Iniciativa: Associação de Mulheres de Atitude e Compromisso Social (AMAC)
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Ano de Fundação: 2012
Comunidade: São Bento, Duque de Caxias (Baixada Fluminense)
Missão: Empoderar mulheres, especialmente aquelas que são vítimas de violência doméstica, e educar pessoas sobre como lutar contra as disparidades de gênero.
Eventos Públicos: AMAC organiza doações de comida e roupas, uma caminhada e corrida anual pela conscientização do câncer de mama, e mesas redondas, oficinas e palestras sobre questões femininas. Os eventos podem ser encontrados na página do Facebook da AMAC.
Em um país com notórios altos índices de feminicídio e assédio sexual, a Baixada Fluminense lidera o estado do Rio de Janeiro em casos de violência contra a mulher. Durante anos, as autoridades brasileiras tentaram abordar a violência baseada no gênero—que está intimamente ligada à raça, classe e localização—por meio de leis criminais e políticas de proteção mais severas, com pouco resultado.
Destemida neste cenário aparentemente desanimador, a Associação de Mulheres de Atitude e Compromisso Social (AMAC) continua a fortalecer sua luta em favor das mulheres locais, especialmente àquelas que foram vítimas de violência doméstica. A AMAC é responsável por muitas atividades e movimentos em Duque de Caxias, que visam capacitar as mulheres e educar as comunidades sobre os direitos e questões das mulheres. Com uma variedade de abordagens e origens, as mulheres que comandam essa ONG comunitária mantêm um senso de otimismo e progresso em sua comunidade.
Fundação e História
“Eu fui vítima de violência doméstica dentro do meu casamento. Eu fiquei casada dez anos e separei em 2007. Quebrei o ciclo da violência.”—Nill Santos, fundadora e coordenadora da AMAC.
Nilcimar “Nill” Maria Santos, 47, é motivada a promover a missão da AMAC por sua própria experiência como vítima de violência doméstica a longo prazo nas mãos de seu marido. Ela explica que a violência começou como física, mas se transformou em dano psicológico também—o que, ela diz, ter sido ainda pior.
Ao longo do tempo, explica Nill, a discussão em torno do que constitui a violência contra as mulheres tornou-se mais sutil e extensa: “Antigamente, não tínhamos tanta informação [sobre esse fenômeno] como hoje. Por exemplo, quando me separei do meu marido em 2007, [a violência doméstica] era pouco divulgada; poucas pessoas sabiam”. Além disso, diz Nill, estamos começando a reconhecer socialmente que a violência e a intimidação sexual podem ocorrer no casamento. No entanto, existem segmentos da sociedade que estão atrasados na compreensão da violência motivada por gênero, incluindo alguns homens e mulheres idosas.
Como é o caso de muitas mulheres que deixam relacionamentos tóxicos, Nill se viu deprimida e sem trabalho logo após deixar o marido: “Eu não tinha mais nenhuma forma de me sustentar, fiquei desempregada”. Navegar neste período de instabilidade emocional e econômica é especialmente importante para enfrentar o vórtice vicioso de abuso em que muitas mulheres se encontram.
Assim, o empoderamento financeiro das mulheres por meio do empreendedorismo e das oportunidades de emprego é uma das principais iniciativas empreendidas pela AMAC: “A grande dificuldade delas [para as mulheres com quem trabalhamos] é financeira. Com recursos, elas conseguem fazer os trabalhos e vendem [seus produtos]…” explicam as voluntárias Simone Souza Martins, Cláudia Helena Machado da Matta e Cristiana Antunes.
Nill decidiu fundar a AMAC após sua experiência ao iniciar um clube de futebol em sua comunidade, que foi evoluindo ao longo do ano de 2011, quando começou a incorporar mesas redondas e fóruns nos quais compartilhava sua história com outras pessoas. Ela diz: “O projeto durou um ano com rodas de conversas. Quando falei a minha história, outras mulheres compartilharam suas histórias com a gente, e entenderam que suas experiências eram de violência doméstica”. Nill manteve contato com algumas das mulheres envolvidas nessas reuniões iniciais e construiu o que finalmente se tornaria a ONG conhecida como AMAC.
Atividades e Ativismo
Embora a organização tenha menos de uma década de existência, ela já acumulou uma série de elogios locais e ampla atenção em toda a região por sua abordagem multifacetada para reduzir a violência e capacitar as mulheres a serem independentes e seguras. Em graus variados, a organização ajuda as mulheres a acessar cursos, discussões, assessoria jurídica, exames médicos de rotina e exames ginecológicos. “A gente realiza uma roda por mês em cada município ou bairro em que operamos. Já temos cinco planejados [no próximo mês] ”, dizem as mulheres. Os eventos apresentados pela organização são acompanhados por um grupo diversificado de membros da comunidade, com tópicos que vão desde os efeitos psicológicos da violência até o impacto sobre as crianças.
“A gente começou em 2012. Em 2014, a gente se legalizou, e em 2015 ganhamos nosso primeiro prêmio—o Prêmio Acolher Natura [um prêmio concedido a líderes de projetos de impacto social]. Em 2014, conduzimos nossa primeira caminhada [de conscientização sobre o câncer de mama], colocamos 740 mulheres na rua. [Antes disso] em 2013, a gente fez um tributo à Carolina Maria de Jesus“.
Em grande parte, o sucesso da AMAC decorre do poder ou liderança e formação de Nill. Nill diz: “Minha dor é um remédio para elas [outras mulheres na mesma situação], porque com a minha fala sobre o que vivi… Quando falo sobre minha história, [posso ajudar] aquelas mulheres a saírem de suas situações…” Com o tempo, a AMAC investiu em suas mensagens: vendendo camisetas e bonés, encarregando Gabriel Santos, o filho de Nill, do design gráfico e mantendo uma forte presença nas mídias sociais com ajuda da diretora Debora Veiga. No entanto, uma das ferramentas mais poderosas que permite à AMAC expandir seu escopo e mensagem é o compartilhamento de informações boca-a-boca pelas mulheres que participam das atividades e eventos da organização.
Futuras Esperanças e Impacto
Hoje em dia, a organização está cada vez mais focada em como fortalecer financeiramente as mulheres através do empreendedorismo e do emprego. Voluntárias como Cristiana e Helena organizam diferentes tipos de oficinas com base em suas disponibilidades—crochê, reciclagem, confecção de roupas, pintura e muito mais. A AMAC está preocupada com a sustentabilidade em vários níveis. Os esforços artísticos de seus membros geralmente envolvem o uso de materiais que normalmente seriam jogados fora ou reciclados. “Para mim, é um prazer… eu procuro coisas que sejam fáceis, coisas que podem ser reutilizadas… A gente ficou encantada… [por exemplo] quando viu uma caixa de ovo se tornar uma flor”, diz Helena, observando também que ela tem visto um maior entusiasmo pela reciclagem entre mulheres com quem ela trabalha. Cristiana também entra na conversa, e fala como muitos dos participantes transformam o “lixo” em arte e compartilham suas criações com outras mulheres que estão empolgadas para comprar artesanatos e bijuterias a preços acessíveis.
Em uma escala maior, a AMAC espera crescer de uma maneira que seja financeiramente sustentável. Atualmente, a ONG é financiada em grande parte pelo apoio público e doações. Recentemente, a AMAC recebeu R$40.000 como beneficiária da campanha “Ninguém Fica pra Trás”—uma campanha de arrecadação de fundos para organizações que apoiam vítimas de violência e populações vulneráveis após as eleições gerais de 2018. No futuro, a organização espera expandir-se regionalmente e nacionalmente, construir espaços seguros para as mulheres e expandir sua rede de voluntários.
Enquanto a AMAC não se depara com escassez de desafios, as mulheres que lideram sua missão e visão permanecem esperançosas e motivadas. Mesmo quando enfrentam aqueles que são hostis aos ideais feministas da organização, Nill consegue transmitir sua mensagem. Ela colocou esse talento para funcionar quando falou no início do ano em uma conferência de líderes cristãos sobre violência doméstica e direitos das mulheres: “Eu falei assim: ‘Bom dia, meu nome é Nill Santos, sou cristã e sou feminista. Quero apresentar para vocês o maior feminista da história: Jesus Cristo. Ele foi um homem que respeitava muito todas as mulheres. Hoje em dia, nossas feministas são atacadas… Nossos líderes estão doentes, porque dentro de nossas igrejas, nossas mulheres estão sendo estupradas”.
Sob a direção de Nill, a AMAC foca em tornar questões de feminismo e direitos das mulheres acessíveis a pessoas de todas as origens educacionais, ideológicas e econômicas. “As pessoas [hoje] não entendem o que é o feminismo. Então, é preciso explicar para elas que a gente está em um momento de retrocesso, a gente não quer ser melhor do que nenhum homem”, diz Nill. Ela enfatiza a importância de discutir o feminismo com as mulheres da favela de uma forma que torne essas questões relevantes para suas vidas.
Como as mulheres da AMAC têm visto muitas vezes, conhecimento é poder. Ao fornecer à vítimas de violência doméstica as ferramentas para iniciar seus próprios negócios ou compartilhar informações sobre o feminismo em reuniões de bairro, a AMAC está divulgando sua mensagem e filosofia. Empoderar as comunidades para investir e proteger suas mulheres não é tarefa fácil, mas organizações como a AMAC mostram que é possível fazer progressos duradouros e construir coalizões de apoio desde o início.
*A AMAC é um dos mais de 100 projetos comunitários mapeados pela Comunidades Catalisadoras (ComCat)—a organização que publica o RioOnWatch—como parte do nosso programa paralelo ‘Rede Favela Sustentável‘ lançado em 2017 para reconhecer, apoiar, fortalecer e expandir as qualidades sustentáveis e movimentos comunitários inerentes às favelas do Rio de Janeiro. Siga a Rede Favela Sustentável no Facebook. Leia outros perfis dos projetos da Rede Favela Sustentável aqui.