Um dos requisitos mais importantes para a construção de estilos de vida ativos é o acesso a locais adequados para a atividade. Portanto, espera-se que a cidade do Rio de Janeiro, sede dos próximos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, apresente infra-estrutura adequada que possa incentivar a adoção e manutenção do hábito de se exercitar. No entanto, isso não foi exatamente o que o Professor MSc. Marcelo Carvalho Vieira, do Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, encontrou ao visitar 38 locais públicos em 26 bairros de toda a cidade, como parte de sua pesquisa de pós-graduação em Promoção de Espaços Saudáveis e Sustentáveis da Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz.
O estudo, intitulado “Análise da adequação de espaços públicos à prática de atividade física no município do Rio de Janeiro”, teve como objetivo avaliar as características físicas dos espaços destinados a esportes, atividade física e lazer, relacionando-as com os indicadores socioeconômicos dos bairros onde estes espaços estão localizados. Três importantes atributos do ambiente, que estão relacionados à atividade física, foram medidos: 1) a disponibilidade de equipamentos adequados; 2) a infraestrutura de apoio; e 3) os elementos que inibem o uso do espaço.
A maioria dos espaços públicos visitados, embora apresentando equipamentos para a prática de exercício físico, carecem de
uma série de atributos importantes. Calçadas com rachaduras e superfícies irregulares, inadequadas para caminhar ou correr, falta de bicicletários, manutenção deficiente de campos e quadras esportivos, ausência de banheiros e bebedouros e presença de lixo são alguns exemplos de problemas relacionados com a manutenção do ambiente encontrados neste estudo que podem afetar negativamente a sua utilização para a atividade física.
No entanto, segundo o professor de educação física Marcelo Carvalho Vieira, o achado mais interessante foi a relação inversa entre a qualidade do espaço público e o nível socioeconômico do bairro onde este espaço está localizado. Embora as praças estejam igualmente distribuídas e equipadas, a pesquisa constatou que aquelas com melhores instalações e menos problemas estão concentradas nos bairros de melhor nível socioeconômico, como aqueles na Zona Sul da cidade, bem como Tijuca, Grajaú e Méier, na Zona Norte. Portanto, os moradores das regiões mais pobres (como Cocotá e Portuguesa, na Ilha do Governador, os subúrbios e a Zona Norte e Oeste da cidade, como Madureira, Penha, Jacarepaguá e Campo Grande) têm a sua disposição espaços de menor qualidade, fato que, como demonstrado em pesquisas anteriores, diminui a frequência de atividade física. Não é surpresa então que dados do Ministério da Saúde mostram que esta é a população que apresenta menores níveis de atividade física.
Deste modo, o estudo constatou que os espaços públicos voltados para a prática da atividade física e esportiva em toda a
cidade não têm uma série de atributos importantes para realmente incentivar e promover tais práticas, muitas vezes devido à falta de manutenção. Esta situação é ainda mais crítica nos bairros com menores níveis de desenvolvimento socioeconômico. Portanto, se o incentivo à participação em esportes e atividade física deve ser um importante legado social dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, é essencial que sejam criadas e aplicadas políticas públicas com foco no ambiente construído e em sua manutenção, especialmente nas áreas de maior vulnerabilidade social. Afinal de contas, o documento oficial de candidatura para os Jogos de 2016 cita muitas vezes o entusiasmo do povo do Rio de Janeiro em relação ao esporte e à atividade física. Agora é o momento para as autoridades públicas proporcionarem espaços adequados para que as pessoas possam realmente exercer essa paixão.