No sábado, dia 21 de julho, foi realizado o lançamento da plataforma digital Mulheres Negras Decidem pela Rede Umunna. A plataforma tem como objetivo auxiliar com dados os movimentos de mulheres negras que buscam uma maior representatividade na política através de processos eleitorais. O evento aconteceu no espaço Olabi em Botafogo. No evento, Silvia Bahia, diretora do Olabi, falou da importância de criar espaço para mulheres negras se articularem. “Não cabe mais a ideia de que a mulher negra não se interessa por política e por tecnologia. A Umunna é uma prova de que quando mulheres negras pautam o futuro, isso realmente faz a diferença”.
A plataforma Mulheres Negras Decidem é dividido em 3 seções principais: Mitos, Mulheres negras e o sistema político e Diagnóstico. Na seção Mitos, a plataforma desconstrói mitos referentes a presença de mulheres negras em cargos políticos. Muitas vezes, tais mitos repercutem na sociedade, pois uma visão superficial de certos fatos pode gerar ideias falsas, o que a plataforma busca combater com dados reais. Abaixo alguns exemplos dos mitos combatidos na plataforma.
Um dos mitos combatido é que “negros não votam em negros”, o que consiste na ideia de que são os brancos que colocam candidatos negros no poder. De acordo com a plataforma a justiça eleitoral não faz recorte racial do eleitorado, o que impossibilita uma análise clara que ligue eleitores negros a candidatos negros ou brancos. Ainda assim, segundo o site, ao analisar os mapas eleitorais de Benedita da Silva e Marielle Franco, foi possível perceber que as candidatas receberam votos em todas as zonas eleitorais do estado e da cidade do Rio de Janeiro respectivamente, provando que negros também estiveram presentes na eleição das candidatas. A socióloga Ana Carolina Lourenço, coordenadora de política da Rede Umunna, afirmou no dia do lançamento, que a possível falta de capilaridade da candidatura de pessoas negras pode se dar pelo fato de que campanhas de homens brancos são 31 vezes mais financiadas do que de negros.
Outro mito rebatido pela plataforma é que “não existe relação entre ser mulher negra e defender os direitos humanos”. De acordo com a plataforma, a verdade exposta através de dados concretos é que 70% das mulheres negras eleitas para a Câmara dos Deputados em 2014 são filiadas a partidos que defendem direitos humanos. “De acordo com a avaliação do #MeRepresenta, a maioria das deputadas federais negras estão inseridas em partido com classificação entre 90 e 100, maior faixa de aproximação com as pautas dos direitos humanos”, informa a plataforma.
Os mitos de que “existem poucas mulheres negras porque elas não se candidatam” e de que “mulheres negras se eleitas só defenderiam pautas de mulheres negras” também foram facilmente desconstruídos. A plataforma afirma que, o universo de mulheres negras candidatas é próximo ao número de mulheres brancas candidatas, entretanto, dados apontam que mulheres brancas possuem 3,2 mais chances de serem eleitas do que mulheres negras. Ao mesmo tempo, o site declara que as pautas de candidatas negras provam que estas possuem uma preocupação com todos os setores da comunidade, e não apenas com outras mulheres negras. “As pautas tradicionais dos movimentos de mulheres negras apresentam uma visão universalista e ampla para combater os problemas da sociedade”.
Na seção “Mulheres Negras e o Sistema Político”, foi lançado um podcast no iCloud com episódios da série “Mulheres Negras Decidem”. No primeiro episódio a socióloga Ana Carolina Lourenço e a estatística Juliana Marques conversam sobre regras eleitorais, mapas de votação e ativismo nas eleições a partir das personalidades Lélia Gonzalez, Benedita da Silva, Jurema Batista, e Marielle Franco. O episódio explica momentos da política brasileira que envolveram candidatas negras.
A seção “Diagnóstico”, mostra através de tabelas e dados bastante visuais, características sobre a falta de representatividade de mulheres negras na política atual, colaborando com sugestões para mudanças. Nessa seção, fala-se sobre o investimento na candidatura de mulheres negras, que consiste em apenas 2,51% das despesas de todos os candidatos ao legislativo. Esse número colabora com as chances de mulheres negras serem eleitas que, como visto nos infográficos da plataforma, foram apenas 1,6 em 2014. “Além disso, o indicador aparece zerado para algumas formações abaixo do nível superior, diferente de outros grupos demográficos”, informa a plataforma.
Todos esses dados expostos pela plataforma auxiliam na luta de mulheres negras por uma maior representatividade política. As diferentes seções expõem claramente problemas a serem corrigidos, como a falta de financiamento de campanhas. A desmistificação de ideias falsas também é muito importante para debates políticos, nos quais a falta de dados concretos pode comprometer a percepção da população quanto à candidatas negras. Sendo assim, a plataforma Mulheres Negras Decidem é uma excelente ferramenta para aumentar a representatividade das mulheres negras nas eleições de 2018.