Hoje Marielle Franco Faria 41 Anos! Sua Luta Vive e Live Show de Elza Soares e Flávio Renegado Celebra Sua Memória

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Um show da cantora Elza Soares e do rapper Flávio Renegado marcam as celebrações pelo aniversário de Marielle Franco, que completaria 41 anos nesta segunda-feira, dia 27. A Live Elza por Marielle!, que aconteceu no domingo, dia 26, foi transmitido ao vivo pelo canal do Instituto Marielle Franco, organização criada pela família da vereadora para lutar por justiça, multiplicar o legado e preservar a memória da parlamentar.

“A gente está à frente de várias campanhas com diversas mulheres negras, porque o foco do Instituto, além de levar o nome da Mari, que não é uma tarefa fácil, é estruturar e inspirar outras mulheres negras”, explicou Anielle Franco, irmã da vereadora e diretora executiva do Instituto Marielle Franco. Além de Anielle, também participaram da live os pais de Marielle, Marinete Silva e Antônio Francisco, a filha Luyara Franco e as duas sobrinhas. 

“Quem mandou matar Marielle? Hoje é dia de celebrar a vida dessa grande mulher, mas essa pergunta precisa de resposta: quem mandou matar Marielle Franco e Anderson Gomes?”, iniciou Elza Soares, que completou 90 anos na semana passada. Nos palcos ou fora deles, a cantora é uma voz potente contra o racismo, o machismo e outras formas de opressão. Elza e Flávio Renegado cantaram contra a violência de gênero e o genocídio do povo negro, temas presentes na trajetória de luta de Marielle Franco. 

“É muito triste ver a história do nosso povo ser ceifada tão cedo, tão jovem. Como ela, muitos, vários e vários jovens têm a vida exterminada antes do começo ainda. É uma corrida muito injusta. Por isso, a necessidade da população brasileira entender que não basta só não ser racista, é extremamente importante e urgente sermos antirracista”, reforçou Flávio Renegado. 

A apresentação, que chegou a ter quase 7.000 pessoas assistindo simultaneamente, esteve também entre os dez assuntos mais comentados no Twitter Brasil. Além de celebrar a vida da vereadora, o show ainda arrecadou recursos para financiar projetos do Instituto Marielle Franco. 

A Luta de Marielle Permanece Viva

Se fosse viva, a vereadora Marielle Franco completaria seu primeiro mandato neste ano. Dos quatro anos garantidos pela democracia a qualquer parlamentar eleito, Marielle e o time que integrava sua mandata coletiva atuaram por pouco mais de um ano, foram 15 meses. Com Marielle, mulheres negras, periféricos e pessoas LGBTQI+ chegaram a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, com poder para propor políticas públicas que afetam diretamente a existência de seus corpos e territórios. 

Pouco mais de dois anos após o assassinato da vereadora, o Instituto Marielle Franco trabalha para florescer novas sementes. Com o lançamento da Plataforma Antirracista nas Eleições (PANE) nesse mês, a instituição dá inicio a uma série de ações para apoiar a candidatura de mulheres negras nas próximas eleições municipais, a primeira após a morte de Marielle. Nas eleições de 2016, mulheres negras ou pardas representavam apenas 5% dos vereadores eleitos no país. A vitória de Marielle, como a quinta parlamentar mais votada na capital fluminense, levou à Câmara dos Vereadores do Rio a única mulher negra da gestão. 

As sementes plantadas por Marielle Franco floresceram nas eleições de 2018, quando três de suas ex-assessoras foram eleitas como deputadas estaduais, as únicas três mulheres negras na atual gestão da Alerj. Em todo o Brasil, o número de candidatos negros cresceu, especialmente de mulheres, mas ainda está longe de alterar o perfil comum dos parlamentares. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas últimas eleições apenas 4% dos candidatos eleitos no país eram homens e mulheres negros

A PANE, Plataforma Antirracista nas Eleições surge com a missão de mover as estruturas do sistema político no Brasil, mobilizando a sociedade para pressionar partidos políticos e o TSE pela a adoção de políticas que garantam maior equidade na disputa eleitoral. A plataforma visa estimular que mais mulheres negras ocupem os espaços de decisão e que movam as estruturas que, historicamente, afastam e violentam negros, periféricos e pessoas LGBTQI+, mantendo viva a luta e a memória de Marielle Franco. 

Cria do Complexo da Maré, Zona Norte, a vereadora tinha o direito à vida como sua principal bandeira de luta no campo político, especialmente da juventude negra e periférica. Marielle iniciou sua militância em direitos humanos após ingressar no pré-vestibular comunitário e perder uma amiga, vítima de bala perdida durante um tiroteio na Maré. Publicamente, ela se posicionava contrária às operações policiais em favelas.

Um dia antes de ser assassinada, em resposta à morte de mais um jovem negro pela polícia, ela questionou no Twitter: “Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”.

No Brasil, as chances de você ser vítima de um homicídio estão diretamente relacionadas à cor da sua pele. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) demonstram que o estado do Rio bateu recorde no número de mortes provocadas por policiais em 2019. O Mapa da Desigualdade produzido pela Casa Fluminense relevou que 81% dos mortos pelo Estado eram negros. Esse índice sobe para 100% nas cidades de Petrópolis, Seropédica, Guapimirim, Cachoeiras de Macacu e Rio Bonito.

O resultado da guerra às drogas e de uma política de segurança cada vez mais militarizada aparecia no seu dia a dia. No período em que trabalhou como assessora da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, ao lado de Marcelo Freixo, Marielle dava suporte a familiares de vítimas da violência, inclusive parentes de policiais. A parlamentar criticava o modo de atuação da UPP, tema de sua dissertação de mestrado

Entre os projetos apresentados à Câmara dos Vereadores do Rio, destacam-se as propostas de promoção e garantia de direitos das mulheres, de negros, moradores de favelas e pessoas LGBTQI+. Em pouco mais de um ano, foram vinte propostas apresentadas, parte dessas após o assassinato da vereadora. 

Um dos projetos de lei aprovados pela Câmara trata da legalização da profissão de mototaxista, meio de transporte comum nas favelas do Rio. O texto, assinado por Marielle e outros parlamentares, virou lei em junho do ano passado. Também foi aprovada a criação de um Dossiê Mulher Carioca, que possibilita a coleta de dados sobre o atendimento de mulheres vítimas de violência na rede municipal. O projeto foi apresentado à Câmara e sancionado após a morte da parlamentar.

Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, a vereadora apresentou projetos para ampliação do acesso ao aborto legal; creches noturnas; parto humanizado e prevenção da mortalidade; combate ao assédio no transporte público; sendo todos os citados já aprovados. Ela também apresentou o projeto da inclusão do Dia da Visibilidade Lésbica no calendário da cidade, proposta esta que foi recusada pelos vereadores. 

Marielle acreditava que era preciso trazer visibilidade ao tema para que ações pudessem ser realizadas no plano institucional. No Brasil, entre 2014 e 2017, ao menos 126 mulheres foram mortas apenas por serem lésbicas. O dado faz parte de um levantamento inédito realizado pelo Núcleo de Inclusão Social vinculado à UFRJ. Os números, no entanto, podem ser ainda maiores porque não há registros oficiais específicos sobre crimes de ódio às mulheres lésbicas e bissexuais no país.

Quem Mandou Matar Marielle?

Há pouco mais de dois anos e quatro meses a família de Marielle Franco continua cobrando de forma incansável a resposta das autoridades sobre o crime. O ataque ao carro da vereadora no dia 14 de março de 2018, no Estácio, Zona Norte, também terminou com a morte do motorista Anderson Gomes. Desde então, familiares das vítimas, o partido da parlamentar, o PSOL, e diversas organizações de direitos humanos lutam para que os mandantes do crime sejam identificados. 

Na medida em que as investigações avançam, indícios de uma possível relação entre agentes do Estado e o crime organizado vão surgindo. Até agora, um sargento reformado e um ex-policial militar foram presos suspeitos de efetuar os disparos contra o carro. Em junho desse ano, um bombeiro também foi preso suspeito de participação no crime. Porém, as motivações do crime e o mandante do assassinato continuam sem resposta.

Assista Abaixo a Live Elza Por Marielle:

Jaqueline Suarez é jornalista e estudante de mestrado na UFF. É também comunicadora popular e vídeo-documentarista independente. Vive na comunidade do Fallet, em Santa TeresaZona Central do Rio.


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