Este mês de julho, a Casa Fluminense lançou sua mais recente versão do Mapa da Desigualdade, onde apresenta um panorama de indicadores de 22 municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro referentes a dez eixos temáticos: assistência social, cultura, educação, emprego, gestão pública, habitação, saneamento, saúde, segurança e transporte. Os indicadores estão alinhados aos eixos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) e visam atingir as metas propostas pelo pacto entre os países membros da ONU. De acordo com a Casa Fluminense, a abordagem dos temas é interseccional, “transversalizando seus conteúdos com os valores das justiças econômica, racial, de gênero e socioambiental”.
Na live de apresentação do mapa, Vitor Mihessen, coordenador de informação da Casa Fluminense, ressaltou o contexto em que o mapa está sendo lançado e falou sobre o desafio e responsabilidade em fazer uma pesquisa de grande dimensão em meio a uma pandemia, que expõe ainda mais as desigualdades no estado do Rio, mas ponderou: “O primeiro passo da mudança é o diagnóstico da crise”. A entidade utilizou dados de fontes governamentais e também de grupos de cidadãos que vêm lutando por maior transparência e visibilidade, devido à falta de responsabilidade dos poderes públicos na geração de dados confiáveis e atualizados.
Nesta matéria, foram destacados alguns indicadores de sete eixos temáticos para elucidar a extrema desigualdade racial e socioeconômica no estado do Rio, um reflexo de um país também injusto. O Mapa da Desigualdade reporta que o “Brasil tem 2ª maior concentração de renda do mundo e perde apenas para o Catar em desigualdade de renda, de acordo com relatório da ONU. Menos de 3% das famílias brasileiras concentram 20% de toda a renda no país, segundo o IBGE”.
1- Gestão Pública
O mapa revela que “em Itaguaí, onde 60% dos habitantes são pessoas negras, há apenas dois vereadores negros entre os 17 membros do legislativo”. Reportagem do O Globo identificou o mesmo problema em nível federal. Dos 594 deputados federais e senadores, apenas 17,8% são negros. No entanto, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2016 do IBGE, a soma da população brasileira que se identifica como pardos (46,7%) e negros (8,6%) é de 54,1% da população brasileira.
2- Segurança (Violência Policial)
O mapa reporta que “em 2018 foram registrados 1534 homicídios decorrentes de intervenção policial no Estado do Rio de Janeiro. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, isto representa 1 a cada 4 homicídios cometidos por agentes do Estado no Brasil”. Em 2019, primeiro ano do governo de Wilson Witzel, a letalidade da polícia bateu recorde desde 1998.
Um fato alarmante é que mesmo com a redução de crimes como homicídios e roubos no Rio de Janeiro durante a pandemia, houve um crescimento de 43% de mortes por policiais durante a quarentena, de acordo com os números divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP).
3- Emprego (Diferença Salarial Entre Brancos e Negros)
Segundo o IBGE, no Brasil, o trabalhador formal e informal branco recebe 75% a mais do que pretos e pardos. Para postos formais, “no Rio de Janeiro, trabalhadores brancos recebem 41,9% a mais do que negros”, revela o mapa.
No nível nacional, de acordo com reportagem da Folha de S.Paulo e dados do Instituto Locomotiva, “a diferença salarial ainda é significativa, de 31%, quando comparados os salários de brancos e negros com ensino superior, isoladas todas as demais variáveis. Sobra apenas a cor da pele”. Estes dados revelam mais uma situação em que o racismo estrutural prejudica negros e pardos.
4- Educação (Matrículas em Creches)
Considerado o percentual de crianças de 0 a 3 anos matriculadas em creches, Taynara Cabral, assessora de comunicação da Casa Fluminense, relembrou a importância da primeira infância no desenvolvimento das crianças, e trouxe esses dados que foram mapeados: “Quando olhamos para os municípios de Nova Iguaçu, Queimados e Japeri, apenas 6% estão matriculadas em creches”.
5- Saúde (Idade Média ao Morrer)
“Na RMRJ, os niteroienses vivem, em média, 12 anos a mais que os moradores de Queimados. Na capital, esta relação entre São Conrado e Rocinha é de 23 anos. Já a diferença entre moradores de Ipanema e da Rocinha é de 29 anos, a maior registrada no município”, traz o mapa. Taynara considera que esses dados revelam “para quem as políticas públicas vêm funcionando de fato e quem está tendo acesso a elas”.
6- Saneamento Básico
“O Ministério da Saúde registrou 1.774 mortes causadas por desastres ambientais no Brasil entre 2010 e 2018. Destas, mais de dois terços (1.263) ocorreram no estado do Rio de Janeiro”, conforme relatado no mapa.
Sobre o tratamento de esgoto, o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) aponta que “há 437 estações de tratamento de esgoto na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, mas 134 estão inoperantes”, também relatado no mapa.
7- Cultura (Museus)
A cidade do Rio de Janeiro conta com 136 museus em seu território. Já Queimados, Paracambi, Japeri, Rio Bonito e Tanguá não possuem um único museu. Ao expor essa discrepância, o Mapa da Desigualdade “busca provocar uma reflexão sobre apagamentos históricos e a identificação de novos lugares de memória e representação para além das versões oficiais”.