Na quarta-feira, 10 de setembro de 2014, aproximadamente 100 moradores ocuparam uma varanda no terceiro andar na Vila União de Curicica para discutir o plano de resistência à remoção em função da construção da TransOlímpica, programada para passar por dentro da comunidade. A comunidade tem sido retratada pela mídia local como totalmente passiva e bastante satisfeita com a decisão da prefeitura de remover o bairro e por isso está buscando atrair atenção local e internacional para fortalecer a voz dos moradores, que não foram consultados e que não estão sendo justamente indenizados.
O bairro, que originalmente estava previsto para receber ações de urbanização e uma infraestrutura mais desenvolvida via o programa Morar Carioca, agora enfrenta uma possível demolição. Muitos de seus moradores sentem que a prefeitura desistiu das promessas originais.
A linha do BRT TransOlímpica tem como objetivo conectar o Centro Olímpico de Deodoro com a Vila Olímpica, Barra da Tijuca e Recreio, e vai supostamente transportar 70.000 pessoas por dia. A prefeitura planeja reassentar famílias na Colônia Juliano Moreira, em um complexo de prédios de cinco andares, não tão distante da Vila União. Enquanto alguns moradores agarraram a oportunidade de se reassentar e ganhar uma moradia formal, centenas de outros estavam decididos a ficar.
A retórica do governo passa uma imagem quase idílica de blocos de apartamentos formalmente planejados na Colônia, mas permanece a questão se eles vão ficar prontos a tempo para receber as famílias. Esses modestos apartamentos também são bem menores que várias casas de moradores da Vila União, as quais foram construídas e ampliadas com o passar dos anos, e geram angústia dentre os donos de pequenos negócios, que talvez não sejam indenizados e que simplesmente não podem mover o seu negócio de lugar pois ele foi desenvolvido e está enraizado na comunidade local.
A reunião da comunidade foi uma discussão aberta sobre como os moradores determinados a ficarem ou negociarem saídas justas irão se organizar para resistir às remoções. Contou também com a presença de moradores de comunidades que foram ameaçados de ou vivenciaram remoções, além de uma representante de Estado, a qual ofereceu orientações acerca de possíveis estratégias de resistência.
A deputada estadual Janira Rocha colocou formas dos moradores enviarem questionamentos formais acerca do destino das verbas do Morar Carioca, destinadas à comunidade em 2011, e se o que foi feito com ela é legal. Ela anunciou que foram enviados ao Ministério Público Federal, ao Ministério Público do Estado e ao Ministério das Cidades uma notificação oficial requisitando mais informações com relação “ao que foi efetivamente feito com os recursos do Morar Carioca em 2011, que eram destinados à comunidade a fim de trazer esses benefícios e continuar o processo de regularização fundiária”.
Os mobilizadores que organizaram da reunião compartilharam a notícia de que o chefe do Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública do estado, Dr. Bernardo Horta, foi contatado com um pedido para que seu gabinete tomasse ações legais e efetivas em nome da comunidade, e que o Secretário Municipal da Habitação (SMH) também foi contatado para que desse informações específicas sobre o projeto rodoviário. Com esse tipo de informação, os moradores esperam ser capazes de mitigar os efeitos da obra dentro da comunidade.
Embora possa ser fácil traçar paralelos e ter otimismo a partir dos sucessos da Vila Autódromo, Janira foi rápida em lembrar aos moradores de que o que aconteceu lá não aconteceu por conta própria. Sem uma séria mobilização, a Vila União não pode esperar por resultados parecidos.
Jorge Santos também marcou presença para contar sua experiência na Vila Recreio II, onde ele lutou contra a remoção—devido a uma expansão rodoviária que nunca se concretizou—junto a outros moradores, até que somente 12 famílias restaram. Apesar de no final ter tido que se mudar, ele falou de forma otimista e encorajou os moradores da Vila União a lutarem pelo direito de ficar.
O tema principal da noite, ecoado pelos moradores e espectadores de fora, não foi somente a necessidade de organização, mas também a importância de solidariedade dentro da comunidade entre aqueles que estão ansiosos para ir embora e aqueles que desejam de ficar. Todos concordaram que o conflito entre membros da comunidade só enfraquece a luta coletiva contra a remoção ou por uma indenização justa.
Os moradores planejaram uma marcha pela comunidade para mostrar sua solidariedade e seu desejo de permanecer na Vila União—onde muitos moram há quase trinta anos. A marcha foi marcada para o sábado, dia 27 de setembro, às 10 horas da manhã, partindo da frente do Hospital Raphael de Paula Souza, na Estrada de Curicica, com destino ao BRT. Todos que apoiam a luta dos moradores contra as remoções foram encorajados a participar.