A exposição “O Design da Favela”, em cartaz no Centro Carioca de Design, reúne 125 itens de 15 comunidades da cidade do Rio de Janeiro. Os objetos encontrados foram criados por artistas, artesãos e inventores dessas comunidades, ou mesmo não tem sua origem autoral definida. Neste projeto, a favela não é associada à miséria ou escassez, mas apropria-se de abundância: abundância de imaginação, invenção, estudo e prática.
Criatividade
Irmã Fátima aprendeu com as crianças do Tabajaras a enxergar materiais descartáveis de diversas formas. “Essa pet tem cara de peixe”, diz um de seus alunos. “A maneira como a criança olha as coisas é magnífica”, acredita Fátima. Juntos, eles transformam garrafas de plástico em brinquedos.
É preciso misturar doses de imaginação e ingenuidade para perceber um mundo além do óbvio. Por isto, na criatividade do homem, sempre existe um pouco da criança que ele já foi.
Sustentabilidade
A palavra da moda está muito mais presente na vida de Elio Beiriz do que nas resoluções da Rio +20. Morador do Morro dos Macacos, Elio precisou inventar formas de ganhar dinheiro reutilizando materiais que já possuía. Assim surgiu, entre outras criações, a máquina de triturar amendoim, feita com uma bicicleta ergométrica e um moedor de carne.
Para Elio, sua história representa a máxima: “A necessidade faz o sapo pular”. Mas o inventor também precisou de conhecimento para realizar seus projetos. “Eu estudei pouco na escola, mas leio muito. Livros de ciências, tecnologia”, afirma. No final das contas, o importante foi juntar necessidade e conhecimento e pôr a mão na massa. “Trabalho ensina a gente a trabalhar”, acredita o vendedor.
Arte
Só ela e o amor tornam a existência tolerável, já dizia o escritor francês William Maugham. Quando Edilson Benedito se divorciou da mulher, viu seu filho de nove anos sofrer com a separação. Edilson resolveu alegrá-lo, e também outras crianças da sua comunidade, vestindo-se de palhaço. O Palhaço Benedito é hoje um personagem conhecido no Santa Marta, e também um artista da reciclagem.
A irreverência do palhaço é visível em suas criações. A utilização de objetos inusitados (sapato, aparelho de som, bola de futebol) como “vaso de plantas” representa um pouco da arte “benedita”.
Design
Apesar de a palavra ter um ar sofisticado, ninguém precisa ir muito longe para encontrá-lo. Para a curadoria da exposição, “o design também tem uma origem mais informal e abrangente: sempre esteve presente nas relações mais básicas do ser humano com o meio que o cerca”.
Nenhum dos objetos expostos representa melhor este conceito do que o “rola” ou “rola-rola”. Esta criação anônima consiste num barril com pneus que é usado para levar água de um lugar a outro. “Antes as pessoas carregavam água na balança ou com a lata d’água na cabeça. O rola só veio beneficiar a todos”, conta Marilene, da Maré.
O design está onde menos se imagina. Pelo menos é o que alerta Tio Lino, do projeto “O Mundo da Arte”, da Rocinha. “De manhã, olha o pão que você vai comer. Aquilo é design”.
“O Design da Favela” vai até o dia 20 de dezembro, de segunda à sábado, das 10h às 19h. No dia 19/12, às 19h vai acontecer o encontro promovido pelos curadores Ricardo Saint-Clair e Rodrigo Westin, com a presença de convidados especiais e expositores.
O Centro Carioca de Design fica na Praça Tiradentes, 48.