Da Construção dos Quilombos à Democracia: As Vozes das Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas [PODCAST]

Arte original por Natalia S. Flores
Arte original por Natalia S. Flores

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Esta matéria faz parte da série antirracista do RioOnWatch. Conheça o nosso projeto que traz conteúdos midiáticos semanais ao longo de 2021—Enraizando o Antirracismo nas Favelas: Desconstruindo Narrativas Sociais sobre Racismo no Rio de Janeiro.

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Resistir, construir e avançar são verbos que as mulheres negras carregam consigo historicamente de forma consciente ou não. Seja pela demanda cotidiana ou por ativismo político, da luta contra a escravidão em quilombos aos tempos atuais nas chamadas democracias, elas fazem a política nas ruas e nas arenas públicas em todo o Brasil, América Latina e Caribe.

É a partir dessas lentes que o podcast “Da Construção dos Quilombos à Democracia: As Vozes das Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas” constrói um mosaico de vozes formado por diferentes gerações de mulheres negras, nascidas entre as décadas de 1950 e 1990, com o objetivo de explicar não apenas as origens do dia 25 de julho, o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, mas também como mulheres negras criam estratégias de luta e resistência contra invisibilidade e o silenciamento de suas vozes pelo patriarcado e pelo racismo.

Mais do que um momento para homenagens, a data—que desde 2014 no Brasil também marca o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra—é símbolo da mobilização política das mulheres negras em diáspora nas democracias latino-americanas e caribenhas. O dia 25 de julho tem origem no 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, realizado em 1992, na República Dominicana, evento que reuniu 350 mulheres negras de 72 países.

A ação prática de mulheres negras no Brasil—em grandes articulações comunitárias para sustentar a família em periferias e favelas, em estratégias de sobrevivência ou em ações políticas ativistas e feministas—constrói diariamente a democracia brasileira. Seus corpos constroem a sociedade brasileira, ainda que em seus cotidianos elas sejam desumanizadas.

As mulheres negras são as que mais sofrem violências, as que mais morrem, mas mesmo assim têm esperança e produzem conhecimentos. Elas reivindicam principalmente o acesso à cidadania plena e à democracia.

Quem São as Vozes Exibidas no Podcast?

Rainha Tereza, como é conhecida, Tereza de Benguela, liderou o Quilombo Quariterê, em Mato Grosso. Ela representa muitas mulheres negras invisibilizadas pela história oficial. Voz ancestral que marca a memória e o dia, ela vem ganhando mais notoriedade sobre sua trajetória. Símbolo de resistência, Tereza viveu no século 18, na região do Vale do Guaporé, Mato Grosso. Vinda de uma dinastia africana, foi escravizada no Brasil e conseguiu fugir com o companheiro, José Piolho. Após a morte dele, ela se tornou líder do Quilombo Quariterê, que abrigava mais de 100 pessoas, 73 negros e 30 indígenas. O quilombo resistiu da década 1730 ao final do século. Tereza é referência até hoje para as mulheres do município de Vila Bela—onde hoje existe o grupo intergeracional de mulheres Coletivo Herdeiras do Quariterê—mas também para mulheres negras de todo o país.

Lucia Xavier, nascida em 1959, é uma das mais influentes ativistas de direitos humanos e do movimento negro no Brasil. Filha de uma empregada doméstica e de um radialista que morreu precocemente, Lucia prestou vestibular para estudar Serviço Social apesar de já preparada para cursar Direito. Em 1992, fundou a ONG Criola, dedicada a combater o racismo, o sexismo e a homofobia. De 1991 a 1997, foi assessora parlamentar na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). Ajudou a criar em 1999 o Disque Defesa Homossexual (DDH), serviço pioneiro de atendimento público a pessoas LGBTQIA+. Na III Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas de 2001, promovida pela Organização das Nações Unidas em Durban, África do Sul, foi revisora da Declaração de Durban e do seu Programa de Ação.

Daniela Gomes, nascida em 1982, é jornalista e ativista do Movimento Negro, nascida e criada na periferia de São Paulo. É professora assistente de Estudos Africanos na Universidade Estadual de San Diego, nos Estados Unidos. Com doutorado em Estudos Africanos e da Diáspora Africana pela Universidade do Texas, pesquisa o papel transformador do hip hop como ferramenta de empoderamento de jovens negros em São Paulo. Em 2016, Daniela apresentou O Poder do Hip-Hop durante o TEDx SãoPaulo, onde pôde falar sobre o seu ativismo e suas relações com o movimento hip-hop. Em 2019, ela apresentou a palestra: O Impacto do Bolsonaro no Brasil no programa Blackademics da televisão pública nacional norte-americana, PBS.

Bianca Santana tem 37 anos, é jornalista, escritora, mestra em Educação e doutora em Ciência da Informação pela Universidade de São Paulo (USP). Sua tese é sobre memória e escrita de mulheres negras. Bianca é escritora da obra Quando me descobri negra e organizadora das coletâneas Inovação Ancestral de Mulheres Negras: táticas e políticas do cotidiano, Vozes Insurgentes de Mulheres Negras: do século XVIII à primeira década do século XXI, e Recursos Educacionais Abertos: práticas colaborativas e políticas públicas. É diretora-executiva da Casa Sueli Carneiro e militante da UNEafro Brasil, movimento que compõe a Coalizão Negra Por Direitos. Colunista da ECOA-UOL e da revista Gama, também é a autora da biografia Continuo Preta: a vida de Sueli Carneiro, que discorre sobre as quatro décadas de ativismo de Sueli Carneiro, um dos nomes mais importantes da história do movimento negro do Brasil.

Anielle Franco tem 37 anos, é mestra em Jornalismo e Inglês pela Universidade dq Carolina do Norte nos EUA, graduada em Letras pela UERJ, e hoje atua como professora, escritora, palestrante, e diretora do Instituto Marielle Franco. “Irmã de Marielle com orgulho”, Anielle é também mãe de duas filhas negras e cursa mestrado em Relações Étnico-Raciais no CEFET-RJ. Em julho, lançou A Radical Imaginação Política das Mulheres Negras Brasileiras (Oralituras, 2021), livro de ensaios e discursos organizado ao lado de Ana Carolina Lourenço. Anielle também está na série documental Para Onde Vamos (2021), disponível desde o início do mês no Globoplay.

Nascida em 1984, Glaucia Marinho é jornalista formada pela PUC-RJ e mestra em Educação, Cultura e Comunicação pela UERJ. Atualmente Coordenadora de Comunicação da Justiça Global, Glaucia é ativista de direitos humanos, participando de movimentos sociais contra o racismo e pelo direito à moradia. Atuou na Frente de Luta Popular (FLP) no apoio à ocupações sem-teto autônomas organizadas na Região Portuária do Rio de Janeiro nos anos 2000. Glaucia morou na Ocupação Chiquinha Gonzaga e depois no Morro da Providência, onde atuou na luta contra as remoções no morro, na época da Copa e Olimpíadas. A partir da FLP, passou a apoiar a Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, movimento de mães e familiares de vítimas de violência do Estado.

Sabrina Martina, também conhecida como MC Martina, é rapper, poeta e produtora. Com 23 anos, a jovem já vem deixando sua marca na cena cultural do país. É a idealizadora do Slam Laje, a primeira batalha de poesia falada do Complexo do Alemão, um dos slams pioneiros dentro de favelas no estado do Rio de Janeiro. Em 2018, foi palestrante no TEDx Porto Alegre, no qual usou a poesia marginal e o rap como agentes de engajamento e transformação. Martina também é uma das fundadoras dos Poetas Favelados, coletivo que realiza “ataques poéticos” em transportes e espaços públicos pela cidade. Ela também integra o Movimentos, grupo de jovens de periferias do Rio que discute e acredita em uma nova política de drogas.

Sobre a autora: Tatiana Lima é jornalista e comunicadora popular de coração. Feminista negra, integrante do Grupo de Pesquisa Pesquisadores em Movimento do Complexo do Alemão, atua como repórter e gerenciadora de Redes do RioOnWatch. Cria de favela, negra de pele clara, mora no asfalto periférico do subúrbio do Rio e é doutoranda em comunicação pela UFF.

Sobre a artista: Natalia de Souza Flores é cria da Zona Norte e integrante das Brabas Crew. Formada em Design Gráfico pela Unigranrio em 2017, trabalha como designer desde 2015. Lançou a revista em quadrinhos coletiva ‘Tá no Gibi’, em 2017 na Bienal do Livro. Sua temática principal é afro usando elementos cyberpunk, wica e indígena.

Colaboradores com a narração:

Jaqueline Suarez, jornalista, é repórter, gerente de impactos e coordenadora de podcasts do RioOnWatch. Jaqueline é cria do Morro do Fallet, e colaborou com locução e edição deste episódio.

Letycia Nascimento é mestra em Mídia e Cotidiano pela UFF e jornalista pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Cria da Zona Oeste do Rio de Janeiro, faz doutorado em Mídia e Cotidiano com pesquisa nas áreas de comunicação cidadã, digital e etnomídia indígena. Ela participa deste episódio de podcast narrando o discurso “Não sou uma mulher?”, de Sojourner Truth.

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