Segundo dados do MonitoAr-Rio, a estação de monitoramento de ar de Bangu teve o pior desempenho do segundo semestre de 2012 dentre as nove estações que abrangem a rede. No pior dia de poluição deste período, 25 de dezembro, a qualidade do ar de Bangu marcou 213 pontos, o que a classifica como “má” numa escala de cinco classificações possíveis: boa, regular, inadequada, má e péssima. No mesmo dia, no Porto, foram registrados 47 pontos, uma qualificação boa.
O MonitorAr-Rio é um programa da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC) que registra os índices de poluentes e as condições atmosféricas de 8 estações fixas (Centro, Copacabana, São Cristóvão, Tijuca, Irajá, Bangu, Campo Grande e Pedra de Guaratiba) e uma estação móvel (Porto) em boletins diários. São medidos cinco tipos de poluentes: dióxido de enxofre, monóxido de carbono, material particulado, ozônio e dióxido de nitrogênio. As medições dão origem ao Índice de Qualidade do Ar (IQA) da região no dia.
Os boletins do segundo semestre indicam que o principal responsável pelo IQA ruim de Bangu é o ozônio. A concentração do gás teve os maiores índices registrados no bairro do que nas outras oito regiões monitoradas, principalmente nos dias de sol e calor. No Natal de 2012, os termômetros do Rio de Janeiro chegaram a marcar 41 graus e a taxa de ozônio de Bangu foi a maior do semestre: 280 pontos.
Existe uma relação direta entre as altas taxas de ozônio e as temperaturas elevadas. “O ozônio é um poluente formado a partir da ação da luz solar e de oxidações fotoquímicas”, explica o estudo sobre a concentração de ozônioda região metropolitana do Rio de Janeiro do Instituto de Geografia (IGEO) da UFRJ.
Na estratosfera, o ozônio forma uma camada importante de proteção contra a radiação solar. Já nas camadas mais baixas da atmosfera, onde vivem os seres humanos, altos índices do gás podem ser maléficos para a saúde. “As consequências diretas da exposição da população às altas concentrações deste poluente, próximo à superfície, são irritação nos olhos e nas vias respiratórias”, diz o estudo do IGEO.
Uma questão ambiental e de saúde pública
Enquanto Bangu tem a pior qualidade do ar do município, Centro e São Cristóvão tiveram o melhor desempenho no mesmo período, com mais de 70% dos dias com classificação “boa” e nenhum dia com classificação “má”. O trânsito de veículos, uma das causas da poluição urbana, é muito grande nas duas regiões. Apesar disso, a proximidade com o mar e Baía de Guanabara ajuda a dissipar os poluentes.
Em Bangu, onde o MonitoAr registrou menos de 20% de dias de boa qualidade do ar, a geografia local pode ter a reposta para esse desempenho. O bairro está localizado entre duas cadeias de montanhas: o Maciço da Pedra Branca, ao sul, e a Serra de Gericinó, ao norte. “Bangu está situado num vale. Isso dificulta a dispersão dos poluentes, que acabam se concentrando”, explica o ambientalista Sérgio Ricardo, pós-graduado pela COPPE/UFRJ.
Julho foi o mês com os melhores índices, com nenhum dia de classificação “inadequada” ou “má”. Já o mês de dezembro teve os piores resultados, com nenhum dia de qualidade boa e mais das metades das ocorrências entre inadequada e má. Segundo o MonitorAr Rio, a partir de 100 pontos no IQA, que indica classificação inadequada na qualidade do ar, toda a população pode apresentar sintomas de tosse seca, cansaço, ardor nos olhos, nariz e garganta, além de causar efeitos mais sérios na saúde da população de grupos sensíveis.
Bangu faz parte da Área de Planejamento 5 (AP5) da cidade, que corresponde às regiões administrativas da Zona Oeste de Realengo, Bangu, Campo Grande, Guaratiba e Santa Cruz. Junto com a AP3 (Zona Norte) correspondem às áreas com menor presença de arborização na cidade. Além disso, a principal cobertura florestal da região, o Parque Estadual da Pedra Branca, vem sido desmatada nas últimas décadas por conta do processo de ocupação intensificado.
Segundo estudo da Universidade de Aveiro, em Portugal, a presença de vegetação é uma forma eficaz de combate à poluição no meio urbano, inclusive no que diz respeito ao ozônio. “O aumento da zona verde em áreas urbanas com grandes níveis de ozônio pode ser uma estratégia viável para ajudar a reduzir estas concentrações nessas áreas”, afirma Ana Lúcia Feitais Fernandes, na dissertação “Os Impactos dos Espaços Verdes na Qualidade do Ar”.
Os dados do MonitorAr são um alerta para os órgãos governamentais. Os índices de Bangu são os mais alarmantes no município do Rio de Janeiro no que diz respeito à qualidade do ar. O agravamento do quadro representa não só uma questão ambiental, mas um problema de saúde pública.