No refeitório amplo e reluzente no andar de cima de seu restaurante na Providência, Pensão Sabor de Ana, Ana Maria dos Santos, 50 anos, explica os diferentes rumos de seu negócio, desde que a comunidade, que celebra 115 anos este mês, recebeu a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e as obras público-privadas iniciadas em 2010.
Originária do estado de Pernambuco, Ana Maria veio morar com a mãe na Providência, no Rio de Janeiro com 15 anos. Ela descreve os muitos diferentes empregos que teve incluindo caixa de banco, empregada doméstica e cuidadora de idosos, mas na meia-idade, tornou-se mais difícil encontrar trabalho. Então, ela começou a vender quentinhas e doces na sua casa. Uma participante ativo de projetos comunitários, Ana Maria fez os cursos de administração e empreendedorismo que foram oferecidos depois da pacificação em abril de 2010, e tomou as medidas para formalizar seu negócio. “A formalização significava que eu tinha a visão de que se eu quisesse crescer e ter o meu próprio negócio”, diz ela, “Eu tinha que legalizar e ter a documentação.”
Em seguida a pacificação, as obras públicas começaram a chegar na comunidade. Localizado no coração da cidade, na região do Porto do Rio, a Providência está passando por grandes obras como parte do projeto Olímpico público-privada de regeneração do Porto Maravilha. As obras incluem um teleférico com paradas na Cidade do Samba, os armazéns do carnaval na Gamboa; na ex-praça utilizado para eventos sociais e culturais na Providência e no principal centro de transportes da cidade a Central do Brasil.
Tendo legalizado seu negócio, Ana Maria garantiu um contrato de serviço de buffet para fornecer até 600 refeições por dia para Hécio Gomes Engenharia, a empresa contratada para realizar obras na comunidade. A pedido da empresa, cujos engenheiros e gerentes desejavam almoçar no estabelecimento dela, Ana Maria tomou um empréstimo de R$ 60.000,00 para comprar e renovar o espaço no andar de cima de sua cozinha alugada, transformando-o em um refeitório. No entanto, em julho, no meio do contato, o consórcio que organiza os trabalhos cancelou o contrato com Hécio Gomes, assumiu o controle das obras e trouxe uma empresa de serviço de buffet de fora para fornecer as refeições. Dada a dívida contraída para expandir seu negócio para fornecer para aqueles que trabalham em sua comunidade, a perda repentina do negócio está sendo devastadora para Ana Maria:
“Minha vida está muito difícil financeiramente … Tudo o que eu gastei até julho, eu sabia que eu ia ter o retorno porque havia o contrato. Mas é o contrário, eu tenho R$ 60.000,00 em dívida por causa do consórcio. Se HG tivesse continuado, eu já teria recuperado o dinheiro. ”
É motivo decepção e raiva o fato de que o consórcio, supervisionado pelo órgão da Prefeitura CDURP, não tenha procurado por um fornecedor local. Ana Maria diz: “Tiraram a empresa e não procuraram para descobrir se havia alguém na comunidade qualificado para atender as necessidades do serviço de buffet. Não dar credibilidade aos da comunidade, fere um monte de gente.”
Embora seja consenso que a pacificação e a posterior entrada de instituições e obras na comunidade sejam melhorias em relação as regras violentas dos traficantes de drogas, há uma preocupação crescente de que o desenvolvimento e as obras possam vir a ameaçar a sobrevivência dos pequenos comerciantes locais.
Jocelene Ignácio da Secretaria de Estado Assistência social e Direitos Humanos trabalha em estreita colaboração com a comunidade como um mediador entre o Estado, instituições e moradores. Ela identifica a formalização e legalização como desafios significativos para as pequenas empresas na comunidade, e como o custo de manutenção de um negócio formal irá inviabilizar certos pequenos comerciantes. Ela expressa também a preocupação de que, a chegada do teleférico e a expectativa do fluxo de turistas na comunidade, além do fato de que a maioria das empresas de pequeno porte estão marcados para remoção, irá levar a entrada das grandes empresas empurrando para fora os comerciantes locais.
“Se abre uma grande franquia, é provável que o senhor de idade na comunidade perderá seu negócio, porque ele não está modernizado, não aceita cartões de crédito, e compra uma pequena quantidade por isso tem que vender mais caro”, diz Jocelene. “Se a política pública não é pensado estrategicamente este proprietário de um pequeno negócio será expulso.”
Ana Maria, que tem ambição de abrir uma barraca de lanche na estação do teleférico, inflexivelmente concorda: “Eu não quero ser excluído. Eles têm que nos dar visibilidade. Não pode ser que um McDonald surja. ”
Apesar dos desafios, os empresários Providência estão olhando para o futuro e como eles podem se beneficiar das melhorias que estão chegando na sua comunidade. Trabalhando com a equipe de Jocelene, eles já criaram um Grupo de Trabalho de Comércio, que se reúne semanalmente e representa o início de uma rede interligada de pequenas empresas da Providência que se fortalecem mutuamente através de iniciativas comuns.
O seu primeiro evento, apoiado pelo Governo do Estado e por instituições parceiras, é o 1º Festival Gastronômico e Cultural Sabores do Porto que acontecerá neste sábado 24 novembro e domingo 25 de novembro, em 19 bares e restaurantes no Morro da Providência e Morro do Pinto oferecendo um prato especial para ser julgado na cerimônia de premiação do Festival em 01 de dezembro, e mais 60 produtores artesanais e vendedores de alimentos participarão no fim de semana do festival. Os visitantes podem degustar delícias como ensopado de pescado de Ana Maria, o yakissoba de frutos do mar de Rosane Ferreira, do Morro do Pinto e os bolinhos de bacalhau de Everton Azevedo Santana ou Seu Veto como é conhecido, e que há 20 anos tem um pequeno bar na Providência. Seu Veto está atualmente em processo de formalização do seu negócio, ele espera que o festival traga as pessoas para conhecer a comunidade, sua comida e cultura: “Estamos esperando mais pessoas vir visitar. Agora as pessoas podem ir e vir. ”
O 1º Festival Gastronômico e Cultural Sabores do Porto vai acontecer neste sábado 24 e domingo 25 de novembro, a partir do meio-dia às 09:00. Haverá sinalização e mapas das localidades dos estabelecimentos participantes.