A Rede Favela Sustentável (RFS)* acaba de lançar o mais atualizado Mapa da Rede Favela Sustentável. O estudo foi apresentado aos integrantes da Rede na sua última plenária de 2021, que contou com 79 participantes de favelas de toda a Grande Rio.
A Rede Favela Sustentável reúne coletivos de favela instalando painéis solares, construindo biossistemas de tratamento de esgoto ecológico e descentralizados, implementando tetos verdes e hortas comunitárias, fortalecendo o pertencimento através de museus comunitários e iniciativas que atuam na garantia e perpetuação da memória, coletando os próprios dados de saúde pública para incidir politicamente, e muito mais.
Unidos sob a perspectiva das favelas como fontes de soluções e de sustentabilidade, os integrantes da Rede Favela Sustentável enfrentam diariamente os desafios da negligência do Estado. Atualmente são 195 integrantes lideranças de 127 favelas fluminenses, 70% negras/indígenas e 66% mulheres. A RFS conta também com 232 aliados técnicos e voluntários de diversas instituições e movimentos.
Em relação ao novo mapa, o número de iniciativas inclusas são 120, localizadas em 183 favelas da Grande Rio, com alguns projetos atuantes em duas ou mais favelas. Em 2021 a RFS se reorganizou sobre onze objetivos temáticos: justiça climática, educação socioambiental, políticas participativas, cultura e memória local, soberania alimentar, saúde coletiva, economia solidária, saneamento básico, justiça energética, transporte justo e moradia sustentável. Todas suas futuras ações dialogarão com estes temas transversais. Em 2022 a Rede estará realizando um grande projeto vislumbrando a justiça climática, repleto de mutirões, capacitações, campanha de comunicação e realização de sistemas descentralizados de infraestrutura solar e verde.
A Importância do Mapeamento de Soluções Comunitárias
Com ou sem políticas públicas eficientes, o Desenvolvimento Comunitário com Base em Ativos (DCBA), empregado pela Rede Favela Sustentável, vem crescendo mundialmente como uma estratégia de desenvolvimento urbano e comunitário mais eficaz do que as alternativas históricas. Em linhas gerais, ele foca nos talentos das comunidades, no potencial das pessoas, projetos e territórios, buscando a identificação de oportunidades e investimentos no desenvolvimento comunitário.
Com base no DCBA, em 2017, a RFS lançou a primeira edição do Mapa da Rede Favela Sustentável. Já o novo mapa conta com uma plataforma mais interativa, com a possibilidade de pesquisa, calculadora e filtros.
É possível, por exemplo, fazer uma busca precisa pelos projetos da RFS liderados por mulheres, com mão de obra 100% voluntária e focado em um Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) específico, ou um eixo temático específico da RFS, ou que atuaram durante a pandemia:
A produção de um mapa é uma das maneiras mais eficazes e práticas de apresentar iniciativas que estão agindo em uma região, neste caso na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Questões Técnicas do Mapeamento de Favelas
O mapa original da Rede Favela Sustentável era disponível no Google Maps, por ser intuitivo e de fácil acesso. Já a mais nova versão está hospedada na plataforma ArcGIS Online, o que possibilita maior interatividade e uma busca mais refinada, complexa e rápida. O técnico aliado da RFS responsável por coordenar o processo de mapeamento, Guillermo Douglass-Jaimes, professor de Programa de Análise Ambiental, no Pomona College, em Los Angeles, EUA, acrescenta que essa plataforma é diversa, foge de estereótipos tradicionais de mapas virtuais e proporciona uma melhor experiência ao usuário:
“Nos perguntamos como seria ter ferramentas mais sofisticadas, que pudéssemos entender melhor as relações da Rede. Sabemos que cada ferramenta tem sua limitação. Para o Mapa da Rede Favela Sustentável foi muito bom mostrar uma tabela de informações de cada grupo, o que eles fazem, redes sociais… Foi [importante destacar] que não existe só violência nas favelas, como os mapas tradicionais [mostram ao classificá-las] como ‘área de risco’. O nosso mapa mostra a importância das pessoas que fazem parte desses territórios. Buscamos usar as ferramentas do mapeamento para refletir a realidade dos moradores das comunidades, dos membros da Rede… o Mapa existe para conectar as pessoas.”
Um desafio encontrado pela equipe do mapeamento em todas suas edições foi como lidar com a falta de endereço reconhecido pelos mapas oficiais, ou Código de Endereçamento Postal (CEP), em alguns locais. A solução encontrada tem sido o envio das localizações dos projetos pelo WhatsApp para prover coordenadas precisas de suas iniciativas a serem usadas no mapa. Essas localizações, entre todos os dados que seriam publicados no mapa, foram enviados posteriormente às lideranças dos projetos para confirmação. Foi assim que conseguiram garantir a precisão da geolocalização das iniciativas mapeadas.
Iniciativas Sustentáveis e Resilientes
Liderada por Irenaldo Honorio da Silva, a Escola de Futebol Pica-Pau F.C tem a missão de formar jovens cidadãos através do futebol. Com cerca de quatro anos de funcionamento, está localizada na favela Beira Pica-Pau, em Cordovil, na Zona Norte. Irenaldo lembrou de sua participação na construção do mapa:
“Foi de grande importância participar do Mapa da Rede Favela Sustentável, pois nos dá mais visibilidade com a divulgação. É onde se encontram os projetos e principalmente o que desenvolvemos em nossas comunidades… A minha visão é que conseguimos mais parcerias para que possamos desenvolver melhor os projetos, pois a grande maioria não tem ajuda dos governantes.”
Assim como Irenaldo, durante a pesquisa para o mapa e inúmeras reuniões, integrantes da RFS mencionaram a importância da atuação em rede perante a ausência efetiva do Estado. Segundo a pesquisa, os quatro eixos temáticos mais atendidos pelos projetos mapeados são soberania alimentar (47 projetos), educação socioambiental (44 projetos), cultura e memória local (40 projetos) e direito ao saneamento (38 projetos). Já com relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, os ODS’ mais trabalhados pelos projetos são: erradicação da pobreza ou ODS 1 (92 projetos), fome zero e agricultura sustentável ou ODS 2 (45 projetos), saúde e bem-estar ou ODS 3 (36 projetos), e redução das desigualdade ou ODS 10 (35 projetos).
Se você deseja fazer parte da Rede Favela Sustentável, seja como mobilizador comunitário ou aliado técnico, preencha o formulário de inscrição e participe das ações da Rede.
Veja todas as fotos dos projetos inclusos no Mapa da Rede Favela Sustentável (ou clique aqui):
*A Rede Favela Sustentável (RFS) e o RioOnWatch são projetos da Comunidades Catalisadoras.
Sobre a autora: Beatriz Carvalho, cria de Vilar dos Teles em São João de Meriti, é jornalista, mídia-ativista, feminista, toca o Mulheres de Frente e atualmente é repórter da Rede Favela Sustentável.