com parceiros. Além de fornecer informações e conselhos médicos gerais, o evento encorajou os presentes a contextualizar hábitos sexuais saudáveis em suas próprias vidas e na realidade local, explicando com suas próprias palavras e personalizando o que de outra forma pareceriam cenários extremos.
Para o simpósio, o evento na comunidade serve como uma parte importante da troca de conhecimento, da mesma forma que as apresentações de pesquisa servem para difundir os resultados entre os acadêmicos. Um dos pontos fortes do evento é trocar entendimentos com “quem tem conhecimentos diferentes”, explicou Fábia Lisboa de Souza, médica de Niterói, especializada em saúde pública e voluntária do evento. Embora a academia possua mais dados e os médicos tenham mais experiência médica, os moradores entendem “como fazer mudanças” em suas vidas e em suas comunidades. Fábia citou o célebre pedagogo brasileiro Paulo Freire ao descrever o relacionamento horizontal–que ela procura ter com os moradores da comunidade–que deixa ambos mais sábios e abertos a novas ideias. Assim como Dennis de Carvalho acrescentou, “se não tiver troca, não tem graça”.