“Estamos fazendo Asa Branca: O Filme aqui!”, gritou Carlos Alberto “Bezerra” Costa, Presidente da Associação de Moradores da Asa Branca, enquanto um pedestre curioso observava a equipe de produção que se instalara naquela rua enquanto era pavimentada novamente.
“Psiuuu, Bezerra”, alertou o cinegrafista: “Estamos no meio de uma entrevista”.
No dia 23 de novembro, a ONG iBase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) enviou uma equipe de filmagem à favela Asa Branca em Jacarepaguá para entrevistar moradores sobre a fundação da comunidade e lembranças de momentos específicos que marcaram o seu desenvolvimento ao passar dos anos. Após um encontro de história oral pela manhã, a equipe de filmagem do Raízes em Movimento – do Complexo do Alemão – andou com Bezerra por várias ruas perguntando a diversos moradores sobre o engajamento político da comunidade e possíveis participações em mutirões ou outros projetos de construção coletiva.
Os antigos moradores Eduardo Amil de Souza e Luiz Antônio puderam recordar histórias do cotidiano, assim como Rosilene Oliveira Silva, filha de Catarina, ex-presidente da Associação de Moradores. O Senhor Benedito, conhecido como “Bene”, falou sobre o começo da ocupação das terras que se tornaram a Asa Branca, relembrando os dias em que havia apenas um banheiro na comunidade.
O iBase foi contratado pela Prefeitura para se encarregar do “diagnóstico social participativo” da Asa Branca para o programa municipal de urbanização Morar Carioca, que tem como missão uma real participação das comunidades cariocas no seu desenvolvimento urbano sustentável. Esse foi somente um dos eventos oficiais que o Morar Carioca vem organizando em uma tentativa de incluir a voz da comunidade–juntamente com suas necessidades e pedidos–no planejamento urbano comunitário. Apesar da Prefeitura estar se responsabilizando pela pavimentação de algumas ruas na Asa Branca, essa é a primeira vez na história da comunidade (que existe há 27 anos) que um melhoramento vem das autoridades e não dos moradores.
“Preparem-se para serem entrevistados!” Bezerra gritava para ruas inteiras a cada esquina que virava, apertando mãos e distribuindo tapas nas costas por onde passava. Essa pouco comum tática de preparação para entrevistas rendeu-lhe muitas risadas de pedestres e até algumas reprovações de senhoras idosas introvertidas que reviraram os olhos, mas mesmo todos sorriram. Basta passar pouco tempo com Bezerra ou ler qualquer história da Asa Branca para perceber que o seu humor e energia têm mantido a comunidade unida. Eles têm sérias preocupações: 140 novos condomínios foram construídos na estrada nos fundos da comunidade, justamente em frente aos picos verdes do maciço da Tijuca. Moradores da Asa Branca passam lá para o trabalho todos os dias, e o complexo de condomínios cresce um pouco mais para perto da comunidade a cada mês que se passa.